Já era de esperar e desde as primeiras notícias que aqui deixámos esta ressalva: a venda da Fórmula 1 (ou da empresa que controla os seus direitos comerciais) à Liberty Media vai mesmo merecer o escrutínio da Comissão Europeia, em especial da autoridade da concorrência. E tudo por causa de a FIA ainda possuir 1% das acções!...
O «Daily Telegraph» teve acesso a uma carta que a eurodeputada Anneliese Dodds escreveu à comissária da Concorrência, Margrethe Vestager, levantando o problema, o que deverá dar lugar a um inquérito. E recorde-se que, desde o início, a Liberty Media sempre fez o negócio – no valor líquido de 4,1 mil milhões de euros – depender da aprovação das instituições europeias…
Recorde-se que Anneliese Dodds foi a eurodeputada que levou a Fórmula 1 até a Comissão Europeia, depois do colapso financeiro das equipas Caterham e Marussia, ambas situadas na região pela qual fora eleita. Expondo a forma alegadamente injusta como eram distribuídos os prémios pelas equipas e como as tomadas de decisões eram todas em favor das grandes escuderias. Uma posição que levaria, depois, a uma queixa forma apresentada ela Force India e Sauber.
Agora, contudo, o busílis da questão centra-se na FIA e nos alegados interesses comerciais que o regulador do desporto não pode ter… mas tem. A história leva-nos a 2001, ao primeiro braço-de-ferro entre a Comissão Europeia e a FIA em que a primeira exigiu que um regulador de um desporto não pudesse também controlar os seus interesses financeiros. O que só se resolveu com a FIA a vender os seus interesses no Mundial de F1… excepto 1% valorizados numa «bagatela» de 368 mil euros, a preços actuais.
Sucede que aquela «bagatela» se transformou em… 43 milhões de euros pela valorização da Fórmula 1 neste últimos 15 anos! E é aqui que aparece, de novo, o problema de o regulador do desporto que é quem tem de autorizar a venda à Liberty Media, ter ao mesmo tempo interesses financeiros nesse negócio… Daí o problema colocado pela eurodeputada de haver um claro conflito de interesses neste negócio. Opinião corroborada por vários advogados ouvidos pelo «Daily Telegraph», especializados em desporto e até... no foro criminal!
Já aqui tínhamos escrito que a Comissão Europeia (CE) andava há anos com a F1 debaixo de olho e, por causa deste 1%, valioso é certo, a FIA acaba de dar poderosos argumentos para que a CE avance para uma investigação. Processo burocrático e moroso que os americanos não costumam apreciar por aí além… Poderá todo este enorme negócio estar em perigo? À partida parece ser algo grande demais para que isso aconteça mas… nunca se sabe!