Se para efeitos estatísticos a estreia da Renault na Fórmula 1 ocorreu em 1977, no G.P. da Grã- Bretanha, na verdade o envolvimento da marca francesa na principal disciplina do desporto automóvel faz agora 40 anos. Porque muito antes de fazer o seu primeiro Grande Prémio já a Renault testava intensamente a mecânica com que haveria de revolucionar a Fórmula 1 naquele final da década de 70!
O monolugar de 1976 é relativamente pouco conhecido, nunca tendo participado em competições, mas pode ser apontado, de facto, como o primeiro Renault de Fórmula 1: designado por Alpine A500, foi neste chassis que foram realizados todos os testes de desenvolvimento do motor V6 1.5 turbo totalmente inédito na F1 da altura e que haveria de fazer escola.
Numa altura em que conhecia grande sucesso na Fórmula 2 e estava apostada em vencer as 24 Horas de Le Mans, a Renault lançou um programa secreto de estudo de um motor para a Fórmula 1. De um lado, tinha a experiência dos monolugares em que alinhava sob a égide da equipa Alpine. Por outro, procurava dominar a tecnologia turbo com o motor de dois litros para Le Mans.
O chassis A500 foi projectado por André de Cortanze, para a Alpine, e o motor teve a mão de Bernard Dudot, tendo de ver a sua cilindrada reduzida para 1,5 litros, o estipulado no regulamento de então da F1 para propulsores turbo, de forma a equivalerem-se aos três litros atmosféricos. O chassis era uma estrutura em alumínio, como se usava na altura – a fibra de carbono só apareceria em 1981, com o McLaren MP4/1 –, com o 1.5 turbo na traseira.
O piloto de testes foi Jean-Pierre Jabouille que dominava a F2 com a equipa Alpine-Renault, mas as muitas sessões feitas em circuitos como Latoux (pista de testes da Michelin), Paul Ricard ou Jarama eram permanentes dores de cabeça. O tempo de resposta do turbo e as constantes quebras de material, pela novidade da tecnologia, desesperavam os técnicos da Renault e da Alpine, mas não os levavam a desistir. Consta que, temendo que a Renault abandonasse o projecto, alguns empregados da Alpine terão feito chegar aos jornais algumas informações, tornando assim o projecto público…
A verdade é que foi a partir do Alpine A500 que a Renault construiu praticamente tudo o que ainda hoje conhecemos do seu envolvimento na Fórmula 1. Porque foi também nessa altura que fundiu as estruturas da Alpine com as da Gordini, centrando tudo em Viry-Châtillon e fundando a Renault Sport. Passam agora quatro décadas sobre todo esse processo crucial para as bases de um projecto que haveria de dar brilhantes frutos à marca francesa a nível da Fórmula 1!
Porque no ano seguinte a equipa seria apresentada, já apenas como Renault, com o RS01 que se estrearia no G.P. da Grã-Bretanha. Os inícios foram difíceis, como sempre sucede aos pioneiros tecnológicos e a Renault aguentou estoicamente até as chalaças das equipas britânicas que baptizaram os seus carros de «chaleiras amarelas», pelas vezes que terminavam as corridas envoltas em fumo.
Mas seria a marca francesa a rir por último quando, ao fim de dois anos, venceu a sua primeira corrida e estabeleceu uma referência que obrigou os que antes a tinham apoucado, não só a mudarem para a tecnologia turbo como, alguns deles, a baterem-lhe à porta a pedir os seus motores! Uma história que se iniciara em 1976, com o desconhecido Alpine/Renault A500. Que, já agora, também serviu para testar uma outra inovação que agitaria a F1: foi neste laboratório que a Michelin desenvolveu os pneus radiais com que haveria de dominar a Fórmula 1!