As faíscas a saltarem da traseira dos monolugares, num efeito visual ampliado por se tratar de uma corrida nocturna, foi dos elementos que mais contribuíram para o grande espectáculo que foi o G.P. do Bahrain.
Os fãs da F1 já tinham saudades daquelas imagens sempre espectaculares mas ausentes da F1 há cerca de 20 anos. Até Button, que não correu, confessou ter adorado as imagens, escrevendo no Twitter «adorei as faíscas a sair dos carros». Também a Williams «tweetou», no final da corrida, enquanto o fogo-de-artifício estalava sobre o circuito, «Faíscas no céu e na pista! Gostámos!».
E porque libertam os carros deste ano tantas faíscas? A ideia terá partido da Mercedes, no final do ano passado, de forma a recuperar o factor «show», acabando numa imposição da FIA, em trocar o material das extremidades da placa longitudinal obrigatória no fundo dos carros, do habitual tungsténio para titânio, como usavam os monolugares dos finais dos anos 80 e 90.
Estas placas de madeira sob o fundo plano do carro são imposição regulamentar com mais de duas décadas, servindo para os tornar mais seguros por impedir as equipas de ganharem vantagem com configurações demasiado extremas. As placas de titânio, nos extremos da de madeira, ao raspar nos ressaltos da pista, provocam as grandes faíscas que quase iluminaram a noite do Bahrain. Em especial na fase inicial da corrida, quando os carros, já de si afinados com baixíssima altura ao solo, estão carregados com 100 kg de gasolina.
Há também quem comente que esta troca de materiais foi «dirigida» à Red Bull que, por artifícios aerodinâmicos, conseguia que o seu carro rodasse muito mais próximo do solo (melhor para a aerodinâmica e estabilidade) porque a placa metálica na traseira do carro impedia que a de madeira se desgastasse acima do permitido. Mas agora, com o titânio, metal mais suave e exposto a desgaste, a Red Bull já não poderia adoptar as mesmas configurações…
Também no final dos anos 80 e início dos 90 as equipas usaram dispositivos semelhantes, antes de a FIA obrigar à troca por placas em madeira, «apagando» as faíscas. À BBC, o ex-campeão do Mundo britânico Nigel Mansell recordou divertido os tempos em que os F1 soltavam faíscas. «Eram óptimas porque distraíam imenso o piloto que nos seguia!».
E contou: «Nos treinos livres procurava ressaltos, mesmo fora das trajectórias, que pudesse usar na corrida se tivesse alguém atrás de mim. As trajectórias diferentes não me tornavam muito mais lento, mas sabia que provocariam uma ‘chuva’ de fagulhas ao tipo que vinha atrás e, de preferência, marcar-lhe a viseira do capacete. Porque faziam, de facto, pequenas queimaduras na viseira».
É natural que nas corridas diurnas essas faíscas não sejam tão visíveis mas esse elemento de «show» visual está de volta para enriquecer o espectáculo da Fórmula 1.