O monolugar da Ferrari está a levantar dúvidas a alguns engenheiros das equipas rivais, no que se refere ao fundo do carro, à asa e difusor traseiros e à flexibilidade daqueles componentes… Mas, aqui, cabe um ponto prévio: em lado nenhum deste texto se dirá, insinuará ou defenderá que o SF70H está ilegal! O Ferrari já passou inúmeras e rigorosíssimas verificações técnicas e os comissários técnicos da FIA nada de anormal detectaram. Ou seja: por mais mirabolantes que sejam as soluções adoptadas, o Ferrari SF70H é um Fórmula 1 que cumpre com os regulamentos em vigor. Ponto final, sem mais discussão!
Na China houve pontos em que a eficácia dos Ferrari saltou à vista. Toto Wolff disse-se impressionado com a forma como o SF70H passava nas rápidas curvas 7 e 8 sem o menor dos problemas, enquanto Daniel Ricciardo resumia: «Há muitas curvas em que os Ferrari nem usam a pista toda na saída, o que demonstra que ainda têm uma reserva». Também a forma como Vettel conseguiu seguir Hamilton tão perto em Melbourne sem estragar os pneus ficou na memória de todos…
Dito isto, vamos ao que tem levantado alguns sobrolhos ao longo do pelotão… começando pelo fundo plano do carro de Maranello que parece ter capacidades de flexibilidade que, a elevadas velocidades, o colocam com uma ligeira forma de «U» invertido, conseguindo uma melhor canalização do ar sob o carro. As primeiras interrogações apareceram logo nos testes de Barcelona, quando a Scuderia usou uma tira de fibra de carbono cheia de sensores de temperatura do longo do chão do carro, sem que ninguém percebesse para que servia… Antes do fim dos testes esse elemento desapareceu…
A flexibilidade do chão dos carros está limitada por regulamento e é inspeccionada pela FIA, colocando pesos de 100 kg na extremidade dianteira e na traseira, à frente das rodas posteriores. Mas o que tem intrigado todos é que o chão do Ferrari, sendo uma peça única, parece ser feito de três peças juntas, como se vê na foto, com uma delas (1) mais elevada que aquelas (2) e (3) onde são colocados os pesos para os testes da FIA. A parte intrigante é para que servirá aquela elevação? Será feita de um material diferente que se consiga deformar? Passará lá por baixo alguma tubagem ou cablagem? É isto que está a intrigar os outros projectistas.
Quanto à parte traseira, a desconfiança é que, acima de determinada velocidade, a asa traseira consiga flectir um pouco mais para trás, reduzindo a resistência aerodinâmica e permitindo uma maior velocidade em recta. Como se sabe, não é permitido que os apêndices aerodinâmicos se movam… Esta ideia apareceu por uma constatação muito simples: a Ferrari é a única equipa que tem dois elementos verticais a suportar a asa traseira. Ora se um elemento já implica um forte distúrbio do fluxo de ar, parece não fazer sentido duplicar essa perturbação com dois elementos… a não ser que sirvam para permitir esse «inclinar» da asa e, por consequência, também do difusor em que está assente.
Uma ideia que recebeu uma «ajuda» quando se notou que o Ferrari ficou a apenas 0,9 km/h do Mercedes na longa recta de Xangai, quando antes ficava bastante mais longe. É claro que o motor também pode ter evoluído mas… a dúvida ficou. Aqui chegados, voltamos a reforçar: pelo visto até aqui, passadas inúmeras verificações apertadíssimas, o Ferrari SF70H está perfeitamente legal e tudo indica que a Scuderia terá feito um magnífico trabalho, andando mesmo nos limites do regulamento, quanto à flexibilidade dos componentes.
Resta ver se a FIA decide inspeccionar mais a fundo as desconfianças que percorrem o «paddock»… Em 2011, fotos mostravam a asa dianteira do Red Bull a flectir, mas o carro passava nos testes da FIA. Até que esta decidiu passar a fazer os testes com pesos mais elevados, o que pode decidir a qualquer altura, e descobriu que, de facto, as asas eram flexíveis. Poderá fazer o mesmo no caso da Ferrari, aumentar o nível de exigência e variar o local dos testes para ver se os componentes em causa são ou não flexíveis… Havendo, porém, uma verdade incontornável: em carros que fazem o que estes F1 fazem, nada é totalmente rígido, tudo tem de ter um certo grau de flexibilidade (como as asas dos aviões…) ou não aguentariam meia-dúzia de voltas!