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O lado esquizofrénico do espectáculo da F1

Há coisas difíceis de entender e uma delas é quando os promotores de um espectáculo são os primeiros a dizer mal do próprio espectáculo que promovem… É algo assim um pouco para o esquizofrénico, não?

Pois, se analisarmos com alguma atenção, é isso que tem vindo a suceder com a Fórmula 1 neste último ano, cada vez com maior insistência. Primeiro pela voz de Bernie Ecclestone, «apenas» o responsável pela gestão de todos os direitos comerciais da disciplina, na sua qualidade de executivo em representação da CVC, a empresa que verdadeiramente os detém… Mas, a partir daí, entusiasmados pelas palavras do chefe supremo, vários dos promotores de Grandes Prémios. Os últimos foram os do G.P. da China a reclamar do espectáculo e a pedir mudanças urgentes na F1.

Primeiro era o barulho dos motores que já não furava tímpanos, não sendo, por isso, digno da Fórmula 1, como se a emoção de uma competição se medisse em decibéis. Depois é porque há uma equipa que domina o Mundial e as outras não conseguem lá chegar. Agora, imagine-se, os organizadores chineses descobriram que as equipas pequenas não conseguem lutar com os grandes construtores!

E assim, alegremente, com o beneplácito de Ecclestone, contente por ter os promotores a juntarem-se-lhe no coro de protestos, os que deveriam tudo fazer para atrair o público encarregam-se de pintar de negro o estado actual da disciplina, afastando espectadores e fazendo cair as audiências televisivas. Logo… perdendo dinheiro!

Pontos prévios: equipas dominadoras sempre houve ou, só para ficarmos neste século, já ninguém se lembra dos cinco títulos de Schumacher e dos quatro de Vettel? Equipas pequenas a baterem as grandes sempre foi excepção, nunca regra e sê-lo-á cada vez mais, atendendo aos orçamentos galopantes e à forma como as regras são controladas… pelas grandes. Ecclestone e os promotores não são propriamente amadores que andem aos «tiros nos pés», matando a sua própria «galinha dos ovos de ouro» por masoquismo ou incompetência…

Que se passará então? Que há uma guerra surda entre Ecclestone e o presidente da FIA, Jean Todt, que desenhou a actual regulamentação, já se percebeu há muito. Mas isso parece não chegar para explicar esta estranha forma de (des)promover a F1. Conta-se uma história (que não passa de «má língua») que uma eventual desvalorização da F1 viria mesmo a calhar para Ecclestone recuperar o seu controlo quando a CVC a colocar em Bolsa… Mas isto são apenas especulações.

Até lá, continuaremos a assistir a este estranho espectáculo de toda a gente a dizer que a F1 tem de mudar, sem que ninguém explique exactamente como nem quando – tirando algumas ideias polémicas e quase meio lunáticas do octogenário Ecclestone… –, ao mesmo tempo que vão afugentando a «clientela», enquanto se lamentam das quebras das receitas. A lista de espera para Psiquiatria é muito longa?...


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.