Quando damos notícias sobre as famosas reuniões entre as diversas partes envolvidas na Fórmula 1 temos de estar preparados para as coisas mais bizarras… Andaram os construtores de motores em variadíssimas reuniões com elementos da FIA e da Liberty Media (além de potenciais interessados em entrar na F1) para definirem como serão os novos propulsores a partir de 2021, as linhas gerais são apresentadas e o que acontece? Os três principais fabricantes, Mercedes, Ferrari e Renault mostram-se críticos e contra o que terá sido definido nas reuniões em que participaram!
Mercedes e Renault foi quem primeiro reagiu e com argumentos mais extensos e até, aparentemente, bem sustentados, não se tivesse dado o caso de terem acompanhado todo o processo de decisão… Mas também a Ferrari lançou uma «boca» só para aumentar a confusão, recordando que é a única marca que tem direito de veto à mudança de regras! «Houve uma altura em que aplicámos o nosso direito de veto por razões que considerámos correctas naquele momento», recordou Maurizio Arrivabene. «Mas entre pessoas sérias e pessoas que têm ideias claras e que percebem do que falam, penso que não será necessário qualquer veto…». Contudo, e para não fugir à sua estratégia habitual, lá foi agitando a tradicional ameaça de vir a abandonar a F1 depois de 2020...
Tanto a Mercedes como a Renault avisam que as medidas ontem anunciadas e que parecem ser apenas uns retoques nos motores actuais – grosso modo, mais 3000 rpm, tirar o MGU-H e colocar um MGU-K mais potente – representam, na verdade, a construção de grupos propulsores totalmente novos! «Quando se lêem as mudanças, parece que não há grandes mudanças, que é tudo muito semelhante. Mas as alterações são enormes, são motores novos que implicam novas estratégias na recuperação da energia e na sua utilização», comentou Toto Wolff, da Mercedes.
«Apesar do que a FOM e a FIA dizem, o que nos foi apresentado foi um novo motor! Com muitas ‘nuances’, mas um novo motor», disse o responsável da Renault, Ciryl Abiteboul. «Temos de ser muito cuidadosos porque, de cada vez que adoptamos um novo regulamento que cia um novo motor, já sabemos o que sucede, volta a aumentar as diferenças no pelotão».
A preocupação de ambos os fabricantes é que os custos voltem a disparar já que, nos próximos três anos, terão de desenvolver dois motores diferentes em paralelo. E o francês recorda que a marca do losango já tinha proposto formas mais baratas de atingir o que era pretendido, motores mais potentes e ruidosos: «A proposta da Renault, há seis meses, foi de manter o motor actual, mas acabar com qualquer restrição de combustível, bem como a limitação do fluxo de combustível. A vantagem é que isso poderia ser feito já em 2019, não precisávamos de esperar por 2021. O mundo está a mudar rapidamente e, até 2022, muitos fabricantes de automóveis terão mudado para algo que é muito mais eléctrico do que temos hoje na F1».
Toto Wolff, por seu turno, chama a atenção para outro detalhe, quando ouve a FIA elogiar as novas regras como sendo um chamariz para novos construtores. «Primeiro talvez a F1 devesse ser atraente para os actuais construtores de motores e só depois procurar atrair novas marcas, deveria ser essa a ordem de prioridades…».
O responsável da Mercedes diz-se, contudo, disponível para prosseguir o diálogo neste capítulo dos motores para 2021, o que ficou logo definido que iria suceder nos próximos 12 meses. Posição em que o director da Renault também concorda: «É bom ter isto como um ponto de partida, mas não como um ponto final», disse Abiteboul.