Hermann Tilke, o engenheiro civil alemão de 62 anos que é autor de 45% dos circuitos por onde a Fórmula 1 passou em 2017, rejeita a ideia generalizada de que a corrida de Abu Dhabi foi aborrecida porque… o circuito é mau. Não só a corrida não foi má como, diz, alterar o circuito, como algumas figuras sugeriram, não ia alterar absolutamente nada.
Helmut Marko (Red Bull) disse, no final da ronda de encerramento do Mundial de 2017, que a corrida de Abi Dhabi foi «uma das piores» de que tinha memória: «O Hamilton estava, provavelmente, mais rápido que o Bottas, o Max estava, provavelmente, mais rápido que o Räikkönen, mas assim que se aproximavam era impossível seguir o carro da frente. Temos de pensar melhor no formato destes traçados», disse Marko, consultor principal do dono da Red Bull (e Toro Rosso) para a selecção de pilotos. A ideia parece ter feito escola entre muitos jornalistas, colunistas e apresentadores de televisão, provavelmente enfadados por terem tido a expectativa de uma corrida mais disputada antes de partirem para férias.
Acontece que, não apenas a afirmação de Marko (e dos seguidores dessa opinião) é sobejamente injusta, numa temporada que teve corridas como a do Canadá, de Itália e da Rússia, largamente dominadas pelos pilotos da frente e com «escaramuças» para lutas de posição em lugares mais remotos (em Sochi, inclusivamente, não houve ultrapassagens), como é também… inadequada. Se houve «culpa» na suposta falta de interesse de um Grande Prémio que teve lutas pelo primeiro lugar, pelo pódio e pelos pontos, ela tem de ser atribuída aos carros, que são os melhores e mais eficientes de toda a história da F1, mas são muitíssimo difíceis de ultrapassar.
As declarações de Helmut Marko ao «Sport 1» (Alemanha) encontraram eco adicional no que disse Lewis Hamilton no final da corrida: «Acho que este circuito tem que ser mudado». Toto Wolff, seu director na Mercedes, parecia concordar mas, ao fazê-lo, acabou por chegar, rapidamente, à raiz do suposto problema: «É final de campeonato, pouco para decidir, isso também torna tudo menos espectacular. Mas a realidade é que, com estas novas regras, os carros ficam muito difíceis de ultrapassar».
O problema está nos carros, não nas pistas, sugere Hermann Tilke que, em 2009, desenhou o Yas Marina Circuit: «Mudar a pista não iria alterar nada. Nesta corrida, os carros mais rápidos andaram à frente de carros que eram menos rápidos, por isso houve menos ultrapassagens. Mas tenho a certeza de que a culpa não é do traçado», explica.
É notório, porém, que nem todos os traçados «ajudam» a criar corridas melhores e nem todos os «Tilkódromos» são unanimemente brilhantes. O circuito da marina de Abu Dhabi tem três sectores bem distintos: no primeiro quase não existe margem para ultrapassar; no segundo existem duas zonas consecutivas para usar o DRS, o que permite várias situações de ultrapassagem e re-ultrapassagem; o terceiro sector, muito… «urbano», tem várias curvas com ângulos de 90 graus, exige muita tração e torna muito complicado o trabalho de perseguir o carro que segue adiante.
Hermann Tilke considera que futuras alterações ao circuito merecem ser discutidas: «Podemos certamente discutir esse assunto. Até já tenho uma pequena ideia de como podemos alterar uma curva em específico, com efeito prático muito grande», disse, sem levantar o véu sobre essa mesma ideia.