Por razões óbvias, todo este fim-de-semana foi vivido sob fortes condicionantes emocionais e o final da corrida serviu também para libertar todas essas emoções contidas durante hora e meia de frio raciocínio. Assim que cortou a meta, Vettel agradeceu à equipa mas logo recordou Jules Bianchi, piloto da Ferrari Driver Academy e já com «lugar marcado» na Scuderia, falando num francês perfeito: «Jules, cette victoire est pour toi!» (esta vitória é para ti), acrescentando depois em inglês: «Os nossos corações estão contigo, mais cedo ou mais tarde farias parte da família Ferrari».
No pódio as manifestações de alegria, que as houve, foram algo mais contidas, em especial se tivermos em conta que foi Vettel a vencer (sempre muito expansivo) e que houve o regresso de dois pilotos da Red Bull ao pódio, com a estreia do jovem russo Kvyat… Foi por isso natural que as primeiras palavras de Sebastian Vettel no pódio do Hungaroring fossem para Jules Bianchi: «É um dia incrível, mas esta vitória é para o Jules. Foi uma semana muito difícil para todos nós, mas esta é para ele! Todos nós e os fãs da Ferrari sabemos que ele teria feito parte da nossa família».
Já em relação à corrida, o piloto alemão, referindo sorridente que «o ‘safety car’ foi uma má notícia mas tornou as coisas mais interessantes», resumiu: «Foi uma fabulosa partida, o carro estava óptimo de guiar e mostrámos um grande ritmo! Tudo porque a equipa fez um extraordinário trabalho para recuperarmos do tempo perdido no primeiro dia de treinos». E deixou antever largas horas de festejos, para mais tendo a sua própria «motorhome» no circuito… «Ainda me lembro do que se passou na Malásia após a corrida [e primeira vitória pela Ferrari], acho que vamos ter uma grande noite!».
Mesmo com a alegria natural de se estrear num pódio da Fórmula 1 apenas aos 21 anos, Daniil Kvyat soube conter a euforia e perceber que havia algo de superior em causa no fim-de-semana húngaro: «Foi uma corrida muito dura mas, como equipa, merecemos bem este pódio que quero dedicar ao Jules e à sua família. Perdemos um tipo fantástico e um grande piloto, os meus pensamentos estão com ele».
O jovem russo contou então como a corrida de hoje se resumiu… a uma grande lição! «Após a primeira curva pensei que minha corrida estava terminada porque senti um enorme embate na travagem, mas a equipa disse-me para continuar e forçar o ritmo. Hoje aprendi o que significa nunca desistir, porque uma corrida pode parecer perdida mas acabar sempre por voltar para o nosso lado!».
No final da prova, disputada sob temperaturas elevadas e exigindo grande esforço físico aos pilotos, era Daniel Ricciardo quem parecia mais fatigado, o que não era para admirar, tal a quantidade de lutas em que esteve envolvido, com vários… combates «corpo-a-corpo». «Foi uma corrida louca!», exclamou o australiano que deve estar admirado com a resistência do Red Bull. «Bati na primeira curva [com Bottas], bati no recomeço [forte, com Hamilton] e depois com o Nico e de todas as vezes pensei que a corrida estava acabada…».
Ricciardo prestou, então, a melhor homenagem que um piloto poderia fazer ao grande ausente do dia: «Houve grande resiliência da nossa parte e bati-me com tudo o que tinha, acho que era como o Jules gostaria que fosse, devo-lhe este pódio!». Quanto ao incidente com Nico Rosberg, contou: «Sabia que tinha velocidade para ganhar a corrida, porque via que o ‘Seb’ não se afastava, mas não tinha a mesma velocidade que o Nico na recta. Por isso vim de muito longe e arrisquei na travagem, foi uma pena termo-nos tocado porque acabámos por arruinar ambas as corridas…».