Terminada a temporada europeia com duas pistas de altíssima velocidade, Spa e Monza, o Mundial de F1 transfere-se de «armas e bagagens» para a Ásia, para duas corridas em fins-de-semana consecutivos, com Singapura a anteceder o Japão. Duas provas bem distintas – a um circuito lento e citadino com calor e humidade, segue-se uma pista permanente e veloz, por vezes com frio e chuva… – a exigirem apurada logística por parte das equipas!
Singapura não é uma corrida citadina como as outras, já que é o único Grande Prémio verdadeiramente nocturno – o do Bahrain começa ainda com luz natural –, tendo por isso características únicas até a nível da evolução da própria pista ao longo da prova. Este ano o circuito foi alvo de melhoramentos entre as curvas 11 e 13, nomeadamente na famosa passagem pela ponte Anderson que passa a ser feita pela faixa contrária, procurando criar uma zona que possibilite as ultrapassagens, nomeadamente pelo alargamento do gancho da curva 13.
Lewis Hamilton busca o seu terceiro triunfo em Singapura e é, por isso, a pessoa indicada para explicar as maiores dificuldades deste circuito citadino: «Temos de estar 100% concentrados durante as quase duas horas da corrida, o que é muito mais difícil do que parece por causa daquela humidade louca. Qualquer distracção e estamos no muro! Por isso, manter a concentração é o fundamental. Já aqui ganhei duas vezes e ambas da ‘pole’, o que mostra a importância da qualificação, mas não será nada fácil conseguir a terceira vitória, apesar de ser uma pista difícil e traiçoeira… mesmo como eu gosto!».
Esta é uma prova extremamente dura para os pilotos, devido às elevadas temperatura e humidade e à longa duração da corrida que fica sempre no limite das duas horas. Os carros têm de ter suspensões preparadas para lidar com fortes embates nos correctores e com um asfalto irregular e algumas «anormalidades» próprias de circuitos citadinos, como tampas de esgoto. Por outro lado, o traçado de Singapura é extremamente exigente a nível dos travões… sem que tenha uma travagem propriamente violenta. Mas as altas temperaturas e a baixa velocidade não permitem que os travões cheguem a arrefecer entre duas travagens, pelo que a resistência à fadiga é fundamental.
Apesar do primeiro abandono em toda a época (!), os Mercedes voltam a apresentar-se como favoritos, com Rosberg a dizer que já não tem nada a perder na luta pelo título (está a 53 pontos de Hamilton) e que irá atacar ao máximo. Espera-se o regresso aos lugares de destaque dos Red Bull, numa pista em que o motor não é tão importante, podendo lutar com os Ferrari pelo pódio.
Como é hábito nas pistas citadinas, a Pirelli leva para Singapura as suas misturas mais moles e aderentes, os supermacios (vermelhos) e macios (amarelos), que se prevê terem «performances» bastante distintas. Os estrategas das equipas terão aqui um papel decisivo pois, numa pista em que é muito difícil ultrapassar, o momento de chamar um piloto à «box» pode salvar ou arruinar-lhe a corrida. Mas há mais: este é um circuito onde qualquer erro se paga caro e a entrada do «safety car» é quase um dado garantido, constituindo mais uma dor de cabeça para quem define as paragens nas «boxes». Pode ser aí que se ganha a corrida!
Resta saber se, até ao primeiro dia de treinos, Singapura ultrapassa os problemas da qualidade do ar com que se tem debatido. As queimadas na vizinha ilha indonésia de Sumatra cobriram a cidade-estado de um espesso «smog» que obrigaram a cancelar vários eventos no passado fim-de-semana… A situação está a ser monitorizada, mas uma decisão apenas será tomada mesmo em cima da hora.
A opção por uma corrida nocturna em Singapura não foi, obviamente inocente, antes uma forma de não só proporcionar um espectáculo diferente graças a endinheirados promotores dispostos a pagá-lo mas, acima de tudo, uma maneira de permitir que a transmissão televisiva acontecesse às horas normais para a Europa, com a corrida no horário habitual. Assim, os treinos livres do G.P. de Singapura realizam-se na sexta-feira às 11 h e às 14.30 h e no sábado às 11 h (horas de Portugal Continental). A qualificação terá lugar às 14 horas de sábado, enquanto a corrida arranca às 13 horas de domingo.