O que se passou com a Ferrari para, no espaço de pouco mais de um mês, ver Vettel passar de uma vantagem de 14 pontos sobre Lewis Hamilton para uma desvantagem de 59 e o título praticamente perdido?! Pior ainda que este défice de… 73 pontos, como conseguiu desbaratar, neste curto espaço de tempo após a pausa estival – o regresso, no G.P. da Bélgica, foi a 27 de Agosto e Vettel ainda deu luta a Hamilton até final –, todo o capital de confiança e optimismo que tinha conseguido na primeira parte da temporada.
Monza foi um autêntico «murro no estômago» para a Scuderia, tal a imensidão da vantagem que a Mercedes aí conseguiu, mas seguiam-se provas em que poderia facilmente recuperar, em especial Singapura, onde os Ferrari sempre foram fortes e os Mercedes… fracos. Tudo foi por água abaixo com uma partida desastrada devida, essencialmente, a uma má preparação por parte da direcção da equipa: estando Raikkonen já a uma centena de pontos de Vettel e tendo a Mercedes virado o campeonato, não havia que tentar insistir em algo a que a Ferrari não está habituada, pôr os dois pilotos a correr em igualdade; ou seja, naquele arranque, Raikkonen deveria ter tido a missão de se chegar à direita para tapar Hamilton e deixar Vettel ir tranquilamente para a liderança. Sabe-se que não foi o que sucedeu e as consequências…
Mas o pior estava para vir, quando começaram a aparecer problemas de fiabilidade que praticamente não tinham afectado, com influência directa nos resultados, os carros da Scuderia. Primeiro foram as condutas de admissão de ar para o compressor que quebraram na Malásia, estragando a qualificação a Vettel e impedindo que Raikkonen partisse para a corrida. E, agora, foi uma vela defeituosa que fez o alemão abandonar no Japão e, praticamente, abrir mão do título.
Maurizio Arrivabene falou em falhas «de componentes de fornecedores externos ao nosso projecto mas que comprometeram as últimas duas corrida». Mattia Binotto, o director-técnico, já tinha falado na «necessidade de melhorar a organização da equipa e o departamento de controlo de qualidade». E, claro, Sergio Marchionne, presidente da Ferrari, explicara que estavam a ser usados «componentes cuja qualidade não se adequam às exigências da competição». Os avisos foram vários, mas chegaram tarde.
Em Suzuka, Vettel sentiu que algo não estava bem assim que saiu da «box» para se dirigir para a grelha e os engenheiros rapidamente detectaram que o problema estava numa vela. Mas os 10 a 12 minutos que os mecânicos têm para mexer no carro enquanto está na pré-grelha não chegam para trocar uma vela numa mecânica complicadíssima como estes V6 híbridos, em que é preciso desmontar uma série de componentes (alguns dos quais a temperaturas elevadíssimas) antes de chegar a uma peça que, nos carros do dia-a-dia, está quase à vista…
Não foi possível, por isso, trocar a vela defeituosa e os técnicos ainda tentaram que Vettel experimentasse outros modos do motor pra ver se conseguiam contornar o problema, até se perceber que o alemão não iria a lado nenhum, estando a ser ultrapassado por toda a gente. Foi aí que decidiram dizer-lhe para parar, ao menos poupavam o motor…
Nestas coisas e a este nível, azar é um conceito inexistente… A Ferrari fez um esforço grande, durante o Verão, para recuperar alguma da desvantagem que tem para a Mercedes a nível do motor, sabendo que em muitos dos circuitos até está melhor no que respeita ao chassis e utilização dos pneus. No seu afã de evoluir – e, em velocidade pura, o carro até fez claros progressos –, a Scuderia desviou-se daquele delicado equilíbrio entre «performance» e fiabilidade, com sacrifício para esta última. É verdade que foram sempre problemas «menores» a estragarem tudo mas, quando se tem uma corrida «destruída» e um campeonato a fugir, pouco interessa se a peça avariada custava tostões ou milhões…
A revista italiana «Autosprint» chama a atenção para um facto que pode ser uma simples coincidência, embora isso seja coisa rara na F1… Por alturas do G.P. da Áustria, no início do Verão, o responsável do projecto de motores, Lorenzo Sassi, foi afastado da equipa de Fórmula 1 para o programa de GT’s. Terão os problemas começado, de facto, tão lá atrás, com a Scuderia a seguir depois um caminho de evoluções que não era bem o previsto, procurando acelerar o atraso que tinha para a Mercedes e que ia disfarçando com a melhor capacidade em ritmo de corrida?
São muitas as perguntas que, para já, não têm resposta. Mas, para os milhões de «tifosi» que sofrem com mais um ano em que a Ferrari esteve na luta pelo título e que, em apenas um mês, viram a sua esperança esfumar-se de forma quase inexplicável, era importante que houvesse uma justificação clara e uma explicação de como 2018 será melhor. Porque esta é daquelas épocas em que a desilusão pode mesmo fazer abanar a paixão!