Está o caldo entornado entre os dois candidatos ao título mundial de Fórmula 1?! Após os embates de ontem, atrás do «safety car», antes do segundo recomeço do G.P. do Azerbaijão, Sebastian Vettel defendeu que Lewis Hamilton também devia ter sido penalizado, enquanto este considerou que o alemão se tinha «desgraçado a si próprio» com as suas acções em pista. E se Vettel até está disposto a esclarecer tudo com Hamilton, este não parece muito virado para lhe atender o telefone…
O clima de grande desportivismo e de saudável competição entre os dois poderá ter ficado… em «stand by», depois da corrida de Baku e da polémica em torno daquele momento em que o piloto da Ferrari acusa o da Mercedes de ter travado intempestivamente, levando-o a bater-lhe na traseira e causando danos na asa do SF70H. Hamilton disse desde o início que não tinha feito qualquer «brake test» a Vettel (que o acusara disso) e dizia-se chocado com a forma como o alemão se colocara a seu lado e atirara o carro para cima do seu.
Os comissários, para julgarem o caso, analisaram a telemetria do carro de Hamilton e concluíram que o piloto do Mercedes não travou nem desacelerou exageradamente naquele ponto. E acrescentaram que, naquele recomeço, o britânico não fez nada de substancialmente diferente do que fez em todos os outros, acabando por penalizar Vettel… A partir daqui, a palavra aos intervenientes.
Vettel diz-se pronto a falar com Hamilton para esclarecerem o episódio, de forma a poderem seguir em frente: «Não tenho qualquer problema com ele, respeito-o muito pelo piloto que é. Não acredito que tenha feito aquilo intencionalmente, até porque poderia ter estragado o seu carro e abandonado… Agora não é a altura certa, mas hei-de falar com ele para clarificar tudo e seguirmos em frente. Talvez não seja suficientemente esperto mas, pelo menos, não sou um tipo complicado».
Quanto à questão da sua reputação, se poderia ter ficado prejudicada por este episódio, o piloto da Ferrari é claro: «Não! Estamos aqui para correr, somos adultos e os fãs querem ver-nos correr e, por vezes, ‘alargar os cotovelos’. De vez em quando temos de andar muito juntos, mas as pessoas querem ver competição e ultrapassagens a sério, não vêm para nos ver apenas a passar. Eu gostei da corrida, apenas não achei correcto que eu fosse penalizado e ele não…».
Vettel tem, contudo, um problema… Entrou numa área que Hamilton domina como poucos na F1 (talvez só seja batido por Alonso…), a da polémica e a forma como se tira partido dela perante os «media»! Horas depois da corrida, já o britânico tinha todo um discurso montado, a meio caminho entre a vítima e o durão… Porque, atendendo às conclusões dos comissários perante os dados concretos das telemetrias dos dois carros, não fez de facto nada de errado.
E o durão Hamilton não está para falar com Vettel! «Para começar ele nem tem o meu número… Pelo meu lado, as conversas tenho-as em pista, é o que mais me importa. Ouvi o que ele disse após a corrida e parece… Bem, eu não saí da corrida a apontar o dedo a ninguém ou a queixar-me de nada, por isso é o que é… Aconteceu, não me pareceu bem mas o principal para mim é que perdi a corrida por causa do problema com a protecção para a cabeça. E, agora, a única coisa que me preocupa é arrasar nas 12 corridas que faltam, quero ganhá-las todas!».
Mas ainda faltava o outro lado do discurso… «Preciso de algum tempo para reflectir mas, em última análise, acho que o que se passou foi uma falta de respeito. Mesmo que eu tivesse a intenção de fazer um ‘brake test’, acho que não merecia uma reacção daquelas de alguém que sempre respeitei e que sempre mostrou respeito em pista. Aquilo não é resposta para nenhuma situação, é o tipo de coisa que aprendemos logo no karting», referiu Hamilton, voltando a recordar que são os pilotos de F1 que têm de dar o exemplo aos pilotos mais jovens que estão em começo de carreira.
E quanto à hipótese de o Ferrari ter embatido lateralmente no Mercedes de forma involuntária, por Vettel ter tirado a mão do volante, volta… o durão Hamilton: «Somos campeões do Mundo, somos os melhores pilotos do Mundo. Isso pode acontecer se for na estrada a guiar tranquilamente e puser um braço fora da janela… Mas isso não acontece connosco, nós corremos há anos, não fazemos isso!». Pelo menos o piloto da Mercedes pode prová-lo com imagens da corrida de ontem, em que fez vários troços da pista, a mais de 300 km/h, só com a mão esquerda no volante enquanto, com a direita, tentava fixar a protecção do «cockpit» e o carro lá ia a direito…