Os mais atentos aos mais pequenos detalhes da Fórmula 1 poderão ter reparado que, no Brasil, os Mercedes provocavam bastantes faíscas no solo, como é costume ver nos Red Bull, coisa que nunca tinha sido visível no W08, excepção feita talvez nas corridas nocturnas. Esse pormenor levantou algumas suspeições de que a equipa estará a trabalhar num novo conceito para o carro do próximo ano, adoptando um «rake» mais pronunciado, a exemplo do que a Red Bull já faz há alguns anos.
O «rake» é, grosso modo, a inclinação do carro, em que a frente está mais baixa que a traseira, característica visível até a olho nu nos RB13, mais difícil de detectar no Ferrari e inexistente no Mercedes que sempre optou por se manter paralelo ao solo. Contudo, consta que a equipa estará a avaliar a possibilidade de adoptar um certo ângulo de «rake» no W09, procurando eliminar a inconsistência de comportamento – Toto Wolff definiu-a como «feitio de diva»… – do W08 que deixou a equipa em maus lençóis em provas como o Mónaco, Hungria e Singapura.
Em termos muito gerais, a vantagem do «rake», ao juntar mais a asa da frente ao solo, consegue criar-se uma espécie de efeito de solo por fazer funcionar melhor o extractor traseiro, pela forma como o ar circula sob o carro. A desvantagem é a maior resistência ao ar (pior aerodinâmica), embora também isso possa ser contornado com a inclinação da própria carroçaria a funcionar quase como se de uma asa se tratasse… Mas essa configuração com a frente muito baixa faz com que o plano dianteiro do fundo do carro raspe mais vezes no chão, como se costuma ver nos Red Bull.
Wolff avisou que, Mundiais arrumados, as últimas duas corridas seriam utilizadas para fazer experiências já com vista ao carro do próximo ano. E no brasil viu-se, de facto, os mecânicos a trabalharem, muitas vezes e de forma bastante aprofundada, ao nível das suspensões. Isso mais as invulgares (para o W08) faíscas levantaram estas questões. A que se junta o facto de o despiste de Hamilton na qualificação (de que o piloto assumiu a responsabilidade) estar também relacionado com a forma como o carro batia no asfalto…
É claro que a falta de «rake» não é a única característica que distingue o W08 dos Ferrari e Red Bull, o Mercedes é também o que tem a maior distância entre eixos (só fica atrás do force India) o que, à partida, o deixaria em dificuldades em pistas mais sinuosas e lentas como… aquelas três em que teve dificuldades. Contudo, Todo Wolff continua a recusar que tenha sido essa característica a razão da falta de competitividade, face aos Ferrari, no Mónaco, Hungria e Singapura, o que leva a supor que a longa distância entre eixos (que é uma «força» nas pistas mais rápidas) se mantenha no W09.
«Não acreditamos que nenhum dos problemas nos dias mais difíceis estejam relacionados com a maior distância entre eixos», disse Toto Wolff, antes de «explicar» o que quer para o W09: «Gostávamos de manter as características de ‘diva’ de que gostávamos e livrar-nos das que nos causam problemas».
O director da equipa Mercedes recorda que este foi o primeiro ano dos novos regulamentos e que, por isso, há muito espaço pra evoluir: «O que vemos, ao longo de toda a grelha, é que há muita gente com dificuldade em perceber porque os carros funcionam num dia e não no outro. Ou seja, há todo um processo de desenvolvimento que passa por identificar as razões por que, nuns dias, temos problemas e eliminá-las para o próximo ano. Mas espero que isso já tenha sido feito porque, obviamente, já estamos numa fase muito adiantada do projecto do novo carro».