Acabaram- se as férias, a Fórmula 1 está de volta e logo com uma das corridas mais aguardadas do ano, o G.P. da Bélgica, nesse «monumento» que é o traçado de Spa-Francorchamps. Actualmente a pista mais longa do Mundial (7,004 km), uma das mais rápidas e aquela em que os motores são sujeitos à mais dura prova, pois é onde andam mais tempo a fundo, um total de 73 segundos e em situação-limite!
Esta será uma edição de festa para a prova de Spa-Francorchamps, pois será a 50.ª edição do G.P. da Bélgica (que vai realizar-se pela 62.ª vez) naquela pista que começou a receber corridas de automóveis, ainda como estradas públicas, em 1924. As primeiras edições do G.P. da Bélgica eram corridas no «antigo Spa», uma versão super rápida com 14,9 km de perímetro que foi sendo ligeiramente encurtada até os pouco mais de 14 km com que se correu a edição de 1970, a última naquela variante considerada demasiado perigosa, depois de já ter reclamado várias vidas… Só em 1983 Spa voltou ao calendário, com metade da extensão mas a mesma magia das altas velocidades pelo meio da floresta das Ardenas.
As notícias não são, contudo, as melhores para o fim-de-semana de festa e a pista de Spa promete fazer jus à sua fama de local onde «chove sempre». Para sexta-feira as previsões apontam para céu nublado e possibilidade da chuva afectar os dois treinos livres, enquanto no sábado e no domingo haverá aguaceiros (mais fortes no domingo) a baralharem estratégias na qualificação e corrida. Como se isso já não bastasse, em Spa é particularmente complicado por se tratar da pista mais longa do ano, fazendo-se menos voltas, o que dá menos oportunidades de reacção, além de se dar muitas vezes o fenómeno de estar a chover em meia pista e a outra meia estar seca…
E é uma pena… Porque esta era mesmo daquelas pistas em que queríamos ver os carros de 2017 a andar a fundo, com a sua maior carga aerodinâmica e, para mais, ajudados pela Pirelli que leva, pela primeira vez, os pneus ultramacios para Spa! Desta vez é que o recorde da qualificação ia abaixo… Um máximo recente, pois a pista foi alterada em 2007, com a nova chicane antes da recta da meta, pertencendo a Mark Webber (Red Bull) desde 2010, com 1.45,778. Dado que a «pole» do ano passado de Nico Rosberg foi feita em 1.46,744 com pneus supermacios e atendendo aos ganhos que os carros deste ano têm conseguido, seria quase certo… Mas se se confirmar a chuva, lá se vai o recorde por água abaixo!
Por outro lado, se sábado e domingo forem marcados por aguaceiros, qualificação e corrida poderão ser espectáculos… loucos com resultados surpreendentes. Em especial a qualificação que poderá originar uma grelha invulgar pois, confirmando-se os aguaceiros e numa pista tão grande como Spa, tudo se decidirá em função de estar na pista no momento certo, numa autêntica lotaria! Há, contudo, dois pilotos que já sabem que irão largar do final da grelha: Stoffel Vandoorne (há seis anos que um belga não corria em casa!) vai penalizar os 35 lugares correspondentes a montar um grupo propulsor totalmente novo; Marcus Ericsson baixará cinco lugares por a Sauber ter descoberto que a caixa de velocidades ficou danificada no G.P. da Hungria.
Se, por acaso, as previsões falharem todas – Spa é uma caixinha de surpresas! – e a pista estiver seca permitindo aos carros andar a fundo, haverá alguns cuidados a ter. A preparação da volta de qualificação tem de ser cuidadosa para não puxar demasiado pelos ultramacios, pois a volta é longa e é necessário que ainda estejam em bom estado na zona final, onde são sujeitos a fortes cargas na rapidíssima esquerda de Blanchimont, feita a fundo!
É também complexo encontrar o equilíbrio certo na parte aerodinâmica, entre a pouca carga que dê velocidade pura nos sectores 1 e 3 e o apoio fundamental para ganhar tempo no sector 2. Por fim, os engenheiros dos motores têm de lidar com situações extremas e não é só o facto de rodar a fundo em 67 % da volta. A subida extrema de Eau Rouge – que com estes carros será quase uma recta… – fará com que, no topo, o óleo suba todo no depósito, sendo feitos reservatórios específicos para evitar esse fenómeno de forças G negativas. Entre o gancho da curva 1 e a primeira travagem, apenas para a chicane de Les Combes, serão quase 1,9 km a fundo, cerca de 25 s em que os turbos funcionarão a 95.000 rpm, ou seja… 1500 rotações por segundo!
«A primeira vez que fazemos o Eau Rouge num F1 até nos dá náuseas!», recordava Romain Grosjean a violência de uma das mais famosas zonas do Mundial de F1. O G.P. da Bélgica terá casa cheia mas nem é por ter um belga na grelha… A culpa é de mais uma «invasão laranja», com os vizinhos holandeses a «pintarem» as bancadas em apoio a Max Verstappen que nasceu... na Bélgica, numa vila não muito longe de Spa. Verstappen assume-se mesmo como meio belga, a nacionalidade da sua mãe, detalhe que partilha com Lance Stroll, também ele descendente de uma belga.
Os horários do G.P. da Bélgica são os habituais da maior parte das provas europeias, com as duas sessões de hora e meia cada de treinos livres de sexta-feira a iniciarem-se, respectivamente, à 9 e às 13 horas de Portugal Continental e Madeira (menos uma nos Açores). No sábado haverá mais uma hora de treinos livres, a partir das 10 horas, seguindo-se a qualificação, às 13 horas. Que em Spa é importante, não por ser difícil de ultrapassar mas porque, quanto mais à frente se largar, mais longe se fica da «molhada» que sempre acontece na primeira curva…
No domingo, a corrida arrancará às 13 horas (será a 200.ª largada de Hamilton), para 44 voltas aos 7,004 km de Spa-Francorchamps e, certamente, para mais uma prova movimentada e que, pelas condições previstas, poderá terminar com alguns resultados surpreendentes!