A despedida do Mundial de F1 da temporada europeia faz-se com a prova mais rápida do ano, no «templo da velocidade», a que os italianos se habituaram a chamar, há já quase um século (faz em 2022)… a «Pista Mágica»! E os ingredientes estão todos reunidos para que o G.P. de Itália deste ano seja um espectáculo soberbo, com a Ferrari a lutar de igual para igual com a Mercedes, Vettel a liderar o Mundial de Pilotos e a última corrida na Bélgica a motivar uma declaração de confiança do alemão: «Depois do que vimos aqui, não receamos qualquer cicuito»!
Bilhetes esgotados, «tifosi» em esmagadora maioria, procurando testemunhar algo que já não conhecem desde 2010: uma vitória da Ferrari em casa! Na altura foi Fernando Alonso, agora todas as esperanças se centram em Sebastian Vettel. É verdade que, em teoria, nestas pistas de alta velocidade os Mercedes ainda parecem ter algum ascendente, em especial na qualificação, quando recorrem ao… «modo xpto» dos seus motores. Mas Spa mostrou a enorme evolução feita pela Scuderia nesse aspecto, deixando visível incómodo entre os líderes da equipa campeã do Mundo que esperavam ganhar suficientes pontos nestas duas provas, antes de enfrentarem as esperadas dificuldades de Singapura.
O duelo promete não só ser emocionante como estar ao nível da «lenda» que Monza representa no panorama do desporto automóvel. Foi o terceiro circuito permanente a ser construído em todo o Mundo – a seguir a Indianápolis (EUA) e Brooklands (Inlgaterra) –, tendo as obras começado em 1922 para terminarem seis meses depois! O traçado original tinha 10 km, incluindo duas enormes curvas inclinadas do anel de velocidade (os «curvone» que ainda existem… como monumento), tendo depois evoluído com o tempo até ao traçado adoptado de 2000 até hoje, com 5,793 km.
Assistiu a corridas que estão entre as mais célebres da história da F1, mas nenhuma como a de 1971 que teve aquele que ainda hoje é considerado o final mais emocionante da disciplina e até talvez do desporto automóvel! Peter Gethin (BRM) venceu Ronnie Peterson (March) por 0,01 s, François Cevert (Tyrrell) por 0,09 s, Mike Hailwood (Surtees) por 0,18 s e Howden Ganley (BRM) por 0,61 s!
É a pista que mais Grandes Prémios do Mundial de F1 recebeu, 66, à frente do Mónaco (64) e Silverstone (51). E a mais rápida do calendário actual, com os pilotos a fazerem mais de 75% do traçado com o acelerador a fundo. Ora se, numa pista tão rápida como Spa, a «pole» do ano passado foi batida por 4,2 s, é de esperar que, em Monza, o tempo de 2016 também seja esmagado: pela muito maior capacidade de tracção nas saídas lentas das duas primeiras chicanes; e pela superior velocidade em curva que se notará nas duas direitas de Lesmo (será possível fazer uma delas apenas levantando o pé, sem reduzir?!...), na terceira e rápida chicane e, claro, na Parabólica que dá acesso à longa recta da meta.
É verdade que os carros deste ano perdem um pouco na velocidade máxima, mas as equipas conseguem, aproveitando a maior carga aerodinâmica de todo o chassis e carroçaria, usar asas muito finas para baixar ao mínimo o efeito de arrasto, procuando recuperar alguns quilómetros por hora. Único problema que esta configuração coloca: os carros ficam muito mais instáveis e difíceis de controlar nas duas fortíssimas travagens antes das duas primeiras chicanes, pontos de ultrapassagem e batalhas por excelência!
A velocidade a que os actuais F1 conseguirão passar nas duas direitas de Lesmo e na Parabólica colocarão elevadíssimas cargas nos pneus, razão pela qual a Pirelli já não correu o mesmo risco da Bélgica, elevando um grau a dureza dos pneus que levará para Monza. No entanto, todos os pilotos escolheram apenas um jogo de médios (branco)… porque teve de ser! As opções recaíram na esmagadora maioria nos supermacios (vermelho), com a diferença, de novo, de a Mercedes ter mais um jogo de macios (amarelo) e menos um de supermacios que a Ferrari.
«Este ano poderemos ter velocidades máximas menores ou iguais às do ano passado, mas as passagens em curva colocarão muito mais energia nos pneus», explicou Mario Isola, da Pirelli. «Devido às fortíssimas travagens pode também aparecer o fenómeno da criação de bolhas no piso, porque o ombro do pneu pode ficar facilmente sobreaquecido». Resta dizer que, a um dia de distância, as previsões meteorológicas não eram animadoras, com trovoadas e aguaceiros na «ementa» para sexta e sábado e céu nublado mas sem chuva no domingo. Esperemos que, tal como sucedeu na Bélgica, se voltem a enganar…
Neste encerramento da temporada europeia, os horários voltarão a ser os mesmos do G.P. da Bélgica, com duas sessões de treinos livres de hora e meia cada na sexta-feira, a começarem às 9 e às 13 horas de Portugal Continental e Madeira (menos uma nos Açores). No sábado o terceiro treino livre tem apenas uma hora e começa às 10 horas, seguindo-se a qualificação, a partir das 13.
Por fim, o G.P. de Itália arrancará às 13 horas de domingo para uma prova que, em condições normais, deverá demorar apenas cerca de 1.20 h, tal a velocidade a que estes F1 conseguirão percorrer as 53 voltas aos 5,793 km da «Pista Mágica», a mais rápida do ano! No final, espera-se a tradicional invasão da pista com as gigantescas bandeiras da Ferrari, independentemente do resultado da Scuderia. Mas se for o reencontro com a vitória que lhe escapa desde 2010… então ainda deverá haver «tifosi» a festejar em Monza quando as equipas já estiverem… em Singapura!!