Muitos dedos se apontaram em direcção a Sebastian Vettel como causador do acidente que marcou o início do G.P. de Singapura de ontem. Mesmo até depois de os Comissários Desportivos terem decidido não haver nenhum responsável claro pelo sucedido, declarando ter-se tratado de um normal acidente de corrida. Curiosamente, a única voz que se levantou em defesa do alemão, explicando a dificuldade que é arrancar da «pole» foi a de… Lewis Hamilton!
O piloto britânico defendeu que o mais provável é Vettel não ter visto nem Verstappen nem Raikkonen, por ambos estarem no «ângulo morto» dos seus retrovisores. E explicou a dificuldade extra que se coloca a quem larga da «pole position», por falta de referências: «Sucede muitas vezes – veja-se o meu arranque em Monza – que quando largamos não conseguimos ver o piloto que está em segundo. Se conseguirem largar tão bem como quem está na ‘pole’ ficam frequentemente no ‘ângulo morto’ e torna-se muito difícil perceber onde estão…», explicou Hamilton que considerou o que aconteceu «um infeliz acidente de corrida».
«Ou seja, o raciocínio imediato é tapar o lado por onde nos podem atacar, ir para dentro e defender qualquer ataque, presumo que seja o que ele fez. Quando se faz isso, de repente eles aparecem nos espelhos ou na nossa visão periférica e isso permite-nos ver onde eles estão. Por vezes, fizemos aquelas manobras defensivas e percebemos que, afinal, estamos tão à frente que nem tinha sido preciso…».
E o piloto da Mercedes concluiu: «Não se sei o Sebastian sentiu isso ou não, eu apenas estava focado em tentar ser mais rápido que o Daniel [Ricciardo]. Vi o Kimi, por isso mantive um olho no que se estava a passar à minha esquerda para controlar se algo se passasse e tivesse de ir a direito na curva 1 para não ser apanhado…».
É muito possível que a explicação adiantada por Hamilton corresponda à verdade, até pela reacção de Vettel que nem tentou explicar o sucedido nem atribuir culpas a nenhuma dos outros pilotos. Apenas se confessou… surpreendido com que se passara. «Não faço ideia do que se passou», disse minutos depois de ter abandonado. «Sei que fiz uma partida mediana, cheguei-me para a esquerda para me defender do Max e, de repente, senti uma pancada e vi o carro do Kimi…».
E o alemão estava mesmo com um ar de quem não estava a perceber nada do que se passara! Provavelmente agora, que já viu as imagens televisivas, já compreendeu que, quando pensava estar a defender-se de um carro, na verdade já lá estavam dois… Na verdade, pode dizer-se que são os melhores pilotos do Mundo e que ganham milhões para fazerem o que fazem. Mas quem já tiver assistido ao vivo à chegada de um pelotão de F1 à primeira curva tem de reconhecer que… é um autêntico milagre estas coisas não sucederem mais vezes!
E é tão raro que esta foi apenas a quarta vez, na história do Mundial de F1, que a 1.ª linha de um Grande Prémio se eliminou! A primeira vez sucedeu em 1977, em Zolder (Bélgica), entre Mario Andreti (Lotus) e John Watson (Brabham), a segunda foi o famoso empurrão de Ayrton Senna (McLaren) a Alain Prost (Ferrari) que valeu o título de campeão do Mundo de 1990 ao brasileiro e a mais recente há pouco mais de um ano, quando Hamilton e Rosberg deixaram a Mercedes sem carros no G.P. de Espanha.