Agora que estamos a apenas duas corridas do final do Mundial de F1 deste ano e mais nenhum motor irá sofrer evoluções, fica uma questão intrigante: tendo os quatro construtores de grupos propulsores iniciado esta temporada com 32 «fichas de desenvolvimento», porque será que só a Renault deixou a maioria (56%) por usar?! Parece não fazer sentido, quando a marca francesa tinha tanto que fazer para apanhar a Mercedes, mas Rémi Taffin, responsável técnico dos motores na Renault Sport F1, consegue uma explicação lógica
Antes, porém… a contabilidade: a Ferrari foi quem mais evoluções introduziu no seu grupo propulsor, tendo esgotado as «fichas» há já algumas corridas; a Honda, sem surpresas, também teve de melhorar muito o seu V6 turbo híbrido, sobrando-lhe apenas 2, depois da evolução estreada na Malásia; a Mercedes levou a última versão do seu motor para a Bélgica e ficou com 6 «fichas» que já não irá gastar; e, quanto à Renault, guardou… 18 em 32 que não aproveitará!
E, no entanto, notaram-se evoluções no motor francês, ainda na corrida do G.P. do México. Há alguns meses nunca o Red Bull – onde o motor Renault se chama TAG/Heuer… – teria sido capaz de acompanhar um Mercedes na longa recta de 1200 metros, mas vimos Verstappen a pressionar Rosberg. E até a equipa oficial melhorou as suas prestações nestas últimas provas e não terá sido por grandes melhorias num chassis que já não tem por onde evoluir mais…
Que estratégia tão estranha e que gestão tão incompreensível foi esta, por parte da Renault? Segundo Rémi Taffin, a explicação deve ser feita em três partes. E a primeira passa por dizer que a Renault, na verdade, gastou 28 e não 14 «fichas» no motor deste ano… «Convém recordar que, no final de 2015, usámos 14 ‘fichas’ tendo já em vista a época de 2016. E que, no início do ano, usámos mais 11. Ou seja, para o motor deste ano utilizámos 25 ‘fichas’». A que se juntaram mais 3 na evolução estreada no G.P. do Mónaco.
A segunda parte da explicação: «Embora o trabalho de estudos e desenvolvimento tenha prosseguido, já não havia razão para andar a investir mais ‘fichas’, já que esse sistema irá desaparecer no próximo ano». De facto, em 2017 os construtores de motores voltarão a ter toda a liberdade de evolução ao longo da época, desaparecendo este tenebroso sistema! Que, pretendendo controlar os custos, era impenetrável para a maioria das pessoas, além de impedir o nivelamento entre motores. E a evolução dos motores estará sempre limitada pelo número máximo de unidades que cada piloto pode usar (sem penalização) em cada temporada…
Por fim, Rémi Taffin adianta aquela que será, talvez, a razão mais importante para terem ficado tantos «jokers» por gastar este ano: «Tendo em conta a importância do novo regulamento, a nível da aerodinâmica e da influência dos novos pneus, e dadas as suas consequências (onde se inclui obviamente o motor) decidimos virar muito cedo todo o foco do nosso programa de desenvolvimento para o próximo ano, com toda a liberdade que teremos».
Ou seja, tendo percebido muito cedo que a Red Bull não conseguiria lutar pelo título com a Mercedes e que o chassis da equipa oficial limitaria sempre qualquer «super motor» que lá fosse montado, a Renault apostou fortemente na próxima temporada. Quando, com um importante «reset regulamentar», há uma oportunidade de ouro de nivelar ou até baralhar o equilíbrio de forças da Fórmula 1. E, atendendo à forma como a Red Bull terminou a época, já bem em cima dos Mercedes, a estratégia agora explicada parece fazer, de facto, todo o sentido.