No último G.P. de Itália, nove dos vinte pilotos sofreram penalizações em posições na grelha de partida, num total de… 150 lugares! Apenas Hamilton (1.º) e Grosjean (último) partiram dos lugares em que se tinham qualificado e mesmo o francês com cinco lugares de penalização… Foi a prova em que esta situação das penalizações em lugares na grelha atingiu quase o ponto do «non-sense» total: Ricciardo sofreu uma penalização de 25 lugares e arrancou de… 16.º! Até na formação da grelha houve confusão, com números de pilotos nas posições erradas e correcções em cima da hora…
Este é um dos problemas da F1 actual na ligação com o público, com os seus fãs, quando as regras ultrapassam o simples bom senso das pessoas a quem o espectáculo se destina, frustrando-lhes as expectativas de ver os seus ídolos largar das posições em que se tinham qualificado, por causa de problemas nos quais não têm qualquer culpa. E quando o público não percebe as regras, a sua tendência é afastar-se, mesmo se Monza até registou a maior enchente desde 2000, com 185 mil espectadores, apesar do dilúvio de sábado.
Podemos abordar este problema com as habituais piadas dizendo que Alonso deveria ter partido de Milão ou que, em Spa, com os 65 lugares de penalização, Vandoorne devia ter corrido em Zolder! Mas tirando o sorriso, isso não nos leva a nada de concreto, nem a perceber os vários problemas que aqui gravitam, nem a debater eventuais formas de os ultrapassar. Que, diga-se, não há sem ceder nalgum dos pilares estruturais da actual F1!
Ross Brawn quer falar com a FIA para acabar com este tipo de penalizações que deixa os fãs baralhados e frustrados: «É odioso que problemas técnicos estejam a afectar as corridas. Que um carro tenha um problema na corrida e desista, isso as pessoas percebem. Agora um fã ver o seu ídolo partir lá de trás só porque teve de trocar um componente é mau para o desporto… Temos de alterar isso, talvez com outro tipo qualquer de penalizações ou acabando com elas e voltando à situação que elas pretenderam terminar».
De acordo… em parte e é difícil compreender que alguém com as responsabilidades de Brawn aceite voltar ao que havia antes que era um gasto desenfreado, uma escalada de custos que acabou por levar várias equipas à falência! Quantas das actuais equipas estarão em condições de aguentar uma situação de gastar um motor por corrida ou até de ter um motor para os treinos e outro para a corrida, se não houver qualquer limitação?! Se até a operação da Mercedes é deficitária!
Foram as equipas que pediram que houvesse controlo de custos, o que levou à limitação de motores e caixas de velocidades. Havendo uma limitação legal tem de haver um controlo e uma punição para quem não cumprir, isto é uma «la paliçada»! Vejam-se a Force India ou a Williams que, ao fim de 13 corridas, ainda vão no terceiro grupo propulsor, enquanto o McLaren de Vandoorne já montou as… décimas unidades de diversos componentes. Não será justo penalizar quem não cumpre as regras do jogo com que se comprometeu? E atenção que, para o ano, serão três grupos propulsores para 21 corridas!
Otmar Szafnauer, da Force India, acha, com alguma lógica, que estas penalizações fazem todo o sentido… «Se tivéssemos dinheiro ilimitado para gastar até concordaria com o Ross [Brawn]. Deixem toda a gente gastar o que quer, isso seria uma competição totalmente diferente! Agora, não se pode dizer que queremos controlar os custos e depois vir com estes argumentos porque são incongruentes. Temos de nos recordar porque existem estas penalizações que tornam mais justa a F1. Porque em 2018 teremos três motores por motor e, sem penalizações, como se desincentiva o raciocínio ‘quero lá saber se são três, tenho dinheiro para usar seis’?».
Como é óbvio, se a F1 não quer libertar o «monstro» dos gastos descontrolados que acabará por a devorar a si própria, terá de continuar a colocar limites, terá de manter as penalizações. Dito isto, o que se pode discutir é se a penalização em lugares na grelha será a mais correcta, pois castiga sobretudo o piloto, quando este, afinal, também foi vítima de um problema técnico que não controla. E esta é outra discussão, bastante mais interessante… e complexa!
Ross Brawn deixou no ar duas possibilidades, serem penalizações financeiras ou em pontos no Mundial de Construtores, mantendo os pilotos os seus lugares na grelha. Parecem formas mais justas para os pilotos, embora tenham as suas limitações: como se tiram pontos no Mundial a equipas que não os tenham ou que somem poucos e tenham muitas penalizações? Haver equipas com pontos negativos não será mais um motivo de chacota que a F1 bem dispensa?... Quanto às multas revertem para quem? Já se falou na campanha da segurança rodoviária da FIA ou de uma instituição de beneficência à escolha da equipa. Mas também este esquema afecta de forma desigual as equipas, sendo mais penalizador para as pequenas do que para as que têm gigantescos orçamentos…
Apareceu ainda uma sugestão interessante: continuaria a contabilização dos lugares de penalização e, em função do total, o castigo era «pago» em minutos a menos nos primeiros treinos livres do Grande Prémio seguinte. Se a penalização fosse absurda, uma equipa poderia mesmo ficar impedida de participar numa sessão. Mas também esta moeda tem «reversos»: priva os espectadores da prova seguinte de ter todos os carros em pista logo desde o primeiro minuto de 6.ª feira; caso a primeira sessão de treinos livres seja afectada pela chuva, a equipa safa-se airosamente da penalização que deveria «pagar»…
Como se vê, é uma tarefa quase impossível resolver a situação agradando a todos. Há pontos em que é fácil conseguir a unanimidade: acabar com estas penalizações que castigam os pilotos por algo de que não são culpados e privam os fãs de ver os seus ídolos largarem dos lugares conquistados na qualificação; a necessidade de manter um controlo apertado e um sistema de penalizações para que a F1 não entre numa situação de descontrolo total a nível de custos. Até porque isso não só afastará alguns construtores como fará com que alguns que matutam numa eventual entrada (veja-se a Porsche) se virem de imediato para outro lado!