Os regulamentos técnicos da FIA estipulam valores rigorosos, mesmo ao milímetro, para uma quantidade infinda de medidas, desde a largura dos carros a detalhes como as projecções dos planos das asas ou até os diversos diâmetros que as monocoques devem ir assumindo desde o «bico» até quase ao habitáculo. No entanto, e curiosamente, se há coisa que é deixada ao livre arbítrio dos projectistas é a distância entre eixos, medida de crucial importância no comportamento dinâmico de um automóvel.
Podemos até exemplificar, em termos muito gerais, com automóveis do dia-a-dia: uma confortável berlina deverá ter uma maior distância entre eixos porque isso lhe garante maior estabilidade nas longas curvas das auto-estradas, para viagens mais longas; um desportivo terá curta distância entre eixos pois isso confere-lhe maior agilidade para as sinuosas estradas de montanha. Mal comparado, é este tipo de opção que os projectistas dos F1 têm de fazer, sendo que a diferença entre uma distância entre eixos longa e uma curta é de 20 cm…
Do ponto de vista puramente teórico, uma distância entre eixos maior garante mais estabilidade nas curvas rápidas, mas dificulta a inserção do carro nas mais lentas e apertadas. Mantendo as equipas estes valores em segredo, a revista alemã «Auto Motor und Sport» procedeu a cálculos desse espaço que medeia entre os centros das rodas dianteiras e traseiras. E chegou à conclusão que o Mercedes não só tem a maior distância entre eixos como foi um dos que mais cresceu de um ano para o outro, com mais 26 cm! Assim se percebem algumas dúvidas já expressas por Hamilton em relação à forma como o seu carro se comportará no Mónaco…
Mas a Mercedes nem foi a que aumentou mais, pois o novo Force India tem mais 28 cm entre eixos que o de 2016! Segundo aqueles cálculos, Ferrari e Haas mantiveram os mesmos valores dos carros de 2016, enquanto a Williams tem o monolugar mais curto entre eixos do pelotão. Vejamos o quadro comparativo com os carros do ano passado:
Monolugar | D.E.E. 2017 | D.E.E. 2016 |
---|---|---|
Mercedes | 3,760 m | 3,500 m |
Force India | 3,691 m | 3,412 m |
Renault | 3,630 m | 3,638 m |
Ferrari | 3,594 m | 3,594 m |
Haas | 3,594 m | 3,594 m |
McLaren | 3,584 m | 3,534 m |
Red Bull | 3,557 m | 3,432 m |
Sauber | 3,550 m | 3,591 m |
Toro Rosso | 3,549 m | 3,616 m |
Williams | 3,545 m | 3,589 m |
A distância entre eixos depende da dimensão da caixa de velocidades, do motor e do depósito de gasolina, mas não está directamente relacionada com o comprimento do carro que não tem medida máxima regulamentada. E que poderá ser maior ou menor, consoante a necessidade de colocar apêndices aerodinâmicos ou de ter pontões laterais maiores para maior capacidade de refrigeração dos componentes mecânicos.
Além destas medidas, há ainda o chamado «rake», a inclinação do carro relativamente à pista, que a Red Bull sempre explorou de forma visivelmente exagerada. Todos os carros estão inclinados para a frente, por uma questão de distribuição de massas e para fazer funcionar melhor a aerodinâmica, mas o Mercedes é o mais «direito», com apenas 0,9º de «rake». Pelo contrário, Force India e Renault, os carros com maior distância entre eixos logo após o Mercedes, rodam com «rake» de 2,1 e 1,7º, respectivamente.
O que dá a entender que uma coisa não está relacionada com a outra… Tal como se vê no Red Bull que continua a ser dos carros com «rake» mais elevado mas com distância entre eixos e comprimento mais curtos. São todos estes compromissos que os projectistas têm de calcular muitos meses antes de o carro ser construído, sendo decisões estruturais. Que, se correrem mal, podem ser ajustadas mas dificilmente serão… endireitadas!