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Na F1 só são possíveis consensos nos… não assuntos!

De entre as dezenas, quiçá centenas, de horas que o famigerado Grupo Estratégico da F1 já passou reunido saiu, finalmente, uma decisão concreta – e não processos de intenções, como as alterações prometidas para 2016 e 2017 – que prevê a redução drástica das instruções que os engenheiros podem dar aos seus pilotos, especialmente no momento da largada, já a partir do G.P. da Bélgica. Embora não seja ainda claro como irá isso ser feito, pelo menos é um ponto em que se conseguiu unanimidade! Aleluia!...

No entanto, mais uma vez a F1 apresenta um acordo claro no que não deixa de ser acessório, continuando sem concordar em aspectos muito mais essenciais. As constantes indicações aos pilotos de como hão-de comandar os seus carros dão má imagem à Fórmula 1, foi a defesa para aquela decisão. Bem, se assim é, acabe-se com as comunicações rádio da «box» para o carro! Como se parte do princípio que não é enquanto estão em pista que os pilotos desejam estar em amena cavaqueira com amigos ou com os seus engenheiros, se estes não podem dar informações então limite-se o rádio à «direcção» piloto-«box»…

Ou restrinja-se a comunicação às tradicionais placas mostradas na recta da meta. Mas mesmo aí, cuidado, porque pode haver mensagens importantes do ponto de vista táctico… Se até em placas tão simples como as usadas no motocrosse (foto 2) se podem escrever instruções tão explícitas…

Tanta coisa importante para discutir e decidir, de forma a melhorar o espectáculo da F1 – depois da corrida de Silverstone até se poderá perguntar se há assim tanto a melhorar… – e perde-se tempo e energia com um… não-assunto. Porque as instruções dos engenheiros para os pilotos são, sinceramente, um não-assunto.

Começa por ser uma discussão de paradoxos. Por um lado, quem manda na F1 quis agradar aos fãs, pondo no ar as comunicações engenheiro-piloto. Comunicações rádio que há longos anos existem, mas em que as instruções não chocavam ninguém porque… não eram ouvidas. Agora que todos as ouvem, dizem-se chocados com o que ouvem? Mas, afinal, julgavam que essas comunicações existiam para quê?!... Chegados aqui, assiste-se à decisão ridícula de, após se ter tornado públicas as comunicações das equipas, ter de regulamentar o que estas podem dizer aos seus pilotos… para não parecer mal!

Irão fazer o mesmo noutras categorias? No Mundial de Resistência, por exemplo, em que as regras referentes ao consumo são bem mais complexas que na F1, exigindo constante auxílio técnico? E deixam que os F1 se tornem cada vez mais complexos de tripular (não estamos a dizer difíceis de guiar) e esperam que os pilotos continuem a lutar roda-com-roda enquanto têm de regular meia-dúzia de parâmetros do funcionamento do seu carro? Sem que ninguém os ajude?

Partindo do princípio – e é desse princípio que devemos partir! – que a F1 continua a ser um desporto, como poderá chocar tanto a figura de «treinador», mesmo que aqui se chame engenheiro?! No futebol o treinador não está constantemente a dar indicações a cada um dos jogadores? Na maratona não há treinadores a seguir os seus atletas de bicicleta, dando-lhes as necessárias informações? No ciclismo, e veja-se na Volta a França que agora começou, não estão os ciclistas ligados via rádio com o director de equipa? Não há até várias modalidades com descontos de tempo para que os treinadores façam alguns ajustes? Porque não pode isso suceder na Fórmula 1, sem que apareça a esfarrapada desculpa de que «os fãs não gostam»?...

Os actuais monolugares de F1 são extremamente complexos. E sem as informações dos seus engenheiros, os pilotos nunca conseguirão extrair tudo o que eles têm para dar o que, ao fim e ao cabo, é o que os fãs que pagam bilhete querem ver… Porque é no muro das «boxes», com um ror de informações à frente e mais uma equipa de técnicos lá atrás, a vigiarem cada componente, que o engenheiro de cada piloto o poderá aconselhar quanto à forma ideal de explorar todo o potencial do seu carro.

Achar que os problemas com que a F1 se debate podem começar a ser resolvidos «calando» o diálogo entre «jogador» e «treinador» é, de facto, começar pelo acessório. Provavelmente para ter uma saída airosa perante os ditos fãs, quando são incapazes de consensos em torno das matérias realmente importantes!


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.