Continua o folhetim em torno do incidente provocado por Sebastian Vettel em Baku, ao atirar o seu Ferrari contra o Mercedes de Lewis Hamilton. Na sequência das declarações do seu presidente, Jean Todt, a FIA decidiu mesmo abrir um inquérito oficial ao que se passou, com uma reunião marcada para o dia 3 de Julho – precisamente o dia do 30.º aniversário do piloto alemão! – para decidir se lhe deverá aplicar alguma sanção adicional. Entretanto, muitas personalidades se pronunciaram acerca do caso, com benevolência por parte dos pilotos e particular acutilância de Max Mosley, ex-presidente da FIA.
Fernando Alonso não concorda com mais penalizações para Vettel, embora reconheça a gravidade da sua acção: «É algo de novo, uma coisa muito rara na Fórmula 1. Mas ele já foi sancionado pelo que fez e pagou a penalização durante a corrida, fiquemo-nos por aí», disse o espanhol. Também Jenson Button se mostrou magnânime em relação ao piloto da Ferrari: «A corrida do Azerbaijão foi uma verdadeira delícia para ser ver, uma corrida palpitante e rica em emoções. O que o Vettel fez foi idiota, mas foi penalizado pelo seu gesto, devíamos passar agora para outras coisas».
A mesma opinião não tem Max Mosley, ex-presidente da FIA e que liderava a federação quando foram retirados todos os pontos a Schumacher, no Mundial de 1997, após a colisão provocada com Villeneuve. Mosley é particularmente duro com Vettel: «Não vou fazer novos amigos na Ferrari, mas o que Vettel fez é inaceitável! Se ainda fosse presidente da FIA teria pedido para Vettel ser excluído do Grande Prémio e convocaria o Conselho Mundial para discutir eventuais sanções suplementares. Vettel comportou-se de forma intolerável, se um condutor fizesse algo semelhante na estrada ficaria sem carta de condução, pura e simplestemente!».
Quem conhece muito bem Vettel é Christian Horner, director da Red Bull, que diz não ter reconhecido o piloto com quem trabalhou durante longos anos naquela atitude: «Fiquei surpreendido com a reacção do Sebastian, era como se não fosse o mesmo no espaço de segundos… Na F1 anda-se sempre com os nervos à flor da pele, sobretudo quando se luta pelo título e a rivalidade entre eles ficou mais exacerbada que nunca para o resto da temporada. Vamos assistir a uma grande batalha pelo título!».
Quanto à sanção aplicada ao piloto da Ferrari, Horner não quis opinar demasiado: «O ‘Seb’ não podia escapar a uma penalização. Penso que o Lewis ficou chateado porque teve de ir à ‘box’ e voltou à pista atrás do Vettel que tinha cumprido o ‘stop & go’. Mas só os comissários têm competência para tomar tais decisões».
Ross Brawn, agora com particular interesse na qualidade do espectáculo proporcionado pela F1, enquanto vice-presidente da Liberty Media para a parte técnica e desportiva, viu assim o sucedido: «O Sebastian fez algo que não deveria ter feito e foi penalizado por isso. Mas se o Lewis não tivesse tido o problema com a protecção do habitáculo, teria ganho a corrida, marcado muito mais pontos que Vettel e já nem estaríamos a discutir o incidente. Penso que o Lewis não fez nada de errado, apenas que o Sebastian julgou mal a situação, o que é normal, tendo em conta a intensidade da luta que ambos travam pelo título».
Já Bernie Ecclestone gosta sempre de ver as coisas por um prisma muito próprio. E, neste caso, o seu é o seguinte: «Este é o tipo de coisas que podem suceder no desporto automóvel. Penso que o Hamilton tentou surpreender Vettel com uma travagem para que sucedesse um acidente. E, por isso, para mim a reacção do Vettel é compreensível: apenas quis mostrar ao Hamilton que tinha percebido o que ele estava a tentar fazer». Tirando o detalhe de a análise à telemetria ter provado que não houve qualquer travagem…
Por fim, até Flavio Briatore deu um outro ponto de vista que é sempre válido vindo de alguém que, um dia (Singapura-2008), inventou um acidente com um dos seus piloto para o outro (Alonso) vencer a corrida… «O que o Vettel fez é, ao mesmo tempo, estranho e incompreensível. Não sei o que lhe passou pela cabeça para se atirar voluntariamente contra o Hamilton daquela forma. Mas tudo aquilo parece ter agradado aos fãs que voltam a olhar para os pilotos como gladiadores, por isso só pode ser bom para a F1».