Estamos a dez dias de os monolugares de Fórmula 1 começarem a rodar em Monza, a pista mais veloz do Mundial, e os pilotos precisam de ter certezas absolutas quanto à qualidade dos pneus de que irão dispor. Em especial numa das mais exigentes curvas de todo o campeonato, a longa e rapidíssima Parabolica de entrada na recta da meta!
É isso que a Pirelli procura agora, «a todo o gás», com a análise dos pneus levados da Bélgica, em especial os danificados por rebentamento no Mercedes de Rosberg e no Ferrari de Vettel. Mesmo sabendo-se que, no G.P. de Itália, as misturas a usar serão as média e dura, ou seja, um grau acima na durabilidade. De qualquer forma, foi um pneu de borracha média que rebentou no carro de Vettel…
A Pirelli falou de imediato em desgaste exagerado, mesmo tendo o pneu feito 28 voltas quando a marca estabelecera como limite as 40 voltas. Uma referência que não contava com «tratos de polé» como constantes passagens sobre os correctores – veja-se a imagem da transmissão televisiva, fracções de segundo antes do rebentamento do pneu de Vettel –, totalmente para lá dos limites da pista e a que, estranhamente, os comissários desportivos, sempre tão zelosos, mostraram total tolerância… Ou seja, quando Vettel dizia no final da corrida que nunca tinha andado por fora da pista, pelo menos no Raidillon terá passado mais de 20 vezes da forma que se vê na foto…
A Pirelli chegou mesmo a apontar o dedo às equipas, lembrando que estas tinham recusado uma proposta sua, feita em 2013, para limitar o número de voltas de cada tipo de pneu, a 50% do tipo mais duro e 30% do mais macio, o que obrigaria sempre, no mínimo, a duas paragens por corrida. Ora a Ferrari percebeu que só se parasse uma única vez conseguiria chegar ao pódio. Seria uma tarefa difícil: Vettel teria de fazer 210 km com os pneus médios, quando o máximo, este ano, com aqueles pneus, foram os 172 km de Massa no Bahrain ou os 212 km de um muito mais lento Manor, em Silverstone… Mas o director da Ferrari, Arrivabene, salientou que a decisão foi tomada com a concordância de um engenheiro da Pirelli, presente na reunião de estratégia, antes da corrida!
Daí a revolta de Vettel quando saiu do carro, primeiro com o director desportivo da Pirelli («os vossos pneus são uma catástrofe!») e depois com declarações fortes que… até dividiram o «paddock»: Lauda, por exemplo, achou que o alemão foi longe demais nas suas palavras; Coulthard defendeu-o pela sua experiência. Além de Vettel saber do que estava a falar, a sua opinião estava suportada por dados da equipa que, pela telemetria (pressão e temperatura), não vira qualquer tipo de desgaste anormal do pneu. Nas últimas voltas o alemão estava a rodar apenas 0,7 s mais lento por volta, o que mostra um desgaste perfeitamente normal. Aliás, o gráfico dos seus tempos por volta mostrar uma constância quase absoluta – os dois picos são a sua paragem nas «boxes» e uma volta de «safety car» virtual pelo abandono de Ricciardo.
A tese da Ferrari que refuta o desgaste exagerado provocado por uma estratégia que a Pirelli considerou arriscada é até apoiada por elementos de outras equipas. Andy Green, director-técnico da Force India, é muito claro: «Quando a borracha é usada mais de 30%, os tempos por volta sobem 2 a 3 segundos e a temperatura do pneu baixa de 140 para 110 ºC. É como estar a guiar no gelo, não se vai a lado nenhum quando o desgaste está num ponto crítico, tem mesmo de se ir à ‘box’». Ora Vettel até se estava a defender bem de Grosjean, ao ponto de o francês reconhecer que não tinha a certeza se o conseguiria passar.
Então, em que ficamos? O desgaste defendido pela Pirelli ou um problema estrutural do pneu como deixou subentendido Vettel que procurou ligar o seu incidente ao de Rosberg, facto logo desmentido pela Pirelli: o rebentamento do pneu do Mercedes deveu-se a um corte e uma fonte da marca revelou que foram detectados pequenos cortes noutros pneus de outras equipas que, felizmente não chegaram a dar maiores problemas.
Estava-se neste debate quando… apareceu uma terceira via: uma foto publicada na revista germânica «Auto Motor und Sport» mostra o pneu traseiro do Ferrari de Vettel, à saída da rapidíssima curva do Raidillon, com umas estranhas deformações. Seriam os efeitos sobre o pneu das chamadas ondas estacionárias e que deformariam o pneu levando, em última análise, à quebra da sua estrutura ao fim de uma utilização mais intensa. Foi este fenómeno que levou a Michelin a desaconselhar os carros que equipava a correr o famoso G.P. dos Estados Unidos de 2005, em que só alinharam os seis carros com pneus Bridgestone e que acabou com Tiago Monteiro no pódio.
Seja qual for o problema, haja ou não correlação entre os dois casos, os pilotos ficaram alarmados com o sucedido e preocupados porque vem aí uma pista de altíssima velocidade. É, por isso, urgente que parem de imediato os jogos do «empurra» e as trocas de culpa e que Pirelli, Ferrari e FIA (e demais interessados) analisem correctamente o que se passou e anunciem conclusões claras e inequívocas. Porque ninguém pode exigir a seres humanos que discutam posições muito acima dos 300 km/h desconfiando se os pneus aguentam ou não o esforço que lhes é exigido!