É a discussão do momento e os tablóides britânicos – justiça seja feita, também pouco interessados em glorificar Rosberg… – apressaram-se a crucificar Lewis Hamilton depois da corrida de domingo: despedido, suspenso, na melhor das hipóteses fortemente multado pela Mercedes por ter desobedecido às ordens da equipa para andar mais depressa. Quando era óbvio que o podia fazer… mas pessoalmente não lhe interessava.
Um «dramalhão», uma tempestade num copo de água por se ter tratado, afinal, de uma forma perfeitamente legítima de Hamilton procurar atingir os seus objectivos, colocando Rosberg sob pressão dos pilotos que vinham atrás. Com um «senão» em que o tricampeão deu claramente o flanco, colocando-se à mercê de uma reacção da sua equipa: quando esta lhe dá uma ordem, não pode ignorá-la e responder «nesta altura já perdi o campeonato, quer ganhe quer perca a corrida». Aqui… espalhou-se ao comprido!
É verdade que o desenlace da prova «caiu» para o seu lado e tudo lhe correu bem. «Ganhámos a corrida, o Nico é campeão, não sei porquê todo este drama», diria aquele que, ironicamente, estando no degrau mais alto, era o homem mais triste do pódio! «Acho que não fiz nada de perigoso ou desleal. Batíamo-nos pelo título, eu estava na frente, cabia-me impor o ritmo. Nunca senti que pudesse perder a corrida, foi uma pena que eles reagissem assim, mas discutiremos internamente».
Rosberg nem por um momento criticou a estratégia de Hamilton, o que só lhe fica bem. Mas Vettel falou em «truques sujos» e antigos campeões britânicos não pouparam Hamilton. «Eu sou um desportista, nunca faria o que ele fez… Iria para frente e fazia a minha corrida sem olhar para trás», garantiu Nigel Mansell. «No meu tempo ninguém faria algo assim… E seguíamos as ordens da equipa. É preciso alguma dignidade, tanto na vitória como na derrota».
Perante tudo isto e pressionado com os títulos dos tablóides a antecipar despedimento ou suspensão por algumas corridas, após um alegado processo disciplinar, Toto Wolff, director da Mercedes, procura manter a serenidade… «Um lado de mim pensa nas 1500 pessoas que trabalham em Brackley e Brixworth e nos 300 mil funcionários da Daimler que têm valores que temos de honrar. Desrespeitar essa estrutura em público significa que se está a pôr acima da equipa, tão simples quanto isto… E a anarquia não funciona em nenhuma equipa ou empresa».
Mas… «O meu outro lado diz-me que, naquele momento, aquela era a sua única hipótese de vencer o Mundial. E que talvez não devamos pedir a um piloto que é um dos, senão o melhor que existe, para obedecer a uma situação em que os seus instintos lhe mandam não obedecer. É difícil, é encontrar uma solução para resolver o problema para o futuro porque se criou aqui um precedente. Deixem-me dormir um pouco sobre o assunto…», pediu Wolff.
O seu trabalho nesta gestão dos pilotos é tudo menos fácil, os egos não cabem neste Planeta… Mesmo ao felicitar Rosberg pelo título, Hamilton não deixou de lembrar que já tinha estado várias vezes no seu lugar… E mais: «Fiz tudo o que podia, mas o Nico teve uma época tranquila, sem problemas mecânicos. Por isso ele acaba em primeiro e eu em segundo»…
Será que a Mercedes poderá mesmo suspender ou até despedir Hamilton, com base na desobediência às ordens da equipa? Sinceramente seria algo verdadeiramente surpreendente! Tanto como o que o jornal «The Independent» revelou agora: Hamilton quis abandonar a Mercedes e não correr mais em 2016, após o G.P. de Espanha, por achar que a equipa tinha gerido mal a colisão entre os seus dois pilotos!
Na altura, Hamilton terá informado a equipa que não pretendia continuar a correr, parando de imediato. Diz-se até que foi por isso que foi Rosberg e não Hamilton a participar nos testes que se seguiram ao G.P. de Espanha, com o alemão a repetir os testes em Silverstone, após o G.P. da Grã-Bretanha… Alguns dias depois, contudo, o britânico terá reconsiderado e tudo voltou ao normal.
Invenção dos «media»? No passado domingo, Hamilton foi interrogado sobre esta história e não a desmentiu, dizendo apenas: «É um assunto privado e agora faz parte do passado»…