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3 memórias de Ayrton Senna (parte I): a vitória no Estoril-85

Ayrton Senna da Silva comemoraria hoje o seu 55.º aniversário, se não tivesse sido aquele fim-de-semana maldito de Imola-94, em que todos os deuses se zangaram com a Fórmula 1… Tive a sorte de poder privar, em termos profissionais, com o enorme piloto brasileiro e aqui recupero, em jeito de homenagem, os três episódios que imediatamente me vêm à cabeça de cada vez que ouço o seu nome.

Abril de 1985, uma manhã de quarta-feira no aeroporto da Portela, espero a saída do brasileiro, passageiro do voo Varig 762. Naquela altura, em que a F1 ainda era novidade em Portugal (era o 2.º Grande Prémio da «era moderna») ainda era hábito ir esperar os pilotos mais importantes ao aeroporto para ter logo umas primeiras palavras. Para mais, o trissemanário «A Bola» saía à 5.ª feira, era bom arrancar com a reportagem da F1 logo com declarações da nova estrela em ascensão! Mas com tantos jornalistas à espera, era quase impossível ter uma conversa mais prolongada e consegui combinar com Senna um encontro para a tarde, já no autódromo do Estoril.

Despachados os cumprimentos a engenheiros, mecânicos e demais elementos da equipa Lotus, sentámo-nos junto do muro das «boxes» e, durante largos minutos, sem pressas, Senna foi respondendo a tudo o que lhe perguntava. Sentia o olhar desconfiado do brasileiro, ao ver que apenas tomava notas num daqueles grandes blocos «Castelo», mas falámos tranquilamente o tempo que foi necessário. Outros tempos, sem a pressão mediática actual…

No dia seguinte, reencontrámo-nos no autódromo logo pela manhã e ele, sorridente, agradeceu «o bom trabalho». Já tinha visto, obviamente, a página inteira de «A Bola» (ainda no formato… gigante!), encimada pelo título «Quando vou a 300 km/h só penso em ir mais e mais rápido!» e com tudo o que ele tinha dito, direitinho, por muito estranho que lhe tivesse parecido o esquema das notas no bloco «Castelo»… Desde esse dia que se criou uma relação de respeito mútuo, óbvio do meu lado pelo piloto que ele era, mas também da parte dele que sempre me «atendeu» com a máxima paciência e atenção.

Depois, viria a «pole» e a sua primeira vitória na Fórmula 1 (fará 30 anos a 21 de Abril), sob um dilúvio imenso, em que demonstrou um controlo superior do Lotus, numa prova com metade dos 16 abandonos por piões ou acidentes. E em que Senna deixou o 2.º a mais de um minuto, os 3.º e 4.º a 1 volta e o 5.º (Nigel Mansell num Williams/Honda) a 2 voltas! Apesar de muitas vezes ter pedido para que a corrida fosse parada, Senna nunca «tirou pé» e, sob condições dantescas, levou o Lotus/Renault à vitória e a crença popular ao ponto de perceber que estávamos perante alguém muito especial.

Entrou totalmente encharcado na sala das conferências de imprensa, trocámos sorrisos quase cúmplices pela entrevista que, agora, parecia um talismã e, durante um ror de tempo, ali o vi literalmente a bater o queixo e a tiritar de frio, mas a explicar com toda a tranquilidade como fora a sua primeira vitória. Porque muitas mais se seguiriam…


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.