O que é, afinal, a tão afamada «pausa de Verão» do Mundial de Fórmula 1 que começaremos hoje a atravessar, após o final dos testes do Hungaroring? As equipas fecham, põem um cadeado na porta e vai tudo para suas casas, voltando duas semanas depois? Bem, na verdade não é rigorosamente assim. O que é, de facto, proibido por regulamento é qualquer trabalho que vise o desenvolvimento dos monolugares.
As regras estipulam que «todos os competidores devem cumprir uma suspensão dos trabalhos nas suas fábricas por um período de 14 dias consecutivos em Agosto», embora sem especificar o dia de começo e fim desse período. Mas acrescenta que, durante esse encerramento, «os túneis de vento e as unidades Computacionais de Dinâmica de Fluídos [conhecidas por CFD] não podem ser utilizadas para actividades relacionadas com a F1».
Por regulamento as fábricas têm mesmo de fechar, não sendo as equipas autorizadas a fazer qualquer trabalho de desenvolvimento do carro. Uma ideia introduzida há uns sete anos e que teve por base a ideia de cortar os custos de operacionalidade das equipas. Mas que acabou por revelar benefícios também na saúde e qualidade de vida dos milhares de elementos que integram as actuais dez escuderias de Fórmula 1.
Porque, nestes últimos anos, o ritmo da disciplina, da «guerra» das evoluções dos carros, da pesquisa e desenvolvimento, acelerou-se de tal forma que não há um minuto de descanso, além de as temporadas terem crescido para 20 ou 21 provas. Paddy Lowe, agora na Williams, é um dos que elogia a ideia destas tréguas de Verão: «Há uns anos, a F1 era algo cíclico, havia alturas da época mais agitadas, outras mais paradas, mas agora é o ano todo ‘non-stop’ e sempre ‘a fundo’! Por isso, haver um período de duas semanas de… ‘cessar fogo’, em que todos os contendores concordam em não proceder a qualquer trabalho, é fantástico para as famílias de todos os que aqui trabalham».
E aquele responsável da Williams esclarece um «lado oculto» dos elementos que integram a... tribo da F1: «A Fórmula 1 tem o hábito de atrair ‘workaholics’ e as suas famílias sofrem bastante com isso. É por isso que esta pausa de Verão é tão bem-vinda, permite-lhes que desliguem do trabalho durante esses dias!». Porque nem à distância podem trabalhar: além do túnel de vento, as equipas têm mesmo de desligar os servidores em que se baseiam os sistemas informáticos que permitem desenvolvimentos de estruturas ou até de aerodinâmica!
A paragem das equipas não significa, contudo, que nada se passe nas suas instalações, ou que não haja pessoal que continue a trabalhar. Durante este período podem fazer-se coisas que não estejam ligadas com o desenvolvimento do carro. Por exemplo, em departamentos como a parte financeira, de ‘marketing’ou outras funções de apoio. E também pessoas que trabalhem nas infraestruturas. Por exemplo, se houver máquinas que necessitem de reparações ou de ser substituídas, esta é a altura indicada para o fazer.
Esta paragem quase não influencia em nada a preparação da próxima corrida, o G.P. da Bélgica, a 27 de Agosto. O fecho de duas semanas, num período de quatro semanas entre corridas é o equivalente a ter as habituais duas semanas entre Grandes Prémios, pelo que os procedimentos acabam por não diferir muito. Ou seja, os carros regressaram agora da Hungria para as respectivas bases, devendo ser já desmontados, revistos, podendo até iniciar-se a sua nova montagem. Mas a principal fase de montagem para a Bélgica será nos primeiros dias da semana anterior à corrida, antes da deslocação para Spa-Francorchamps. Para as equipas inglesas e para a Sauber será das mais curtas do ano...
Para o público e os amantes da F1 em geral, esta pausa de Verão acaba por funcionar quase como um anticlímax, numa fase em que o Mundial está bem animado e que fica uma enorme curiosidade sobre a forma como Hamilton e a Mercedes poderão responder, no «templo da velocidade» de Spa, ao golpe desferido por Vettel e a Ferrari no Hungaroring. Mas para que este duelo, com os dois pilotos separados por apenas 14 pontos, continue com o máximo de intensidade, até é bom que todos os elementos «recarreguem baterias» numa época tão sobrecarregada.
De tal forma que as escuderias de F1 já não querem abrir mão desta pausa de Verão, nem mesmo quando os novos donos da Liberty Media vêm com ideias de ter campeonatos do Mundo com 25 Grandes Prémios por ano!