Era fundamental que Lewis Hamilton aproveitasse a maior rapidez dos Mercedes em condições de qualificação para ser o mais rápido na decisão da «pole» para o G.P. da Áustria, de forma a limitar os danos, devido à penalização de cinco lugares, pela troca da caixa de velocidades. Mas, afinal, o Mercedes mais rápido foi o de Valtteri Bottas que obteve a segunda «pole» da sua carreira ao bater o Ferrari de Sebastian Vettel por 42 milésimos de segundo!
É verdade que, no Red Bull Ring, a «pole» é uma posição que não tem um significado particularmente forte, posição de onde só se ganhou por quatro vezes nas últimas dez corridas, tantas como… do 3.º lugar! Já da 8.ª posição é muito mais complicado e é daí que irá largar Lewis Hamilton, com cinco carros entre si e Vettel, o seu rival na luta pelo título. «Hoje não tinha de ser…», desabafou o britânico depois de ter comprometido ainda mais uma situação que já não era fácil.
Numa pista muito pequena e em que se prevê que haja apenas uma paragem durante a corrida, Vettel tentará passar Bottas o mais depressa possível para ganhar ainda mais pontos a um Hamilton que tentará sobreviver no meio da zona mais aguerrida do pelotão. Na Mercedes jogaram já uma carta estratégica, fazendo o tricampeão do Mundo partir com pneus mais duradouros que, no asfalto austríaco, não se têm mostrado muito mais lentos que os ultramacios. Mas na situação em que Hamilton se encontra, teriam de fazer algo diferente…
No Q1 a grande surpresa foi a eliminação de ambos os Williams! Nem Massa nem Stroll estiveram em condições de passar à fase seguinte da qualificação, sendo acompanhados pelos dois Sauber (este fim-de-semana claramente no fundo do pelotão) e pelo Renault de Palmer, com Hulkenberg a salvar-se por pouco. O que volta a colocar a questão se Williams e Renault não terão afinado os seus carros para a chuva que se espera para amanhã… Um jogo arriscado porque as previsões podem falhar, como se verificou nesta qualificação que também se dizia poder disputar-se sob chuva… Na frente, Hamilton foi o mais rápido mas com escassa margem sobre Raikkonen, os únicos da frente que rodaram com pneus ultramacios. Vettel estava em posição de «emboscada»…
O Q2 começou sem Magnussen que, apesar do bom tempo feito no Q1, danificara a suspensão traseira nos temíveis correctores do Red Bull Ring que já têm provocado danos noutros carros e críticas de alguns pilotos. O dinamarquês ficou afastado e remetido ao 15.º posto da grelha. Na frente, jogou-se logo a estratégia da corrida, quando Hamilton foi para a pista com um jogo de pneus supermacios, aqueles com que arrancará para o Grande Prémio, face aos ultramacios com que todos os outros fizeram o Q2, permitindo-lhe fazer um primeiro turno mais longo e uma parte final da corrida mais veloz, com os pneus mais rápidos quando o carro estiver mais leve!
Apesar disso, Hamilton fez logo um tempo «enorme», entrando pelo segundo 1.04 dentro, só sendo batido por Bottas por 0,16 s e Vettel por 0,03 s, com pneus ultramacios! A discussão pela «pole» prometia, mas os Mercedes começavam a mostrar aquele «plus» do motor quando chega o momento decisivo… De fora do Q3 ficaram, por 5 centésimos, Hulkenberg (Renault) e Alonso (McLaren), apesar de ter voltado ao motor Honda Spec 2, depois de ter tido problemas no novo Spec 3. A acompanhá-los, Vandoorne (McLaren) e Kvyat (Toro Rosso), bem longe de Sainz…
No Q3 esperava-se que Hamilton procurasse fazer o melhor tempo para mitigar o efeito da penalização de cinco lugares na grelha, mas o britânico não conseguiu levar ao extremo os pneus ultramacios, sendo batido pelo colega de equipa, Valtteri Bottas. Que, com a marca de 1.04,251 conseguiu mesmo a proeza de bater os 1.04,402 estabelecidos em 1985, por Nigel Mansell à volta de Kyalami (África do Sul) como o tempo mais curto num circuito de Fórmula 1 com um perímetro claramente acima dos 4 km… E bateu o recorde estabelecido no ano passado por dois segundos!
Vettel contra-atacou e ficou a 42 milésimos da «pole», pelo que se esperava um final emotivo da qualificação com as segundas tentativas. É verdade que tanto Hamilton como Vettel cometeram erros logo na primeira curva, perdendo tempo, mas a avaria do Haas de Grosjean na parte final da volta levou à mostragem de bandeiras amarelas e ao fim prematuro de uma sessão que prometia emoção até final… Bottas conseguia a sua segunda «pole» e Hamilton via-se relegado para o 8.º lugar da grelha, não só na 4.ª fila mas, para mais do lado sujo da pista!
«Foi uma volta decente, não perfeita, mas tenho adorado guiar o carro aqui, tem vindo a melhorar volta após volta», declarou Bottas que espera uma «longa corrida com uma luta intensa com o Sebastian», dizendo ainda que «o Lewis vai ter muito tempo para recuperar». Já Vettel também se dizia satisfeito com a sua volta – ou seria mais com o 3.º tempo de Hamilton?... «Não foi suficientemente rápida mas estou contente. Foi uma pena aquele anticlímax no final porque esperava melhor, mas estou muito confiante para a corrida».
Já Hamilton não estava particularmente animado e, revelando que desde terça-feira que anda a preparar-se mentalmente para uma corrida de recuperação, procurou motivar Bottas para bater Vettel: «Parabéns ao Valtteri pela grande volta que fez. Na corrida vou fazer o melhor que puder para conseguirmos um 1-2 com o Valtteri. Não faz qualquer sentido ele abrandar para tentar ajudar-me a chegar à frente, ele tem de forçar o ritmo para vencer a corrida. A partida não será fácil porque largarei de pneus supermacios que são mais lentos. O início da minha prova tem apenas a ver com a distância que conseguirei percorrer a mais que os outros».
Hamilton largará ao lado de Perez (Force India) e, além do mexicano (caso não perca nenhum lugar no arranque), ainda terá de passar Grosjean (Haas), Verstappen e Ricciardo (Red Bull) e Raikkonen (Ferrari) antes do duo da frente. Espera-o um dia e uma tarefa bem difícil…
Se Raikkonen lá conseguiu recuperar o seu lugar no quarteto da frente, entre os Red Bull Ricciardo também recuperou a sua primazia na equipa, depois de três provas em que foi batido por Verstappen na qualificação. O holandês cometeu vários exageros de pilotagem, talvez pela vontade de se exibir frente aos dez mil apoiantes que tinha nas bancadas, acabando por se despistar mesmo no final… Destaque ainda para a magnífica qualificação de Grosjean! Tempos da qualificação:
Amanhã a corrida começa às 13 horas de Portugal Continental e Madeira, 12 nos Açores e serão 71 voltas aos 4,318 km de perímetro do Red Bull Ring. O arranque é sempre um momento delicado, devido à forte travagem no topo da íngreme subida, quando o pelotão fica muito compacto. Esse e a travagem na agora curva 3 serão os momentos mais delicados a que Hamilton terá de sobreviver… Em especial se se confirmarem as previsões que apontam para 75% de possibilidades de chuva!
