Após o treino livre da manhã dizíamos que o Mónaco guarda sempre as suas surpresas e eis que as começou a revelar logo na qualificação, com Kimi Raikkonen a bater um Sebastian Vettel que parecia de «outro planeta», numa 1.ª linha da grelha monopolizada pela Ferrari. A «pole» mais discutida dos últimos tempos, pois o Mercedes de Bottas «renasceu» e os três primeiros ficaram separados por… 0,045 s!
Contudo, mais que celebrar o regresso de Raikkonen às «poles», quase nove anos depois da de França-2008 (50.ª de um finlandês), a qualificação para o G.P. do Mónaco poderá influenciar o desenrolar do próprio Mundial de F1, depois de Lewis Hamilton ter ficado apenas com o 14.º tempo, o que significa que, em condições normais, está fora da discussão pelos primeiros lugares da corrida, enquanto Vettel larga da primeira linha da grelha… O piloto da Mercedes nunca conseguiu ter o carro «guiável» e ainda teve alguma infelicidade no final do Q2, nem se conseguindo apurar para o Q3!
No Q1 destacou-se a luta entre os Red Bull e os Ferrari, com Verstappen mais rápido que Vettel e Raikkonen, mas todos no segundo 13, quando se sabia que, apesar da pista estar bastante mais quente, o segundo «12 baixo» era o objectivo… Bottas não estava longe mas Hamilton ficava a meio segundo e a queixar-se de sobreaquecimento do Mercedes. A prova de que o ritmo dos homens da frente não tinha sido alto era o segundo que separava os primeiros catorze…
Os dois Sauber ficaram de fora, juntamente com Lance Stroll que teve um problema no Williams, tendo passado a última fase do Q1 nas «boxes», Palmer (Renault) e, mesmo no último segundo, Ocon (Force India), eliminado pela subida de Grosjean (Haas). Dois estreantes no Mónaco eliminados mas destaque máximo para o terceiro, com Vandoorne a fazer o 5.º tempo com o McLaren!
Mas o belga acabaria por ter papel decisivo no Q2, ao ser o terceiro «rookie» a provar os «rails» do Mónaco mesmo no final… desgraçando a qualificação de Lewis Hamilton que ficou eliminado do Q3, na 14.ª posição – que será, pelo menos 13.º devido à penalização de Button –, ficando numa situação terrível em termos de campeonato. Os Ferrari elevaram o seu jogo, com Raikkonen a bater Vettel e já bem à frente de toda a concorrência, na parte de baixo do segundo 12.
Os Red Bull estavam logo atrás, em luta com Bottas e aqui residia o grande mistério deste Grande Prémio… Os Mercedes podem não estar ao nível dos Ferrari, mas porque estava Bottas a um nível mediano e Hamilton tão abaixo, a queixar-se de o seu carro ser um «cavalo selvagem impossível de domar»?! Por duas vezes esteve quase a bater e, na sua última volta, quando estava quase a conseguir entrar nos dez primeiros… «à pele», teve de abortar a volta por causa do acidente de Vandoorne que já fizera o 7.º tempo. «Os meus problemas não foram resolvidos, posso ter sido infeliz com a bandeira amarela, mas as coisas são assim mesmo… Talvez pudesse ter chegado ao ‘top tem’ mas, depois, seria muito difícil ficar nos cinco primeiros. O carro está terrível e temos de perceber porquê», dizia Hamilton. Massa (Williams), Magnussen (Haas), Hulkenberg (Renault) e Kvyat (Toro Rosso) foram os outros eliminados.
Tendo Vettel dominado as duas sessões de treinos livres em que se rodou no segundo 12, a grande surpresa estava guardada para o Q3, em que foi Kimi Raikkonen a dominar desde o início, mantendo-se sempre no comando e, com uma volta quase perfeita, a tirar segundo e meio à «pole» do ano passado – esta é a pista mais curta do Mundial… «O carro esteve difícil de guiar ao longo dos treinos, mas conseguimos acertá-lo para a qualificação. Aqui é sempre difícil acertar com uma volta rápida mas, agora, espero aproveitar esta ‘pole’ amanhã. Quando o carro está bom, é sempre divertido andar depressa aqui», dizia Raikkonen naquele tom monocórdico que significa que estava muito feliz…
É essa diferença milimétrica tão difícil de conseguir que terá frustrado a «pole» a Sebastian Vettel que, segundo o director da Scuderia, Maurizio Arrivabene, terá cometido um erro na curva 5, acabando a volta a 43 milésimos do finlandês. «Analisando depois, podemos sempre andar melhor», disse o alemão depois de felicitar Raikkonen e satisfeito pelo ambiente. «É fantástico porque sentimos os fãs tão próximos de nós, é um dos pontos altos da época, em especial para um piloto da Ferrari», disse Vettel que assumiu ter-se assustado no final, com a volta de Valtteri Bottas: «Foi mesmo à justa, não sei o que fizeram para melhorar o carro mas ele fez uma volta fantástica!».
De facto só por… três milésimos de segundo Bottas não roubou a Vettel o lugar na primeira linha, quando ninguém esperava que os Mercedes entrassem sequer na discussão… «Dei tudo o que tinha, mas os carros vermelhos estão, de facto, demasiado rápidos para nós», reconheceu. Mas mostrou aos homens da Red Bull que, afinal, ainda conseguia estar um bom pedaço à frente, adensando o mistério da diferença da ‘performance’ entre o seu carro e o de Hamilton…
Numa qualificação em que Vandoorne não tomou parte devido aos danos no seu McLaren, destaque para o 6.º tempo de Sainz (Toro Rosso) e a luta intensa entre Perez (Force India) e Grosjean (Haas). E, claro, para o magnífico 9.º tempo de Button no seu regresso. «Ainda não sei quais são os limites do carro porque isso é coisa que não se procura numa pista como esta, só num circuito ‘aberto’», dizia o britânico que terá, amanhã, o amargo de boca de ter de largar do final da grelha… «Maldito sejas, Fernando, por me deixares estas penalizações!!», brincava Button. Tempos da qualificação:
A corrida arrancará às 13 horas de domingo, num total de 78 voltas ao mais pequeno traçado do Mundial de F1 (3,337 km). Largando da «pole», Raikkonen tem já meia corrida ganha… Mas o Mónaco também é fértil em surpresas como ainda no ano passado pudemos ver. «A corrida foi hoje, a não ser que aconteça alguma coisa nas ‘boxes’», dizia Ricciardo que sabe bem do que fala! Por outro lado, até que ponto poderá a Scuderia começar já a jogar internamente no campeonato?... A ver amanhã numa corrida que, embora com poucas ultrapassagens, promete agitação e entusiasmo!