Antes do regresso de férias e da chegada à Bélgica para o recomeço das «hostilidades», Lewis Hamilton concedeu uma curiosa entrevista à jornalista Kate Walker (motorsport.com) com diversas declarações que merecem ser reproduzidas, pela invulgaridade, pelo alcance que têm na explicação do seu crescimento como piloto e por irem muito além daquelas banalidades habitualmente ditas.
O campeão do Mundo diz estar a viver os melhores anos da sua vida desde que se tornou trintão e reflecte sobre o que têm sido estes anos e o que foi a sua evolução. E percebeu que a sua força e maturidade actuais vêm também da compreensão dos problemas dos outros, nomeadamente do seu irmão mais novo, Nicolas, que nasceu com diplegia espástica, uma forma de paralisia cerebral que lhe afecta o controlo muscular e os movimentos.
Uma brilhante entrevista que, em parte, se tornou num longo monólogo… «Por um lado, esta maturidade que sinto é uma consequência do meu crescimento, da própria idade, mas também de perceber a luta das outras pessoas com os seus problemas». Como o seu irmão Nicolas: «Vê-lo crescer, jogar futebol ou basquetebol… Para mim é fácil jogar à bola, mas ele pode tropeçar ou cair. É fácil fazer as coisas melhor que ele porque, obviamente, ele não consegue mexer bem as pernas. Ele caía mas levantava-se sempre e nunca o ouvi queixar-se, nunca se lamenta de não me conseguir tirar a bola. Apenas vai tentando de novo e cada vez com mais vontade. Suponho que estas experiências te sirvam para a vida».
«Também creio estar num momento da minha vida em que as prioridades se vão alterando. Percebemos o que é realmente importante e não ficamos presos a coisas que o não são. E à medida que vou evoluindo, essas prioridades serão cada vez mais claras do que imaginava. Tenho amigos que me dizem que quando se tem filhos isso volta a mudar tudo de novo, mas agora estou numa fase de transição e não me bloqueio nos momentos difíceis, ultrapasso-os e supero-os rapidamente».
São vários os pilotos que reconhecem a importância de um apoio psicológico. Massa assumiu que foi fundamental para o seu regresso, após o acidente de 1999, Grosjean contou que sem essa ajuda não teria evoluído daquele «enfant terrible» dos arranques… Mas Hamilton diz preferir agir de outra forma: «Não falo com psicólogos, não falo com ninguém. Geralmente tento crescer por mim próprio. Em geral, todos somos grandes dentro de nós próprios mas, por vezes deixamos que muitas coisas se interponham no nosso caminho e perdemos o rumo: dizemos coisas incorrectas, pensamos coisas erradas e saímos do caminho».
Dizendo estar hoje a encarar de forma muito mais positiva tudo o que lhe acontece, mesmo os maus momentos, Hamilton prosseguiu: «É estranho como funciona a vida, como há momentos em que tropeças e passas por uma montanha-russa emocional, mas como, de alguma forma, um desportista tem de manter a mente sempre em jogo e fortalecer-se através de todas essas experiências».
Uma série de reflexões que servem, acima de tudo, para mostrar um Lewis Hamilton em plena fase de maturação, de entrada na fase adulta que o próprio reconhece e que liga assumidamente ao processo natural de «envelhecimento», usando-se aqui a expressão apenas como definição de «soma de anos»: «Creio que no ano passado, ao fazer 30 anos, comecei os melhores anos da minha vida. Pelo menos é o que se diz, não? Mas, de facto, os meus 30 anos têm sido, até agora, os melhores: realmente tenho desfrutado ao máximo e acho que tem tudo a ver com a maturidade e com o saber o que quero».
E dá um exemplo curioso de… «velhote»: «Na maior parte do tempo estou rodeado de gente mais nova que eu, já é habitual eu ser o mais velho. E agora estou finalmente nessa posição de olhar para tipos que têm 25 anos ou menos e passar-lhes alguma sabedoria. Nunca tinha estado nessa situação, ‘tenho mais seis anos que tu e foi isto que aprendi nesses seis anos, ainda vais ter de aprender mas não te preocupes com isso’. Esse tipo de coisas, uma loucura! Acho que estou no fim dessa subida, a chegar ao topo, só espero que a descida não seja muito pronunciada…». Calma Lewis, depois dos 30 ainda há tanto para aprender!!