É verdade que, tendo já assumidamente abandonado a evolução do R.S.16 para se concentrar no carro de 2017, dificilmente a Renault irá melhorar o actual 9.º lugar no Mundial de F1, na segunda parte da temporada. «Só com uma oferta de Deus, dado que já nem estamos a trabalhar no carro», reconhece Frédéric Vasseur, director desportivo da equipa Renault.
O foco está todo colocado na próxima temporada e até… em 2018. Em especial quando se fala no reforço da equipa em termos de pessoal e das infraestruturas que estão a ser construídas para alargar a base de Enstone. «Estamos a construir uma equipa totalmente nova, só este ano entraram 80 pessoas. Mas, por exemplo, alguém que entre no final de 2016 já será para trabalhar no carro de 2018. Também na pista temos agora uma organização muito mais evoluída, mas tudo isto são coisas de que só se verão os resultados muito mais para a frente, a médio-longo prazo».
Ora parece passar-se o mesmo com os pilotos e Vasseur, numa longa entrevista ao site oficial da Fórmula 1, explicou claramente o que procura: um líder que cresça e faça a equipa crescer consigo! «Se analisarmos as últimas histórias de sucesso, sempre foi construído em torno de um piloto: Schumacher e a Ferrari, Vettel e a Red Bull, Lewis e a Mercedes e também Alonso com a Renault. Porque um piloto não é só a ‘performance’ mas também a capacidade de liderar toda a equipa».
E Vasseur especifica: «De momento somos cerca de mil pessoas, entre Viry e Enstone, o que exige uma espécie de liderança emocional. E esse é o trabalho do piloto! Precisamos de um piloto supermotivado e capaz de supermotivar todas estas pessoas». E o alvo é? «Tem de ser um jovem entre os 18 e os 22 anos [Sainz faz 22 em Setembro…], não pode ser um piloto experiente que se retire ao fim de dois ou três anos», explica Vasseur que insiste que só em Setembro haverá anúncios quanto a pilotos.
O director da Renault não deixa, contudo, de salientar o trabalho feito tanto por Kevin Magnussen como Jolyon Palmer este ano. «Não tem sido fácil para eles que estavam habituados a ganhar no passado… Não nos esqueçamos que o Jolyon é um estreante e o Kevin está na sua segunda época, depois de um ano parado. Ambos têm evoluído imenso, têm uma abordagem positiva e são um apoio incrível para a equipa».
Do lado do carro para 2017, há uma coisa que Vasseur vê «ao lado» e que diz deixá-lo descansado! «A forma como o motor está a funcionar nos Red Bull é um alívio! Temos agora de evoluir no campo da aerodinâmica e para isso teremos de recorrer a ‘experts’ que venham de fora para o nosso plano a longo prazo, cujo alvo é 2020». James Allison mora pelas redondezas de Enstone e está desempregado…
Já quanto ao chassis propriamente dito, o trabalho para 2017 é bastante complexo e Vasseur não esconde o quanto a equipa tem de recuperar face às escuderias da frente por ter… um ano de atraso: «Estamos a fazer o carro de 2017 baseados… no de 2015 que foi construído em torno de um motor Mercedes. Porque a verdade é que o carro de 2016 não nos serviria de muito com base de trabalho, já que foi ele próprio uma adaptação do de 2015 para montarmos o nosso motor…».
Uma entrevista em que Frédéric Vasseur – que será cada vez mais a cara da equipa Renault, ele que tão habituado está ao sucesso, pela história que construiu no GP2 com a ART – esclarece de forma clara os passos a dar, num processo que pretende tranquilo para levar a marca francesa a lutar de novos pelos títulos mundiais de Fórmula 1. «Este é um projecto a longo prazo, para os próximos anos, não é para as próximas semanas!».