A Ferrari parece já estar a dominar uma tecnologia que tem dado uma grande vantagem ao motor da Mercedes, a ponto de justificar o gasto de três das nove fichas de desenvolvimento que tem para todo o ano, numa fase tão prematura da temporada. O truque centra-se na melhoria da combustão do V6 Turbo, graças a uma tecnologia desenvolvida pela Mahle (parceira da Ferrari na F1) e que aumenta para patamares nunca antes atingidos a eficiência energética dos motores térmicos.
Quando, recentemente, Paddy Lowe, da Mercedes, revelava que o avanço da tecnologia era tal que os motores já se aproximavam dos 50% de eficiência energética – os melhores valores dos carros de série mal passam dos 35%... –, não o referia mas já incluía o recurso à chamada, numa tradução livre, ignição por jacto turbulento (TJI, Turbulent Jet Ignition). Esta é uma tecnologia que a Mahle vem desenvolvendo há cerca de cinco anos e que a Mercedes estará a usar no seu motor desde 2014, permitindo uma combustão optimizado, a que corresponde grande ganho de cavalos. E sabe-se que a Mahle é fornecedora privilegiada da Mercedes (marca de automóveis) há longos anos…
Em termos genéricos, o sistema – que começou por ser estudado para motores de baixa cilindrada, no movimento de «downsizing» a que se assiste na indústria automóvel – possui uma pré-câmara no injector em que uma pequena quantidade de combustível (cerca de 3%) é injectado já a arder, tornando a combustão do restante combustível muito mais rápida e completa. Além do aumento da velocidade e eficiência da combustão (com aumento do binário), este processo permite ainda usar misturas mais pobres, o que resulta em menores consumos. E, em última análise, na necessidade de embarcar menos combustível, logo, menos peso no início da corrida.
Terá sido com estas enormes vantagens na combustão que a Mahle terá convencido a Ferrari a introduzir já na terceira corrida uma nova versão do seu motor 059/5, depois de ter gasto uma boa parte das 23 fichas utilizadas no defeso precisamente a optimizar essa área. Porque convém também não esquecer que parte do rendimento que se pode extrair do módulo híbrido, em particular do MGU-H, dependerá também do rendimento do motor térmico.
Agora se percebe porque todos os construtores de motores se estão a concentrar tanto no V6 turbo. A Renault tem anunciada para o G.P. do Canadá a grande evolução do seu grupo propulsor, muito centrada no motor térmico, enquanto a Honda também já anunciou que, embora continue a ser importante o desenvolvimento do sistema híbrido (um dos seus maiores problemas em 2015), não pode descurar a contínua evolução do V6 turbo.
Esta nova tecnologia está a elevar a eficiência energética dos motores térmicos a patamares que mal se sonhavam há poucos anos e que, mais cedo do que tarde, hão-de chegar aos nossos carros do dia-a-dia!