«Perdi esta corrida, não perdi?». A pergunta, numa voz surpreendentemente tranquila, veio de Lewis Hamilton para o seu engenheiro assim que saiu da inesperada paragem na «box» que lhe roubou a vitória. Após cortar a meta, o campeão do Mundo parou o carro antes do túnel e especula-se que esteve para o deixar ali – como Senna fez quando se despistou quando tinha a vitória «no bolso», em 1988 –, até a equipa lhe lembrar que tinha de o levar até às «boxes» para serem, carro e piloto, pesados sob pena de desclassificação.
A desilusão, contudo, estava bem estampada no seu rosto e na sua voz. De tudo o que disse, algo mostrou a força interior com que continha toda a sua raiva: «De momento é muito difícil reflectir sobre o que sucedeu. Mas sou campeão do Mundo, tenho de me comportar como tal». E diria ainda: «A equipa fez um trabalho fantástico o ano todo, ganhamos juntos e perdemos juntos. Certamente que nos iremos sentar para perceber o que se passou. A única coisa que me vai agora na cabeça? Voltar para o ano e ganhar!».
Lewis Hamilton deu, contudo, uma explicação que… nem «cola» muito bem com as desculpas e mais desculpas que a equipa lhe apresentou de imediato. «As desculpas chegam-me… Tenho de me reconcentrar e vencer já a próxima corrida». Mas em relação ao episódio que lhe tirou a vitória contou: «Vi num ecrã a equipa fora das ‘boxes’ e pensei que o Nico e o Sebastian tinham parado: Assumi que eles estavam com pneus novos supermacios, enquanto eu estava com pneus usados e frios. Entrei na box confiando que os outros dois tinham feito o mesmo».
Esta versão pode jogar bem com a sua declaração de que «foi uma decisão colectiva», mas Toto Wolff, director da equipa, assumiu que o erro partiu das «boxes»: «Tivemos um problema com o calculador que usamos na estratégia, pensámos que teríamos tempo suficiente para proteger o Lewis do Sebastian… Mas o calculador estava errado por 3,5 s em relação à vantagem de que dispúnhamos e isso fez toda a diferença. Se o soubéssemos de certeza que não o teríamos chamado».
O que terá sucedido foi que Hamilton apanhou o «safety car» ainda longe das «boxes» e, nessa altura, teria vantagem suficiente para a paragem. Mas, com Rosberg e Vettel a rodarem na velocidade normal, a vantagem baixou substancialmente quando Hamilton chegou à via das «boxes» e a Mercedes não se apercebeu disso. Não deixa de ser um erro demasiado primário…
Niki Lauda, presidente não-executivo da equipa, não gostou daquilo a que assistiu: «Nem há discussão, a equipa fez o Lewis perder o Grande Prémio… Houve alguma confusão, muita gente a falar ao mesmo tempo e, no final, tomaram a decisão errada. Só me resta pedir-lhe desculpa…». Em especial no fim-de-semana em que Hamilton acabara de renovar o contrato por mais três anos!
«Estou desolado pelo Lewis, já lhe pedi desculpa e tenho de o fazer muito mais vezes, arruinámos-lhe uma corrida que tinha sido bem tranquila», disse Wolff que, todavia, apelou à tranquilidade no interior da equipa: «Esta equipa tornou-se no que é hoje porque sempre nos mantivemos juntos e nunca apontámos dedos a ninguém!».