Acontecimento invulgar mas justificado, no Abu Dhabi houve duas conferências de imprensa de pilotos, sendo uma destinada apenas aos dois candidatos ao título. Nico Rosberg e Lewis Hamilton foram fotografados juntos – não ouviram ou fizeram «ouvidos de mercador» e a um pedido, ele próprio tímido, para apertarem mãos… – e estiveram meia-hora numa conversa tranquila, com muitos elogios múltiplos.
Hamilton claramente mais à-vontade e até falador, Rosberg um pouco mais «rígido», à defesa e com discurso estudado, muito preso ao «estou aqui só a pensar na vitória»… Mas uma das partes mais interessantes foi um «regresso ao passado», mais propriamente ao arranque do ano, quando se ligaram os problemas mecânicos que afectaram Hamilton à troca de mecânicos e engenheiros decidia pela Mercedes. Recorde-se que a equipa decidiu, no início da época, fazer uma rotação e trocar as equipas que trabalhavam com cada piloto.
Hamilton começou por surpreender ao dirigir-se a Rosberg: «Aqui está uma boa pergunta! Gostava de saber o que te contaram…». Mas o alemão respondeu com tranquilidade: «É uma resposta fácil, ao fim de três anos a lutarmos por vitórias e títulos é normal que haja uma tendência para haver uma divisão dentro da garagem entre os técnicos de cada piloto. Foi, por isso, natural essa rotação, porque o que se pretende é que haja um grande espírito de equipa, como temos mostrado com as fantásticas festas de comemoração nas últimas corridas».
Quando chegou a vez de Hamilton dar a sua opinião, nova surpresa pela forma enigmática como… «chutou» a resposta: «Vão ter de esperar uns dez anos, quando escrever o livro com as minhas memórias. Mas quando contar o que realmente se passou vai ser bastante interessante, vão ver…».
Ou seja, Hamilton parecia dar a entender ter razões de queixa dessa rotação de engenheiros e mecânicos o que acaba por soar a algum… cinismo. Porque tem sido um fio condutor do seu discurso a união quase umbilical que estabeleceu com a sua equipa e a confiança cega que tem nos homens que trabalham no seu carro. Logo, a tal rotação de técnicos terá sido uma boa coisa também para Hamilton. Em que ficamos, então?... Esperemos dez anos!...
Depois destas «bocas» de Hamilton, Niki Lauda retorquiu, muito ao seu estilo: «Quando eu escrever o meu livro sobre estes anos de convívio entre eles os dois, garanto que será muito maior que o do Lewis!»...