Do alto das suas 14 épocas no Mundial de F1, o brasileiro Felipe Massa «remou» contra a corrente e alertou para que quaisquer alterações que se queiram introduzir na F1 deverão ser muito bem pensadas. O piloto da Williams não só acha que tornar os carros muito mais rápidos não resolverá os problemas, podendo até criar outros, como defende que as corridas nos anos 80 eram piores e que olhar para o passado não melhorará, necessariamente, o futuro.
«Percebo que seja interessante tornar os carros mais rápidos, mas se os fizerem 5 s mais rápidos por volta provavelmente teremos menos ultrapassagens do que agora e as pessoas vão voltar a queixar-se», avisou o brasileiro. «Também quero carros mais rápidos, mas as mudanças têm de ser inteligentes. Porque mesmo que os carros sejam 3 s por volta mais rápidos, na televisão ninguém se aperceberá disso».
E o piloto da Williams deu um exemplo: «Podemos aumentar o apoio aerodinâmico e tornar os carros mais velozes em curva, mas isso significará também poder travar mais tarde, oq eu só complicará as ultrapassagens. Ora o que as pessoas querem ver é competição, ultrapassagens, lutas e as mudanças devem ir nessa direcção».
Massa é particularmente acutilante quanto ao recorrente argumento de que nos anos 80 é que a F1 era boa… «Lembro-me de, quando passaram 20 anos sobre a morte do Ayrton [Senna], no Brasil mostraram as corridas todas e eu estive a vê-las e eram bem piores do que agora! A ‘pole’ era segundo e meio mais rápida que o 3.º qualificado e ‘dobravam’ o 3.º em quase todas as corridas. Ou seja, a diferença era muito maior que a actual, mas as pessoas continuam a achar que nessa altura é que era bom. Revejam as corridas desses tempos e comparem-nas com as actuais, as pessoas tendem a falar do passado sem ter uma recordação clara!».
Outra análise curiosa de Felipe Massa é quanto à alegada enorme facilidade de condução dos F1 actuais. «O passado parece mais interessante também por causa das pistas que eram muito piores, cheias de ressaltos. Isso faz parecer os carros mais difíceis de guiar. Hoje, as pistas são diferentes e muito mais seguras e não acredito que a FIA queira mudar os circuitos só para os tornar mais perigosos…».
Defendendo que a F1 se devia inspirar na relação próxima que outros desportos mantêm com os fãs, dando a NBA como exemplo, o piloto da Williams conclui com notável bom-senso: «Penso que a F1 tem de mudar para melhor, mas deverá haver um estudo sério para conseguir alterações inteligentes, não apenas para mudar por mudar. Porque, por vezes, a alteração é não mudar nada…».