Antes apontado como uma das grandes esperanças italianas para chegar à Fórmula 1 e até uma série hipótese para a Ferrari voltar a ter um «piloto da casa», Raffaele Marciello foi vendo a sua estrela desvanecer-se e, apesar do 4.º lugar no último campeonato de GP2, as suas esperanças de chegar à categoria máxima são… mínimas. «Tenho de ser realista e não me pôr a sonhar com tretas… É preciso dinheiro para entrar na F1, quando não se tem dinheiro, não se tem F1. E é importante não se perder outras oportunidades por se ficar a pensar demasiado em coisas que são impossíveis», referiu o piloto.
O seu «beco sem saída» começou, no fundo, a construir-se quando saiu da Ferrari Academy, no final do ano passado, alegadamente por razões pessoais. Até lá já tinha feito diversos testes com o monolugar da Scuderia e tinha feito toda a época de 2015 como piloto de reserva da Sauber, além de ter corrido o campeonato de GP2, em que foi 7.º.
Agora, por sua própria conta, o campeão europeu de F3 de 2013 aparece como um piloto amargo, perante a impossibilidade de ascender ao escalão máximo, apesar da boa época de BP2, com o Russian Time. Pelo meio da amargura, contudo, vai pondo o dedo na ferida… «Hipóteses de chegar à F1?! Zero! Precisaria de 10 a 15 milhões de dólares, não tenho esse dinheiro, portanto, nada de F1 para mim». E, sem papas na língua, reforça: «É estúpido pedir essa quantidade de dinheiro a um piloto por uma época! Se tivesse dez milhões, não ia correr um ano de F1… ia de férias o resto da vida!».
E reflecte sobre a sua carreira, mesmo se nem sempre da forma mais construtiva… «Acho que tenho feito uma boa carreira. Venci a F3 e muitos dos pilotos que bati na F3 estão agora na Fórmula 1, por isso talvez também eu merecesse estar na Fórmula 1. Mas terei uma carreira diferente da deles e também será boa para mim…». Os GT’s são o seu objectivo. «Já não faz sentido fazer mais uma época de GP2, continuarei sempre a precisar de 10 milhões para chegar à F1…».
Apesar de já não haver pilotos italianos na F1 desde 2011, Marciello não culpa a autoridade desportiva do seu país, mas sempre vai dizendo: «Temos o apoio da nossa federação, embora talvez não tanto como de outras federações de outros países. O mesmo se passa com as empresas italianas que não nos apoiam como outras. Como, por exemplo, o Banco do Brasil com o Felipe Nasr». Exemplo infeliz, Marciello, logo na altura em que aquele «sponsor» , embora mantendo o apoio ao piloto, cortou no patrocínio à Sauber… «Há algo de errado com este sistema, o que é uma pena».
Serve este exemplo para todos os que se lamentam de Portugal não ter um piloto na Fórmula 1, apesar dos inúmeros casos de enorme talento e de grande sucesso em provas de renome internacional. Mas se um país da dimensão de Itália não consegue colocar um piloto na F1 – o futuro do outro italiano da Ferrari Academy, Antonio Fuocco, também parece pouco definido… –, percebe-se a dificuldade desse desígnio…