Infelizmente, sendo uma das mais profissionais categorias do desporto automóvel, por vezes a Fórmula 1 dá-nos estes espectáculos de tremendo amadorismo… Quatro dias depois de anunciar como sendo a quintessência da salvação do espectáculo para este ano um novo sistema de qualificações tipo «dança das cadeiras», com um «bota fora» a cada 90 segundos, vem agora Bernie Ecclestone dizer que, afinal, só lá para o G.P. de Espanha o sistema poderá ser implementado por não estar ainda pronto o «software» de cronometragem… E pensar nesse «detalhe» antes do anúncio?!...
Ainda há dois dias, a propósito do novo sistema de qualificação, publicámos estas palavras de Pat Symmonds, director-técnico da Williams: «Temos muito trabalho nas próximas semanas, mas não apenas nós, também a FOM para refazer todo o ‘software’ que trata da cronometragem e de todo o controlo dos treinos. Vai ser duro!». Como agora se prova, da pior maneira…
«Não vai acontecer antes de Espanha porque não conseguiremos ter todo o ‘software’ pronto a tempo», reconheceu Bernie Ecclestone numa entrevista reveladora ao britânico «The Independent. «Na Austrália a qualificação será segundo o modelo seguido até aqui, pois todo o ‘software’ tem de ser reescrito e não é fácil».
Ecclestone reconheceu que a alteração no formato da qualificação serve apenas para, artificialmente, mexer no desenvolvimento natural das corridas, introduzindo um elemento de espectáculo: «Apenas quero misturar um pouco as grelhas para que o mais rápido na qualificação não tenha necessariamente de ficar na ‘pole’ e desaparecer. Porque haveria ele de ser mais lento na corrida se já é mais rápido na qualificação?».
E porque queria isso? Porque as equipas lhe recusaram a ideia de inverter as grelhas (haja alguém com bom-senso, no meio desta loucura toda…). Ecclestone explica: «Queria algo muito simples. A qualificação mantinha-se igual porque é um bom sistema. Depois, se o tipo que ficasse na ‘pole’ também tivesse ganho as últimas corridas, levada um ‘x’ número de segundos no seu tempo, de forma a ter de lutar pelo pelotão fora até chegar à liderança e isso levaria a corridas fantásticas».
E a ideia não foi para a frente porque… «As equipas não querem a inversão das grelhas. Há um milhão de coisas que poderiam fazer, mas estão totalmente loucas! Mas nós não as podemos fazer sozinhos porque, na votação, têm de passar pelas comissões e aí as equipas têm de decidir». Afinal, quem anda louco no meio disto tudo? Serão mesmo as equipas?... Foram as equipas que anunciaram um novo sistema de qualificação sem se certificar de que estavam reunidas as condições para que fosse possível adoptá-lo?
Ou será que não há aqui loucura nenhuma mas… apenas interesses? Se juntarmos esta autêntica «barraca» da Fórmula 1 «patrocinada» por Ecclestone às suas recentes bombásticas declarações – «Não gastaria o meu dinheiro para levar a minha família a ver um Grande Prémio! Por nada deste mundo!»… – temos um inverosímil cenário em que o principal promotor da F1 está publicamente a desvalorizar o activo que representa! A não ser que Ecclestone pretenda ser o parceiro que a CVC Capital Partners procura para revender os direitos comerciais da F1, caso em que até lhe interessaria baixar o seu valor…