Muito se tem falado na nova Fórmula 1, nas novas regras, na alteração da estrutura dos Grandes Prémios e do calendário do Mundial, dos caminhos que a disciplina deve seguir e das enormes alterações que os novos donos da parte comercial, os americanos da Liberty Media, irão introduzir… Como se não houvesse um poder desportivo que, esse sim, tem pleno controlo sobre o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 e sem o qual nada se faz!
É verdade que foi a própria Federação Internacional do Automóvel (FIA), e mais concretamente o seu presidente, Jean Todt, que se remeteu a um silêncio estratégico… Mas já chegava dessa atitude defensiva e de expectativa, pois a falta de comentários sobre a chamada «nova F1» começava a assemelhar-se a um alheamento do que se estava a passar com a principal competição organizada sob a égide da FIA. E Jean Todt esteve em Melbourne e veio, finalmente, a terreiro opinar sobre o que viu e o que pensa sobre o actual momento da F1.
E começou precisamente pelo importante esclarecimento de quem manda verdadeiramente na Fórmula 1… «Fico satisfeito que as pessoas da Liberty pensem no futuro. E estou aberto a ouvir as suas opiniões acerca dos regulamentos, tal como respeito qualquer ‘input’ vindo de outros lados. Mas a responsabilidade últimas estará sempre nas mãos da FIA. Somos nós que fazemos e controlamos as regras», disse de forma bem clara Jean Todt.
A falta de ultrapassagens na corrida australiana e as queixas de alguns pilotos quanto às dificuldades que os novos carros irão colocar não preocupam o presidente da FIA que procura de desmentir os que fantasiam o passado… «Ultrapassar sempre foi um problema do desporto automóvel. Lembro-me de corridas, há 20 ou 30 anos, em que um carro com pneus novos era 3 ou 4 s mais rápido e mesmo assim não conseguia passar um carro com pneus usados. Já então era difícil ultrapassar!», recordou Todt.
«Vamos analisar se esta época será assim tão difícil ultrapassar. Talvez os novos regulamentos tornem as ultrapassagens mais difíceis mas será esse o preço a pagar para termos carros mais largos e espectaculares, a gerarem maior apoio aerodinâmico», referiu o francês que recordou que a FIA está disposta a alongar as zonas de funcionamento do DRS, caso as ultrapassagens se tornem mais difíceis.
De acordo com Todt, contudo, a corrida de Melbourne realçou factos mais preocupantes que o problema das ultrapassagens: «Os carros eram mais espectaculares e rápidos, mais ficou preocupado com a competição e as diferenças entre as equipas. Por muito bom que seja ver a Mercedes ter a oposição da Ferrari, a diferença de 2 s do meio do pelotão para a frente é demasiado. Outra coisa que me surpreendeu foi que nos tinham prometido uma evolução nos tempos até 5 s e, afinal, a ‘pole’ foi apenas 1,7 s abaixo da do ano passado. Talvez tivesse apenas a ver com as características do circuito».
Uma das questões que contribui para as grandes diferenças entre as grandes equipas e as médias são os elevados custos e as exigências de gigantescos meios financeiros. «A F1 pode ser o maior desporto automóvel, um grande espectáculo, mas custa demasiado dinheiro!», lamentou Todt. «Só temos dez equipas no Mundial quando há lugar para doze, mas só o conseguiremos, provavelmente, quando houver uma melhor distribuição dos lucros. E devíamos tentar tornar este desporto mais acessível. Os F1 actuais são demasiado sofisticados, tecnológicos caros, complicados e, de certa forma, demasiado fiáveis».
As suas críticas não significam, contudo, que o presidente da FIA alinhe no discurso da «crise da F1» e Jean Todt responde com números! «Parece que estamos sempre a falar de um desporto moribundo… Os organizadores de Melbourne venderam um total de 330 mil bilhetes, quando há um ano tinham vendido 220 mil. A sala de imprensa estava cheia, não vejo onde esteja a crise. Porque temos sempre de ver só o negativo? Deixemos passar algumas corridas antes de julgar a situação actual!».