Ross Brawn recusou o convite da Ferrari para ser conselheiro da Scuderia, mesmo não tendo de seguir a equipa nos Grandes Prémios e podendo estabelecer o seu próprio ritmo de trabalho… Definitivamente, Brawn não está interessado em voltar à Fórmula 1. Mas teve o cuidado de deixar alguns recados à Ferrari.
«Eles têm gente muito boa, o James [Allison] é excelente se lhe derem os recursos e o tempo necessário, se lhe puserem as infraestruturas à volta e grandes pilotos, ele atingirá o sucesso», referiu Brawn à cadeia de televisão «Sky». «Mas não podem reagir a quente e ir atrás dos que os ‘media’ dizem, é muito fácil isso acontecer e aí perde-se toda a organização e planeamento. É importante que a Ferrari perceba o que tem ainda a fazer mas que o faça de forma progressiva e tranquila».
Brawn recorda mesmo os anos de ouro que passou na Ferrari com Schumacher e revê algo semelhante a passar-se com Vettel: «Desastroso era se o ‘Seb’ começasse a criticar a equipa em público. Mas se há algo em que ele é muito semelhante ao Michael é na forma como trabalha internamente. Defende a equipa, não critica abertamente nem faz ondas, tem a abordagem correcta».
O problema dos conselhos de Brawn é que há uma premissa que não se aplica: a continuação de James Allison parece fora de hipótese! O director-técnico britânico está de saída da Scuderia para regressar a Inglaterra – a «Gazzetta dello Sport» dá o divórcio como consumado – porque as relações dentro da equipa já não serão as melhores. Mas, acima de tudo, porque Allison tem cada vez mais dificuldades em estar muito tempo em Itália, depois da tragédia pessoal por que passou, com a morte subida da mulher após o G.P. do Bahrain, desejando agora estar em Inglaterra, mais próximo dos três filhos (fala-se que poderá ingressar na Renault).
Estes contratempos poderão ajudar a explicar a evidente desaceleração no desenvolvimento do SF16-H, a perder «gás» em relação ao Red Bull. Até porque Simone Resta, teoricamente o director-técnico no lugar de Allison, já está muito concentrado no projecto do carro de 2017.
James Key, responsável pelo excelente projecto do Toro Rosso deste ano, chegou a ser ponderado para uma contratação por parte da Scuderia, agora que o presidente da Ferrari, Sergio Marchionne, passou a tomar conta de todas as operações. O engenheiro britânico parece, no entanto, mais interessado em continuar ligado à Red Bull, com quem tem contrato.
Assim, a Ferrari vê-se agora numa encruzilhada, sem um responsável técnico que lhe permita o «forcing» necessário para evoluir o carro deste ano que lhe permita perseguir a vitória que lhe vai faltando. E, por outro lado, há um vazio também na estrutura para a próxima época, altura em que, com a alteração de regulamentos, um projecto bem-nascido será fundamental para marcar uma posição na luta pelo título.
Agora, Marchionne entrou decididamente em cena, querendo saber rigorosamente tudo antes de qualquer tomada de decisão. Das outras vezes que a Scuderia funcionou assim, tirando os primeiros tempos do «Commendatore», as coisas não correram particularmente bem… Mas agora há uma outra urgência: o contrato de Vettel termina no final do próximo ano. E para o alemão renovar é bom que lhe entreguem um carro com que seja capaz de lutar pelo título!