Com a falta de resultados (leia-se vitórias) que vem caracterizando esta temporada da Ferrari, pelo menos atendendo ao que a época passada deixara antever, Sergio Marchionne, presidente da marca, decidiu reunir-se com o director da Scuderia, Maurizio Arrivabene e os principais engenheiros. A ideia era perceber o que havia a fazer para o potencial do SF16-H ser explorado ao máximo. A conclusão é, no mínimo, surpreendente: convencer Ross Brawn a voltar à Ferrari num papel de consultor!...
Ross Brawn, recorde-se, foi o director-técnico da Ferrari nos anos dourados de Michael Schumacher, sendo peça crucial na solidez que então a Scuderia viveu. Mas porque também estava escudado na liderança forte de Jean Todt, porque tinha o apoio e a cumplicidade de um piloto como Schumacher e uma base técnica com homens do calibre de Rory Byrne. Não esqueçamos mais um «detalhe»: a presidir a Ferrari estava um homem, Luca di Montezemolo, com enormíssima experiência na competição, ele que chegara a director desportivo da Scuderia ainda com Enzo Ferrari como patrão…
Ora este é um quadro praticamente irrepetível e terá sido, entre outras coisas, por o perceber que Brawn recusou, há alguns meses, uma primeira proposta da Ferrari. E porque, como confessou a uma cadeia televisiva britânica, gostava da sua vida actual e não se sentia motivado a pensar em F1 24 horas por dia, sete dias por semana, como é obrigatório quando se está numa equipa de topo. Desde 2013, quando saiu da Mercedes, que Brawn goza uma espécie de reforma dourada, dedicando muito do tempo ao seu «hobby» favorito, a pesca em rio.
Mas a Ferrari contra-ataca, porque acha que Ross Brawn é a cura de todos os males, independentemente da situação delicada em que poderá deixar James Allison. O britânico, actual director-técnico e que chegou a ser apontado… como eventual sucessor de Maurizio Arrivabene à frente da Scuderia quando Marchionne começasse a «cortar cabeças». Talvez assim se perceba porque vê Arrivabene com bons olhos a solução de Brawn…
A proposta é que Ross Brawn passe a funcionar como um consultor externo, um conselheiro de Arrivabene para ajudar na resolução dos vários problemas que se vêm manifestando e que têm complicado a vida à Scuderia, não precisando por isso de estar envolvido a tempo inteiro, muito menos de viajar para as corridas todas. Equipa Ferrari comandada através de conselhos vindos de fora, de alguém que não integra a hierarquia da Scuderia e nem sequer está em Itália?! Tem tudo para ser um… «grosso casino»!
No tempo de Schumacher, antes de começar a senda de sucessos, houve uma altura em que o piloto alemão teve de dar um murro na mesa para aguentar Todt à frente da equipa e, a partir daí, construir o sucesso que se conhece. Será que Sebastian Vettel já tem essa força? Sabe-se que o alemão foi crucial na manutenção de Kimi Raikkonen para 2017, mas é bom que dê um passo em frente para manter a «casa» na ordem.
Porque, à primeira vista, parece estarmos a assistir ao regresso da «vecchia» Ferrari, antro de intrigas políticas, saco de gatos e do «salve-se quem puder». Isso só pode ser mau para a Fórmula 1. E um terrível pesadelo para Vettel que julgava ir viver um sonho em Maranello…