A grande limitação de comunicações entre os engenheiros e os pilotos voltou à ordem do dia, depois da longa discussão entre Lewis Hamilton e a sua «box» sobre o modo em que estava a electrónica do seu motor. O britânico queixava-se de falta de potência, já percebera que tinha um dos comandos do volante na posição errada mas o seu engenheiro não o podia ajudar a remediar a situação…
Mas não foi apenas Hamilton que teve uma longa troca de argumentos, pedindo ajuda perante constantes recusas da sua equipa, para não violarem as regras impostas desde o G.P. da Bélgica do ano passado. Também Kimi Raikkonen sentiu uma quebra de potência no motor do Ferrari e, quando quis saber se era nova falha do módulo híbrido MGU-K, o seu engenheiro disse-lhe que não podia elucidá-lo. O finlandês, como se sabe, não tem papas na língua: «Mas nem podes dizer só sim ou não?! Mas que regras mais estúpidas!».
No final da corrida foram vários os intervenientes a criticarem as limitações nas comunicações, perante carros cada vez mais complexos de controlar, com volantes com dezenas de comandos e centenas de funções. A maior parte das vozes vieram, obviamente, do campo da Mercedes. Mas não só… Vettel comentou apenas: «Isto é uma brincadeira!...».
Mas Fernando Alonso foi mais concreto: «Desde o início que esta regra não faz qualquer sentido. Dão-nos uma nave espacial para pilotarmos, com toda esta tecnologia e depois não podemos ter qualquer informação disponível! Por vezes torna-se realmente difícil perceber o que se passa com o carro e o que fazer. Deveríamos rever este assunto».
A medida foi tomada porque, a certa altura, estava a ser exagerada a influência dos engenheiros na pilotagem, numa função de autêntico «coaching» durante as provas que não deveria ser aceitável com pilotos de F1. Mas talvez se tenha passado do 80… para o 8 e agora os pilotos não conseguem resolver pequenos problemas.
Claro que logo se falou no estilo de vida de Hamilton que não teria estudado os comandos do complicadíssimo volante do seu Mercedes tão bem como Rosberg que resolveu o problema. Mas, na verdade, as situações não foram comparáveis, pois o alemão causou o problema, voltando imediatamente para trás, o que não sucedeu com o britânico que já tinha o modo errado seleccionado desde a partida…
«Passei que tempos a olhar para o volante, o que até é perigoso! Mas não havia forma de perceber o que fazer», defendeu-se Hamilton. «Esta regra tem de ser revista, não vejo qual o benefício, depois de a FIA ter tornado a F1 numa disciplina tão técnica. Tenho dezenas de botões e umas cem ou duzentas configurações possíveis. Por muito que estude tudo aquilo, como vou saber qual a que devo seleccionar quando estou a guiar a 350 km/h!?».
Toto Wolff resumiu o… ridículo da situação: «Ao fim e ao cabo, era apenas um interruptor na posição errada, mas a 350 km/h e a tentar atacar os adversários não é fácil percebê-lo». O próprio Rosberg reconheceu ter tido algumas dificuldades em perceber o que se passava no seu carro: «Não foi fácil devido às proibições nas comunicações porque não me podiam dizer exactamente o que era, foi uma espécie de adivinha…».
Por fim, Niki Lauda diz que há que aceitar as regras em vigor, mas sempre vai acrescentando: «É uma situação muito difícil para os pilotos, terem uma discussão sobre os modos do motor e nós não lhes podermos dizer nada… São eles que têm de perceber tudo e decidir por eles próprios». E, no entanto, neste caso específico, com uma curta mensagem rádio o problema tinha sido facilmente resolvido.
Por outro lado, os painéis que as equipas mostram nos muros das «boxes» também têm as suas limitações e não podem exibir instruções que ajudem a gerir o funcionamento do monolugar. A FIA impôs as limitações nas comunicações rádio para complicar a vida aos pilotos e tornar as corridas um pouco mais imprevisíveis. De facto está a consegui-lo. Mas com toda aquela tecnologia embarcada não será um pouco demais esperar que os pilotos se lembrem de tudo o que pode ser feito naqueles volantes híper complicados?...