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A F1 está assim tão má quanto nos querem «vender»?!

Que se passa com a Fórmula 1 para estar a ser alvo de tantas críticas, nomeadamente (e inacreditavelmente!) dos seus próprios promotores e intervenientes?! É o domínio da Mercedes que se arrisca a matar a F1? A explicação parece ser demasiado simplista: porque as quebras de audiência já vêm de antes de 2014; e porque equipas dominadoras foi algo que sempre houve na F1.

Recordemos apenas alguns anos «chatos»: em 1988 a McLaren/Honda (com Senna e Prost) ganhou 15 das 16 corridas, com 10 duplas; em 92 e 93 os Williams/Renault não deram hipóteses com os títulos de Mansell (ganhou as primeiras cinco corridas) e de Prost a serem «passeios»; em 95 Schumacher dominou com o Benetton/Renault, ganhando 9 em 17 corridas; veio depois a era do alemão na Ferrari, com destaque para os anos de 2002 com 9 duplas – e não é preciso recordar o vergonhoso G.P. da Áustria, com Barrichello a «parar» em cima da meta para deixar ganhar o «chefe»… – e 2004, com mais 8 duplas.

Em 2009 a Brawn surpreendeu e Jenson Button ganhou 6 das primeiras 7 corridas, quase garantindo o título a meio da época; em 2011 Sebastian Vettel chegou ao segundo título ganhando 5 das últimas 8 corridas; e em 2013 «exagerou», ao vencer 10 das últimas 11 corridas, com nove triunfos seguidos a fechar o tricampeonato! Mas foi quando a regulamentação técnica mudou, no início de 2014, com as mecânicas híbridas, e a Mercedes dominou, com 11 duplas, que começou o discurso de que a F1 estava a caminhar para o abismo.

Ou as memórias são curtas ou o domínio de uma equipa (cíclico na F1) não pode ser a razão para as perdas de audiências televisivas e de espectadores nos circuitos. Vejamos alguns dos argumentos:

Corridas são «chatas» Na frente, de facto, a coisa vista de forma simplista parece aborrecida, mas temos assistido a interessantes duelos Hamilton-Rosberg, à distância é certo, mas sempre com um a tentar levar o outro ao erro. Atrás, muitas têm sido as batalhas e as corridas até têm sido animadas e agitadas se não nos focarmos em exclusivo na luta pela vitória. Ainda no dito «aborrecido» G.P. da Áustria se assistiram a lutas bem interessantes e a um final de corrida emocionante pela decisão do 3.º lugar. As corridas, este ano, não estão menos emocionantes que em anos anteriores, antes pelo contrário, com lutas soberbas a meio do pelotão.

Pilotos não andam a fundo para poupar gasolina Sendo verdade, acaba por ser um falso argumento. Gestão dos consumos foi coisa que sempre existiu na F1… até quando havia reabastecimentos! Porque ninguém quer ter no carro mais gasolina que a estritamente necessária, para poupar no peso. Convinha lembrar as qualidades que deram a fama lendária de piloto cerebral a Niki Lauda ou a alcunha de «Professor» a Alain Prost, por exemplo, exímios na arte de gerir desgaste de pneus e consumo ao longo de uma corrida. O problema é que, para se ser rápido nestes carros híbridos, é preciso guiar de forma diferente, nomeadamente levantando o pé muito antes das curvas para deixar actuar os sistemas de regeneração de energia e ganhar potência adicional para a reaceleração.

Carros demasiado complexos Também ninguém o contesta, mas as equipas limitam-se a desenvolver as máquinas mais evoluídas de acordo com a regulamentação técnica fixada. Não está a F1 sempre a reclamar o estatuto de «pináculo do desporto automóvel»? E queixa-se de ter dos carros mais complexos e tecnologicamente evoluídos?... Além de que, com regras mais livres, os carros de Le Mans são até mais evoluídos e complexos e não é por isso que deixam de proporcionar boas corridas.

Motores fazem pouco barulho Voltemos a Le Mans: os Audi Diesel nem se ouvem, apenas «sopram»; os Porsche V4 Turbo vencedores este ano fazem menos ruído que os F1. Alguém põe em causa a qualidade das corridas de Resistência porque os carros mal se ouvem?... Faz assim tanta falta a estridência dos antigos V12 da Ferrari que, nos anos 70 e 80, quase nos furavam os tímpanos? Queremos corridas de automóveis ou… concertos «metálicos»?!

Ultrapassagens «artificiais» por causa do DRS Primeiro: antes ter ultrapassagens graças ao DRS, do que desfiles de automóveis que não se conseguem aproximar do da frente por questões aerodinâmicas… Segundo: no fundo, o DRS é semelhante a sistemas existentes em muitos carros do dia-a-dia, embora funcionando ao contrário! Quantos são os modelos desportivos que têm uma asa traseira que se eleva automaticamente acima dos 120 km/h para maior estabilidade? O DRS corresponde a um sistema igual mas trabalhando de forma inversa, diminuindo o apoio aerodinâmico em recta para maior velocidade.

São os engenheiros a dizer aos pilotos como conduzir Isto não é de agora, sempre houve muitas instruções ao longo das corridas. Sim, agora haverá mais devido à enorme complexidade técnica dos carros e aos milhentos ajustes que os pilotos têm de fazer nos inacreditáveis volantes que mais parecem consolas de vídeojogos. Mas instruções técnicas aos pilotos sempre houve, por exemplo, através dos quadros que eram mostrados das «boxes». A diferença é que, hoje, temos acesso a todas as transmissões por rádio quando, há muito poucos anos, tudo se passava sem que o ouvíssemos…

Desmontados estes argumentos, quer isto dizer que a Fórmula 1 actual está atractiva enquanto espectáculo? Obviamente que não… E um dos motivos são as regras demasiado complicadas e incompreensíveis para o grande público, saídas dos muitos grupos de trabalho onde ninguém se entende... O Grupo Estratégico da F1 é caso óbvio, com cada equipa a puxar pelos seus interesses, acabando ou por não chegar a conclusão nenhuma ou a «inventar» regras estranhíssimas que o público não compreende.

Veja-se o caso das penalizações aplicadas na Áustria, com uma parte em lugares na grelha e outra em sanções temporais… Ninguém consegue seguir uma corrida assim… Com o desenvolvimento dos motores passa-se o mesmo, quem inventou este sistema de «fichas» terá uma mente bastante intrincada e pensamentos obscuros! Já o escrevemos por mais de uma vez, parece que o lema da F1 é «para quê simplificar se podemos complicar»?

A F1 vive um momento difícil, essencialmente porque há uma equipa que está muito à frente (como já sucedeu em tantos Mundiais…) mas, acima de tudo, porque as outras não têm qualquer hipótese de recuperar o terreno perdido, pelas muitas limitações ao desenvolvimento. Claro que a Mercedes faz o seu papel, exigindo o cumprimento das regras, ninguém lhe pode levar a mal. Mas, nestas condições, nem Renault nem Honda conseguirão chegar sequer perto. Porque não «descongelar» por um tempo mínimo o desenvolvimento para aquelas duas marcas poderem evoluir as suas mecânicas? Não seria a primeira vez que haveria uma «discriminação positiva» na F1…

A F1 quer reinventar-se em 2017 mas… será que tem assim tanto tempo? A captação de novo público está a ser extremamente difícil, mais ainda que a manutenção do actual. Agora fala-se em carros mais potentes, com maior aderência e aerodinâmica que permita que andem mais «colados». Diz-se que os carros devem ser mais difíceis de guiar e até mais arriscados… Cuidado com este caminho! Porque a diversão e o espectáculo poderão até melhorar, mas no dia em que haja uma infelicidade própria de um desporto perigoso – parece que já ninguém se lembra… –, a F1 voltará a ser crucificada como já foi no passado e lá teremos um novo retrocesso na popularidade que tanto busca!


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.