A Renault avisa que se deve ir com algumas cautelas quando começar a verdadeira discussão em torno dos novos motores para a Fórmula 1, para lá de 2020. Depois de um acordo alargado de que os actuais grupos propulsores são demasiado sofisticados e caros, todos apontando para motores mais simples, ruidosos e acessíveis a partir de 2021, a marca francesa alerta que, apesar do aparente consenso, poderá não ser fácil conseguir uma amplo acordo quando se começarem a discutir os detalhes concretos…
«A situação é complexa, porque toda a tecnologia é complexa e há muitos interesses a satisfazer», explicou Cyril Abiteboul, director-geral da Renault Sport Racing. «É preciso satisfazer os construtores que financiam o desporto no modelo actual, mas também há que satisfazer os fãs, bem como as equipas-cliente. Portanto, é uma questão que não terá uma solução fácil».
A Renault foi uma das maiores defensoras da actual fórmula dos motores V6 turbo com forte componente híbrida, mas Abiteboul reconhece que a passagem dos V8 2.4 atmosféricos para esta solução talvez tenha sido exagerada… «Passámos de uma coisa que era, de certa forma, algo antiquado e que perdera contacto com o que a indústria automóvel já estava a fazer, para algo que talvez seja demasiado moderno, complexo, sofisticado e dispendioso».
O francês poderá ter alguma razão, mas não deixa de ser verdade que, com estes grupos propulsores, a F1 cumpriu a sua função de abrir novos caminhos à indústria automóvel, levando a hibridização a níveis nunca antes atingidos e desenvolvendo técnicas que ainda não chegaram aos nossos automóveis do dia-a-dia, mas que podem perfeitamente vir a ser aproveitadas. Como o MGU-H que gera energia eléctrica aproveitando a energia térmica dissipada pelo turbo para carregar as baterias!
Rémi Taffin, responsável técnico dos motores Renault, deu-nos um dado esclarecedor: «Hoje em dia temos perdas na ordem dos 60% no motor de combustão mas, depois, temos a parte da recuperação de energia o que faz com que, globalmente, a eficiência energética destes motores seja de 50%, o que é algo de gigantesco!». Só para se ter um nível de comparação, os motores de série mais eficientes – por exemplo o de um Toyota Prius – mal passam da casa dos 30% de eficiência energética…
Mas voltando ao alerta da Renault para o debate que aí vem em torno dos motores que a F1 terá a partir de 2021, Cyril Abiteboul reconhece a importância de satisfazer os saudosistas dos barulhentos motores V10, mas chama a atenção para outro detalhe: «Eu também comecei com o som dos V10 e nunca o esquecerei… Mas isso sou eu… Há toda uma nova geração de fãs que precisamos de conquistar, fãs que ainda não temos, e que nunca ouviu um V10, para quem os motores V8 ou V10 não são relevantes… É um debate complexo que terá de ser feito de forma construtiva e bem documentada».
Há alguns princípios de que Abiteboul parece não abdicar: «A electrificação não desaparecerá certamente, precisamos disso, precisamos de manter um sistema híbrido. Talvez tenhamos de equilibrar mais a importância do motor de combustão e a parte híbrida, mas não o podemos fazer sacrificando o espectáculo. Os fãs querem uma F1 ruidosa e que que os ‘abane’ e, de momento, não lhes estamos a fornecer isso».
Assumindo que «se conseguiu chegar a um consenso quanto ao diagnóstico», o responsável da Renault Sport Racing teme, contudo, que comecem a surgir divisões quando se tratar de encontrar a «cura»… «Será mais difícil encontrar a solução, nem tanto por razões políticas ou porque alguém queira tirar vantagem, embora tudo isso vá acontecer. Mas acho que vai haver algumas lutas dentro do grupo para encontrar a resposta certa ao diagnóstico correcto que foi partilhado entre as equipas, a FIA e a Liberty Media». Pois… Essa é sempre a parte mais complexa da F1, sempre tão boa a diagnosticar os seus problemas mas depois com tanta dificuldade a encontrar soluções, num meio em que há muito mais que… gregos e troianos!