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A «nova F1» será assim tão mais emocionante?

As decisões tomadas, recentemente, pelo Grupo Estratégico da F1 apontam para uma profunda renovação da Fórmula 1, a partir de 2017. O que podem significar todas as alterações propostas?

Comecemos pela primeira mudança adiantada já para o próximo ano, com a escolha livre, por parte das equipas, de dois dos quatro tipos de pneus de seco para cada prova. A Pirelli vai ter uma palavra a dizer, tanto pela complexidade da mudança de logística – uma coisa é levar dois tipos de pneus para todas as equipas, outra é ter de satisfazer os desejos de cada uma – mesmo se, no final, as escolhas não irão diferir muito entre as escuderias. Porque todas as equipas conhecem bem as pistas e sabem o que poderão ou não fazer.

As questões de segurança, aqui, parecem acauteladas, pois a escolha não será totalmente livre. Por exemplo, as equipas estarão impedidas de escolher pneus supermacios para pistas de elevada velocidade como, por exemplo, Monza. Esta era uma das preocupações da Pirelli, pouco interessada em ver-se de novo envolvida em episódios em que os seus produtos estejam no epicentro das discussões sobre segurança (como na Grã-Bretanha-2013).

O regresso dos reabastecimentos, em 2017, pode tornar as corridas em autênticos jogos de estratégia em especial porque, ao contrário do que sucedia antigamente, continuará a haver um limite para combustível a usar. Ou seja, poderá haver estratégias muito distintas, desde os homens que se qualificam na frente, com os pneus mais macios, largarem com pouca gasolina procurando ganhar uma boa vantagem, aos que saem do meio do pelotão com pneus mais duradouros e combustível para mais voltas, preparando um forte ataque no final.

Outra das medidas é tornar os carros 30 a 50 kg mais leves, constando que uma das formas será voltar às caixas de 6 velocidades, levando à utilização de rotações mais elevadas, o que também resolveria (juntamente com um redesenho dos escapes) ao aumento da experiência sonora considerada crucial. Os pneus traseiros mais largos (de 360 mm para 420 mm) e o aumento da largura do carro até dois metros, com asas dianteira e traseira maiores, contribuirão para aumento da aderência e da velocidade em curva.

Por fim, as mudanças de visual, ligadas às alterações aerodinâmicas, poderão tornar os carros mais atraentes mas, por si só, não são garantia de corridas mais emotivas, em especial dependendo da direcção das mudanças aerodinâmicas. Porque se os carros continuarem a não conseguir curvar «colados» (o de trás perde todo o apoio, saindo de frente), então continuaremos a ter poucas ultrapassagens…

Por fim, o incremento da potência dos grupos propulsores V6 turbo híbridos para mil ou mais cavalos será a «cereja no topo do bolo» para uns carros que se pretendem 5 a 6 s mais rápidos por volta. E é aqui que se levantam duas questões. A primeira, abordámo-la no nosso primeiro texto de opinião, há cerca de dois meses: maiores velocidades em curva significam crescimento dos riscos. E se a segurança de carros e circuitos têm aumentado significativamente, este novo passo pode levá-los a níveis ainda não experimentados… Cuidado, pois, em não se ultrapassar barreiras que, felizmente, já nos habituámos a considerar intransponíveis mas que, na verdade, não são. No desporto automóvel, o perigo e os riscos de acidentes graves estão sempre presentes, por muito arredados e esquecidos que andem!

Por fim, irão todas aquelas alterações proporcionar corridas muito mais emotivas? Normalmente, as alterações profundas nas regras levam ao monopólio de uma equipa que tenha descoberto algo mais nas entrelinhas dos regulamentos… Teremos carros mais rápidos e barulhentos, com visual mais arrojado (seja lá isso o que for…), mas garantias de ter várias equipas a lutar pelo título ninguém as pode dar. Até porque nunca foi esse o padrão da F1, desde o primeiro Mundial, em 1950, totalmente dominado pela Alfa Romeo.

Há, contudo, que dar o benefício da dúvida e esperar (desejar!) que os carros de 2017 tornem a F1 ainda mais interessante! Se bem que continue a achar que, se as audiências da F1 caem e se os espectadores se afastam, a culpa não será bem das «performances» dos carros, do seu visual ou ruído… Os problemas estão mais no carácter pouco «amigável» da F1 (e os pilotos estão a trabalhar numa aproximação aos fãs), face a outras competições, e às permanentes polémicas e guerras políticas em que são os próprios responsáveis pela competição a denegri-la!

Mas venham de lá os barulhentos motores de 1000 cv, mesmo se essa experiência é quase imperceptível para quem está no sofá à espera de um bom espectáculo televisivo…


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.