É um dos pontos que os novos responsáveis pela parte comercial da fórmula querem resolver mais rapidamente porque perceberam que é das coisas que mais tem afectado a imagem de credibilidade da disciplina. Por vezes tem-se mesmo tornado alvo de chacota e de «arma de arremesso» para os críticos da F1, porque os fãs que gostam de ver as corridas não têm de ser entendidos nos regulamentos complicados que a regem. Estamos, obviamente, a falar das múltiplas penalizações em lugares nas grelhas de partida, devido a problemas nos grupos propulsores.
E a maior dor de cabeça para os responsáveis do F1 Group é que, se este ano havia um limite de quatro motores para 20 corridas, no próximo ano as regras serão muito mais apertadas ficando-se apenas pelos três motores – mais só dois MGU-K, controlos electrónicos e bateria – para as 21 provas! Ou seja, a probabilidade de haver ainda mais penalizações que este ano é bastante realista…
A uma prova do final da temporada (em 19 corridas, pois), já se registou um total de… 730 lugares de penalização na grelha, só por problemas com os grupos propulsores que são considerados demasiado avançados e complexos! Ou seja, embora já aqui estejam contabilizados os lugares que Hamilton teria penalizado no Brasil, não tivesse largado das «boxes», não estão as penalizações que se deveram às trocas de caixas de velocidades.
Sem surpresas, a Honda foi responsável por 380 lugares de penalização para os dois McLaren, mas a Renault não ficou longe, causando 310 lugares de penalização, embora num total de seis carros, já que fornece a sua própria equipa, mais a Red Bull e a Toro Rosso. Ferrari e Mercedes só penalizaram 20 lugares cada uma. De qualquer forma estamos a falar de 730 lugares de penalização quando as grelhas das 19 corridas até aqui realizadas só dispunham de 380 lugares na grelha…
Até à entrada em funcionamento dos novos regulamentos, com os novos motores, em 2021, todos reconhecem que será difícil resolver o problema. Abolir as penalizações não é hipótese, pois isso tiraria qualquer sentido à limitação do número de grupos propulsores. Transformar as penalizações na grelha em pontos no Mundial de Construtores também se poderia prestar a «jogadas» contra o espírito de uma sã competição. Um exemplo: duas equipas que tivessem os seus pilotos a lutar pelo título mas uma delas não tivesse hipóteses entre os Construtores poderia estar sempre a montar motores «frescos» no carro que lhe interessava…
Este não vai, portanto, ser um assunto nem de fácil nem de rápida resolução. E mesmo se já toda a gente percebeu que o facto de um piloto ter 35 lugares de penalização não fará com que parta três curvas mais longe, servindo só para estabelecer uma «hierarquia dos penalizados» na grelha, continuará o barulho e a risota em torno deste assunto.
Segundo Ross Brawn, o vice-presidente do F1 Group para a parte técnica e desportiva que tem estado a estudar este assunto, a única solução é arranjar motores que sejam tão mais simples e baratos que deixe de fazer sentido limitar o número de componentes, o que levará ao fim das penalizações… Mas, lá, está, isso só com os novos motores, a partir de 2021.
«O que devemos tentar fazer com os novos motores é arranjar uma série de componentes que sejam económicos de mudar sempre que for preciso», explicou Brawn, num encontro com os «media». «Se optarmos por um turbo mais simples e que seja igual para todos, que custe 2 a 3 mil dólares, para que havemos de nos preocupar sequer em limitar o número de unidades a usar? O seu preço não é significativo em termos de escala de custos de uma equipa de F1. Mas se o turbo é caríssimo e muito complexo como agora, então temos de colocar limites».
Ou seja, Brawn defende que os motores de F1 actuais tornaram-se tão complexos e dispendiosos que a sua limitação em número de componentes utilizados é a única forma de não se assistir a uma escalada inimaginável de custos. E mostra como, por exemplo, a Porsche – que tem participado nas reuniões sobre o futuro motor da F1 – acabou por se desinteressar do WEC por a tecnologia se ter tornado demasiado complexa…
«Estamos na quarta temporada desta tecnologia e ainda estamos a lidar com tantas penalizações na grelha. Porque não conseguimos dominar a tecnologia… Aí tenho de dar crédito à Mercedes que fez um trabalho incrível, mas mais ninguém conseguiu acompanhar, essa é a verdade». Apesar deste discurso, a única coisa que não se ouviu foi uma eventual proposta para aumentar de três para quatro ou até para cinco o número de motores a usar na próxima temporada… Isso sim, seria uma forma de baixar o número de penalizações na grelha a curto prazo!