Mais que saber se a Ferrari conseguirá contra-atacar em Baku, depois da derrota sofrida no Canadá, a maior curiosidade para o fim-de-semana do G.P. do Azerbaijão estará em confirmar se os progressos demonstrados pela Mercedes em Montreal foram reais e consistentes ou se se tratou apenas de uma boa adaptação dos W08 àquela pista… Porque do lado da Ferrari já se percebeu que o SF70H é um conjunto equilibrado e competitivo em qualquer lado, estando garantido que aparecerá na luta pelos primeiros lugares. Do canto da Mercedes éque não há a certeza se os problemas revelados no Mónaco ficaram definitivamente resolvidos.
A equipa conseguiu perceber o erro cometido na prova monegasca, o W08 estava demasiado «mole», com todo o conjunto a mexer-se demasiado nas curvas. Com consequências negativas na eficácia aerodinâmica e na forma de fazer trabalhar os pneus. Quando Toto Wolff se referiu ao W08 como «uma diva» referia-se à estreita janela de operação do carro, pela sensibilidade da aerodinâmica que, para manter a sua eficácia, obriga a que os movimentos da carroçaria sejam mínimos. Para Montreal, a equipa endureceu todo o carro a nível das barras estabilizadoras, embora mantendo as molas/amortecedores para que os pilotos pudessem atacar os correctores sem que os monolugares fossem «projectados».
A mudança de afinações resultou em cheio no caso de Hamilton, mas Bottas ficou invulgarmente longe do britânico, quando os seus andamentos são bastante mais equilibrados. E esse é outro problema que os técnicos da Mercedes demoram a entender no W08, porque é que raramente o carro consegue satisfazer os dois pilotos ao mesmo tempo: na Rússia tinha permitido a Bottas dominar a prova, enquanto Hamilton era bem mais lento, em Montreal foi o contrário. «O Valtteri não perde 7 décimos para o Lewis, o normal será 2, portanto há questões por resolver», comentava um dos técnicos da equipa.
«Conseguimos resolver o problema para Montreal, mas não saímos daqui sem pontos de interrogação», alertou, logo na altura, Niki Lauda, deixando no ar a impressão de um trabalho inacabado. «Foi um passo positivo na direcção certa, mas não foi a solução definitiva», avisou Toto Wolff. Que continua a recusar que um dos problemas do W08 seja a sua exagerada distância entre eixos, uma das maiores do pelotão e cerca de 12 cm maior que a do Ferrari. «Pode trazer-nos pequenas desvantagens nalgumas pistas mas, na maior parte dos circuitos, é uma grande vantagem».
Todos na equipa assumem, contudo, que o carro deste ano é muito mais delicado de pilotar, em termos de encontrar o ponto certo para fazer com que tudo funcione correctamente, não só a nível da aerodinâmica como conseguir que os pneus dianteiros e traseiros atinjam em simultâneo a temperatura ideal de operação. «São os pilotos que têm de ajustar o seu estilo de condução a cada momento e a cada situação e só isso pode explicar as diferenças que vão aparecendo entre Bottas e Hamilton», referiu um técnico da Mercedes.
Ou seja, não há uma «cura» óbvia para as dificuldades do W08 que terão de ser ultrapassadas prova a prova. Embora Toto Wolff fale em três vias, com uma abordagem a curto prazo que se centra na afinação para cada prova, numa a médio prazo de evolução aerodinâmica para maior equilíbrio do conjunto e noutra a longo prazo de profunda avaliação de todo o conceito que, provavelmente, já só terá efeito no carro de 2018.
Sabe-se também que a Mercedes está algo limitada na geometria da sua suspensão que não poderá alterar agora, já que isso a obrigaria a rever profundamente os estudos aerodinâmicos… E, embora ninguém o assuma, é provável que essa limitação esteja relacionada com a clarificação pedida durante o Inverno passado pela Ferrari e que levou a FIA a declarar ilegais alguns componentes que a Mercedes estaria a pensar usar! Em Brackley ninguém tem dúvidas: «A Ferrari tem uma base de trabalho mais estável». Veremos o que se passará este fim-de-semana, em Baku, onde se esperam temperaturas elevadas, cenário que lança alguma preocupação entre os homens da Mercedes…