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As histórias dos 93 anos de história do Monza Autodrome!

Estava um dia chuvoso em Monza, nos arredores de Milão, faz hoje, 3 de Setembro, precisamente 93 anos, quando o Monza Autodrome foi oficialmente inaugurado. Uma obra esplendorosa, construída em tempo recorde e que, em 1922, era apenas o terceiro autódromo permanente em todo o Mundo, a seguir ao britânico de Brooklands (1907) e ao norte-americano de Indianápolis (1909).

A ideia da sua construção aparecera em Janeiro desse ano, para comemorar os 25 anos do Milan Automobile Club e, de certa forma, para fazer face ao prestígio de que os congéneres franceses já gozavam no meio automóvel. O local escolhido foi o frondoso Parque Nazionale di Monza, doado poucos anos antes pelo rei de Itália ao Estado, e a ideia era, mais até que a competição, servir de pista permanente de testes e experiências para os construtores italianos de automóveis que se multiplicavam.

Foram dois pilotos famosos, Vincenzo Lancia e Felice Nazzaro, que colocaram a primeira pedra do que seria o Monza Autodrome no final de Fevereiro, mas as obras logo tiveram de parar por razões monumentais e de conservação da paisagem. O equivalente aos argumentos ecologistas que tantas vezes têm colidido com planos de actualização da pista… No final, o superior interesse do autódromo prevaleceu e a construção avançou, a contra-relógio!

Foram mobilizados 3500 trabalhadores que contaram com o auxílio de 200 carroças puxadas por cavalos, 30 camiões e uma pequena linha de caminho-de-ferro de 5 km em que duas locomotivas a vapor puxavam 80 vagões para permitir o mais rápido movimento de terras. A verdade é que o «templo da velocidade» nasceu logo… a fundo! Em apenas 110 dias o circuito estava feito, composto na verdade por duas pistas com piso em macadame (o asfalto viria bastante mais tarde): uma oval com duas curvas inclinadas de 4,5 km; e um traçado «normal» com 5,5 km. Ambos se podiam ligar, originando assim uma pista de 10 km.

Aí foi realizado, a 10 de Setembro de 1922, o 2.º Grande Prémio de Itália, o que causou uma briga feia com os homens de Brescia que tinham levado a cabo a primeira edição, além de serem os organizadores das lendárias Mille Miglia. De tal forma que só este ano a «zanga» ficou sanada: pela primeira vez, as Mille Miglia – agora uma prova de Clássicos – passou pela cidade de Monza e visitou o circuito, com passagem até pela pista oval!

Em 1955, procurando criar condições para explorar ao máximo as «performances» dos F1, Monza sofreu profundas obras de remodelação, em especial o anel de velocidade, cujas curvas foram reconstruídas, nascendo a chamada versão «Spraelevata», em que a inclinação se tornou muitíssimo maior, atingindo no topo os 80%! O comprimento do anel de velocidade baixou para 4,25 km, mas o circuito cresceu, continuando o conjunto nos 10 km, com as duas rectas lado-a-lado.

Nesta versão, em que os carros chegavam a correr lado-a-lado, na recta da meta e na recta do anel de velocidade, separados apenas por uns cones (!), correram-se os G.P. de Itália de 1955, 56, 60 e 61. Neste último, um ligeiro toque de Jim Clark levou o Ferrari de Wolfgang von Trips a despistar-se antes da curva Parabolica, matando 13 pessoas, além do piloto. A tragédia colocou um ponto final no circuito grande e, aos poucos, o anel de velocidade foi sendo abandonado. Em 1969, os 1000 km de Monza foi a última prova de um Campeonato do Mundo ali realizada.

A «Sopraelevata» ficou ao abandono durante décadas, com a normal decadência e deterioração. E esteve para ser demolida quando, no final dos anos 90, apareceu um movimento na defesa do que foi considerado um monumento que deveria ser preservado! A verdade é que se conseguiu a recuperação do anel de velocidade que passou a ser uma atracção turística e centro de alguns eventos.

A caminhar a passos largos para o seu centenário, a «Pista Mágica», como é conhecida por tantos italianos, continua encantadora, cheia de mistérios e de charme, um desafio permanente à coragem dos pilotos, o autêntico templo da velocidade!


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.