Poucas vezes uma festa teve um sabor tão amargo… No campo da Mercedes, a vitória no G.P. da Áustria não mereceu comemorações especiais, tão irritados andavam os espíritos por mais um contacto entre Hamilton com Rosberg, com este a perder dois lugares e, na perspectiva da equipa, seis pontos. «Para já, a única coisa que posso fazer é meter a cabeça num balde de água gelada!», exclamava Toto Wolff, director da equipa, farto de andar a apagar estes incêndios que os seus pilotos teimam em atear…
E eis que, de repente, a grande equipa, a dominadora escuderia Mercedes mais parece… um infantário! O «educador» Wolff está justificadamente irritado com o mau comportamento dos seus «meninos» e ameaça com medidas fortes como a instauração das sempre odiosas ordens de equipa. E o «menino» Hamilton, percebendo que, mesmo não tendo o grosso da culpa desta vez, já muito contribuiu para o «estado da nação», vem implorar para que não os ponham de castigo…
«Não quero pôr a culpa em ninguém porque estas coisas estão sempre a acontecer, seja na primeira ou na última voltas mas, sabem que mais? Estou farto de estar sempre a analisar situações destas, não quero mais toques, nunca mais!». Toto Wolff estava com cara de pouco amigos no final da corrida austríaca e logo ali falou na possibilidade de, por muito que lhe custe, a equipa acabar mesmo por impor ordens aos seus pilotos.
Para começar, e atendendo a que vai ter já novo confronto no próximo fim-de-semana, em Silverstone, convocou para um destes dias uma reunião do estado-maior da equipa na sede de Brackley. Consta, contudo, que o assunto já foi debatido a um nível ainda mais elevado, no topo dos topos, em Estugarda… «Devemos a toda a gente deixá-los correr com toda a liberdade. Todos nos lembramos dos dias das ordens de equipa e de como eram aborrecidos… Mas chega a uma altura em que temos de nos intrometer na corrida para meter as coisas na ordem».
Wolff, no seu habitual estilo, prometeu revelar as conclusões a que a direcção da equipa chegará, em relação à gestão dos dois enormes egos que tem ao volante dos seus carros. «Sempre fomos transparentes e não vamos escondê-lo dos ‘media’, se chegarmos a uma conclusão clara havemos de a comunicar. O único risco é, se estabelecemos uma estratégia clara e depois, por alguma razão, temos de a mudar, fazemos figura de tontos…».
A fúria de Toto Wolff já teve um lado bom, assustando, pelo menos, Lewis Hamilton que já veio quase implorar à direcção da sua equipa para que não impusesse as ordens de equipa. «Eu quero correr, foi assim que cresci. Queria chegar à F1, correr com os melhores e ser o melhor mas batendo todos os outros. Ainda recentemente revi o episódio entre o Michael e o Ruben [Áustria-2002, quando Barrichello deixou Schumacher passar em cima da meta, por ordens da equipa] e lembro-me de, na altura, como fã, ter ficado muito desiludido».
Hamilton, num claro «perdoa-me», nem se esqueceu de elogiar os chefes! «Sempre achei fantástico que tanto o Toto como o Niki [Lauda] nos deixassem lutar, porque as corridas são isso mesmo. As coisas não serão sempre perfeitas, mas a competição é assim… Estamos a guiar a mais de 300 km/h, estão à espera que andemos ali às voltas sem nunca haver qualquer problema? Duvido muito… Só espero que as coisas não mudem e que nos continuemos a bater, pelo amor que tenho a este desporto».