Afinal, a pressa da Mercedes em estrear o seu quarto motor do ano não estaria propriamente ligada às evoluções necessárias para pistas como Spa ou Monza, mas sim com uma leitura cuidada das directivas da FIA e uma jogada de antecipação. Numa situação normal seria aquilo a que se chama uma «chico espertice», mas aqui, a este nível de competição, tudo conta e a Mercedes não fez mais que tirar partido lícito de (mais) uma porta deixada aberta pela FIA… A Ferrari é que não ficou nada satisfeita!
Voltamos a falar da grande polémica que houve há alguns meses, envolvendo Mercedes e Ferrari – exposta por um «inocente» pedido de esclarecimento à FIA por parte da Red Bull… –, acerca da utilização de óleo nas câmaras de combustão dos V6 que se misturava com a gasolina, conseguindo uma «queima» mais eficaz, a que correspondiam mais elevados valores de potência.
Na altura, em Julho, a FIA emitiu uma directiva em que obrigava as marcas de motores a reduzir o consumo de óleo de 1,2 l/100 km para 0,9 l/100 km, mas apenas nas unidades estreadas a partir de, adivinhe-se… Monza! Ou seja, a Mercedes, estreando o quarto motor de combustão do ano na Bélgica, ainda o pôde fazer segundo as regras que, agora deixaram de estar em vigor, com o consumo de óleo de 1,2 l/100 km.
E a Ferrari, que não esperava que ninguém estreasse motores em Spa, foi surpreendida por esta jogada que poderá ter influência no futuro. Porque, quando estrear as quartas unidades dos V6 de Vettel e Raikkonen, já terá de cumprir o novo limite de consumo de óleo de 0,9 l/100 km! A Mercedes ficou, assim, com uma reserva de motores – porque as unidades n.º 3 só fizeram dois Grandes Prémios e as n.º 4 um – de acordo com a directiva que autorizava maior queima de óleo na combustão…
Ainda se pôs em causa se a Mercedes poderia usar aquele valor de 1,2 l/100 km até ao final do ano, devido às suas equipas-cliente. Porque, quando estas receberem as próximas unidades, estas já terão de respeitar o novo valor dos 0,9 l/100 km, o que se deveria tornar válido para todos os motores Mercedes na grelha. Mas a FIA já veio esclarecer que não, que a equipa oficial poderá continuar a utilizar os motores que gastam 1,2 l/100 km porque, segundo os regulamentos, um motor é considerado e contabilizado como tendo sido usado a partir do momento em que o emissor de cronometragem do carro é activado, na saída das «boxes».
No final do G.P. da Bélgica constou que haveria um forte mal-estar entre a Ferrari e a Mercedes, depois de a Scuderia se ter apercebido das verdadeiras intenções da sua rival ao estrear o quarto motor. Mas logo foi desmentido que houvesse qualquer tipo de acordo de cavalheiros para que ninguém estreasse motores antes de Monza e Toto Wolff explicou: «Ambos somos temíveis competidores, mas a relação que temos é que, se houver um problema, sentamo-nos frente-a-frente e discutimo-lo à porta fechada. E até agora não houve problema nenhum! Temos de ter cuidado para que não se divulguem coisas ao público que simplesmente não são verdade».
Num campeonato tão equilibrado e que, tudo o indica, vai ser decidido nos detalhes e nalguma falha de fiabilidade, a Mercedes conseguiu apanhar a Ferrari de surpresa, mostrando que, de facto, a F1 é um desporto de equipa que não se ganha só em pista…