Contra tudo o que os três treinos livres nos tinham indicado, Lewis Hamilton conseguiu a sua 70.ª «pole position» e largará na frente para o G.P. da Malásia, depois de uma volta verdadeiramente mágica! Num dia que lhe correu às mil maravilhas, pois ficou com grande hipóteses de aumentar a vantagem sobre Vettel no Mundial, depois de o alemão nem sequer ter feito uma volta de qualificação, com problemas no motor do Ferrari… Sairá, por isso, de último!
É verdade que Hamilton só conseguiu lutar pela «pole» – e conseguiu-a porque Raikkonen ficou a apenas 45 milésimos na derradeira tentativa! – porque recorreu ao «modo de qualificação» que o motor Mercedes lhe permite, acrescentando mais alguns cavalos que se mostram decisivos. Porque o equilíbrio do seu carro está longe de ser o ideal e, por isso, não é linear que seja ele o principal favorito à corrida de amanhã. «O Ferrari de Raikkonen é o carro mais competitivo», assume Toto Wolff, director da Mercedes.
E como, mais que uma vitória numa corrida, se está agora a jogar um título mundial, não será de espantar se Hamilton tiver um início de corrida tranquilo – as duas primeiras curvas são pródigas em causar toques… –, em especial se perceber que o seu arranque não foi suficientemente bom para chegar à primeira travagem com algum desafogo… Porque, em condições normais, Vettel irá recuperar rapidamente muitos lugares numa pista em que as ultrapassagens são fáceis. E, para o piloto da Mercedes, tudo se baseará em ganhar o máximo de pontos possível ao alemão, para aumentar os actuais 28 pontos na frente do Mundial.
O maior choque desta qualificação sucedeu logo no Q1 com a eliminação de Sebstian Vettel que nem chegou a fazer uma volta lançada. Depois de um verdadeiro «contra-relógio» dos mecânicos da Scuderia para mudar o V6 – turbo, central electrónica e bateria tinham de ser os mesmos pois já estava a usar a quarta unidade –, o carro ficou pronto mesmo no início do treino, o alemão foi para a pista mais até na transmissão televisiva foi audível que algo se passara. «Fiquei sem potência, só posso ‘arrastar-me’ até à ‘box’», dizia o piloto.
Ainda havia algum tempo para o final do Q1, os seus mecânicos verificaram tudo e chegaram a ter o carro preparado para sair de novo, a três minutos do final. Mas a telemetria indicou que havia algo que continuava a não funcionar e a imagem do engenheiro Jock Clear com a cabeça entre as mãos dizia tudo… Nova avaria, alguma falha na montagem? Só mais tarde se saberá. «Estas coisas fazem parte deste desporto…», dizia Vettel. «Hoje não fiz nada, em especial esta tarde… Infelizmente não posso provar o potencial que o carro tem, espero que o Kimi consiga. Mas a corrida é amanhã, poupámos muitos pneus e as ultrapassagens são fáceis... Os mecânicos fizeram um milagre, nem sei como conseguiram trabalhar tão depressa!».
Surpresa no Q1 o fantástico 9.º tempo do estreante Pierre Gasly (Toro rosso), a fugir facilmente do grupo de eliminados onde, além de Vettel, ficaram os dois Sauber e os dois Haas, sem grande surpresa. Com a eliminação prematura de Vettel, neste momento apenas Raikkonen e Bottas conseguiram qualificar-se para o Q3 em todas as provas do Mundial deste ano! Pior para o alemão é que, em duas corridas, em que a Ferrari estava (e parece estar) superior à Mercedes, Vettel vai concedendo, se nada de anormal suceder amanhã, pontos a Hamilton na luta pelo Mundial…
Já no Q2 notou-se a evolução dos Mercedes em condições de qualificação, a prometer a discussão da «pole» com o Ferrari de Raikkonen e os Red Bull. O segundo 30 já se tornou real para os quatro primeiros, com Valtteri Bottas a ser o mais rápido e apenas 0,17 s a separar o quarteto da frente! A coisa prometia para o Q3.
Os dois Force India confirmaram-se como os mais rápidos do segundo pelotão, batendo o Renault de Hulkenberg e os dois McLaren que, nunca é demais referi-lo, entraram no Q3 numa pista em que o motor é usado a fundo em 62% do tempo! À custa da eliminação mesmo no último segundo de Felipe Massa que foi mais rápido que Stroll na luta dos Williams, de Palmer (Renault) e dos dois Toro Rosso, com Gasly a dar boa conta de si, ficando a apenas 0,15 s de Sainz na prova de estreia.
O Q3 começou em grande «stress» com todos os carros a irem rapidamente para a pista, perante a visão de nuvens bem negras… E Hamilton teve, de facto, pressa em resolver o assunto, aproveitando a melhoria dos Mercedes e aquele «modo mágico» do motor para conseguir um tempo mágico: 1.30,076, menos 2,8 s que a «pole» do ano passado e mesmo às portas do impossível segundo «29». «Esta foi, mais uma vez, uma volta do Lewis, mais que do carro, como se viu com o Valtteri», explicava Lauda. «Não fazíamos ideia do que ia suceder hoje, mas conseguimos dar a volta com o trabalho que os engenheiros fizeram ontem. Foi uma pena o que aconteceu ao Seb que merecia estar aqui a lutar connosco…», comentou Hamilton.
O britânico conseguiu uma vantagem que parecia quase impossível ser ameaçado, mas Raikkonen não desistiu e, na última tentativa, fez também ele uma volta do outro mundo, ficando apenas a uns frustrantes… 45 milésimos! «Quando se fica tão perto é uma desilusão, sei que há sempre espaço para melhorar, mas nunca se consegue uma volta a 100%», disse o finlandês.
Ambos ficaram bem à frente dos dois Red Bull que não dispõem de modos especiais nos seus motores. Verstappen bateu, mesmo no final, Ricciardo e largará de 3.º. «É bom estar nesta posição na qualificação, é sempre um prazer guiar nesta pista e ser 3.º no meu aniversário é uma bela prenda». E o «responsável» foi Daniel Ricciardo! «Quando me perguntarem o que ofereci ao Max pelo seu 20.º aniversário posso sempre dizer: ‘meio décimo’!». Porque foi essa a diferença que se parou os dois Red Bull…
Olhando para a corrida, os três primeiros têm opiniões semelhantes: «Vamos ter uma luta bem dura com o Ferrari e os Red Bull que mostraram boas simulações de corrida, vai ser uma dura batalha até à primeira curva», referiu Hamilton. «O carro tem estado muito bom, vamos tentar ganhar a corrida até à curva 1, as duas primeiras curva são apertadas e costuma acontecer muita coisa ali…», disse Raikkonen, ao que Verstappen respondeu: «Eu só não quero ser ensanduichado», com o finlandês a retorquir: «E eu só não quero ser abalroado!». Memórias ainda frescas de Singapura…
E como explicar o «apagão» de Bottas quando a Mercedes estreou um «pack» aerodinâmico, tendo Hamilton feito alterações na direcção do anterior? «Acabámos com dois carros bem diferentes e parece que a solução do Lewis funcionou bem para ele e a minha não resultou para mim. Este ano tem sido complicado neste aspecto, temos de perceber quais são os ‘pack’s’ que funcionam, de facto, bem». Quer dizer que este novo «pack» é para esquecer? «Não, de forma alguma, os dados que obtivemos em túnel de vento foram muito bons, pelo que voltaremos a usá-lo no Japão», garantiu Toto Wolff que se dizia surpreendido pelas dificuldades com que os Mercedes se debateram em Sepang.
Tanto se fala do que se passa entre s três equipas da frente que quase passa despercebido o equilíbrio que marca a luta no segundo pelotão: 0,22 s separaram o 6.º do 10.º tempo na grelha o que promete uma luta soberba para a corrida, mas também… riscos acrescidos na partida! Ocon foi o mais rápido, mas Vandoorne surpreendeu com um magnífico 7.º tempo (a bater Alonso!), com Hulkenberg e Perez no meio. Tempos da qualificação:
A chuva faz parte, com fortes possibilidades das previsões para a corrida de amanhã que arrancará às 8 horas de Portugal Continental e Madeira, para 56 voltas aos 5,543 km da pista de Sepang. E que terá no «sprint» até à saída da curva 2, na forma como Hamilton, já sem o «modo mágico» no seu motor, se defenderá de Raikkonen e dos Red Bull e na recuperação de Vettel os grandes motivos de interesse.