Embora já se tenham passado três meses, pela violência do acidente e pelo milagre das reduzidas sequelas físicas – que, ainda assim, implicaram uma prova de ausência –, o acidente de Fernando Alonso continua a merecer todas as atenções, em especial depois de a FIA ter divulgado o relatório dos estudos efectuados. Esta foi a primeira vez que a FIA pôde recorrer a todo um conjunto de novos sistemas de vigilância que passaram a equipar os carros e até os pilotos para monitorizarem tudo o que se passa em caso de acidente.
E os dados obtidos são… assustadores! Recorde-se que, na corrida de Melbourne, Alonso (McLaren), tentava ultrapassar Gutierrez (Haas) quando, numa manobra mal calculada, atingiu o carro do mexicano e foi catapultado num arrepiante voo em que terminou com o MP4/31 feito num destroço.
O McLaren seguia a 313 km/h e quase não desacelerou, atingindo o Haas a 305 km/h. Depois, foi projectado contra a parede lateral da pista onde bateu com uma força de 45 G, uma das mais fortes registadas nos últimos anos. O chassis levantou então para um voo de 0,9 s e durante o qual rodou 540 graus, antes de voltar a bater com violência na escapatória, em novo embate de 46 G. Foi nesta fase que o capacete bateu por duas vezes na protecção lateral, dando os picos de forças detectados no acelerómetro que o piloto usa.
A somar a tudo isto, a aterragem provocou também uma desaceleração longitudinal de 20 G, o que acabou por quebrar a ligação do motor ao chassis. Ou seja, no total Alonso «encaixou» um total de 111 G! Sair destes três violentíssimos impactos apenas com uma costela fracturada e um pneumotórax tem de ser considerado quase um milagre!
Todos estes dados puderam ser recolhidos pelo conjunto de dispositivos que a FIA está a usar: as novas microcâmaras de alta definição montadas à frente do habitáculo e viradas para os pilotos, com capacidade para recolherem 400 «frames» por segundo (e de que a FIA mostrou duas imagens do acidente de Alonso); os acelerómetros colocados nos auscultadores dos pilotos que registam as forças a que a cabeça esteve sujeita; e o Accident Data Recorder, uma espécie de caixa negra que regista as forças suportadas pelos chassis nos embates.
Mas a FIA quer ir ainda mais longe na compreensão dos acidentes que ocorrem na F1. «O próximo passo é utilizar a biométrica, reunir dados de diversos pilotos, como o ritmo cardíaco, a temperatura corporal e até os níveis de sudação», explicou Laurent Mekies, responsável da pesquisa no Instituto Global para a Segurança no Desporto Automóvel. «Espero que consigamos colocar algo num piloto antes do final do ano, talvez num teste. Porque os dados biométricos vão permitir-nos conhecer a condição do piloto antes, no momento do acidente e depois do acidente, enquanto decorrem as operações de socorro».