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Pilotos da Mercedes lutam com toda a liberdade… condicional

Desde sempre que a direcção da equipa Mercedes assumiu como ponto de honra a liberdade que dava aos seus pilotos de lutarem livremente entre si, sem ordens de equipa, a não ser a da existência de um mínimo de bom senso que pusesse os interesses colectivos acima dos individuais. E assim foi sempre que Hamilton e Rosberg se encontraram em pista, a discutir posições, a lutar «roda com roda».

Casos bem recentes foram os dos arranques no Japão e nos Estados Unidos em que Hamilton não foi nada meigo com o colega de equipa, levando-o até a perder vários lugares… E nos dois últimos Grandes Prémios, México e Brasil, vimos dois pilotos a forçarem ao máximo o andamento, com o perseguidor (Hamilton nos dois casos) a tentar levar o líder (Rosberg) ao erro que lhe desse a vitória. Entre os dois sempre houve, de facto, fortes e livres duelos em pista, com toda a liberdade.

Mas estas duas últimas provas do Mundial também mostraram que a liberdade que a Mercedes dá aos seus pilotos tem vários limites e que a própria equipa manobra muito bem nos bastidores para garantir ausência de polémicas e um clima quase laboratorialmente imaculado! «Às vezes estou na posição de treinador de futebol, tenho de manter o grupo todo coeso e não são só os pilotos, é toda a gente, dos dois lados da garagem», admitiu o director da equipa, Toto Wolff.

Para começar, os pilotos são livres de lutar em pista… desde que mantenham as mesmas estratégias e, salvo ameaça de terceiros, com o primeiro em pista a ter prioridade na escolha da altura em que pára nas «boxes». Ou seja, e já assistimos a isso, perante a superioridade dos Mercedes, o piloto que vai à frente pode adiar tanto a paragem que, quando o faz, o colega de equipa já não tem pneus em condições para atacar a fundo na volta a mais que fica em pista…

Tanto no México como no Brasil, Hamilton quis apostar numa mudança de estratégia face ao que Rosberg estava a fazer, única hipótese de, eventualmente, conseguir alterar o rumo dos acontecimentos. Nem pensar!, foi ordem bem clara da equipa… «Se começamos a dividir as estratégias, a controvérsia que criamos na equipa é má. Porque haverá sempre um que vai ter a estratégia boa e outro que fica com a má. Começamos a ter divisões e um a ver o outro como inimigo…», justificou Wolff, desprezando o facto de o jogo estratégico ser parte tão importante da corrida como o acelerar, travar e curvar.

E nem mesmo no Brasil, onde os dois Mercedes dominavam e com ambos os títulos decididos, houve uma excepção! «Eu sei, do ponto-de-vista do fã faria sentido, mas a minha posição é… tornar tudo aborrecido!», assume Wolff. «Queremos criar um precedente que teremos de resolver no próximo ano porque o fizemos no Brasil? Não me parece…». Ou seja, lutem se se encontrarem em pista, mas apenas com o volante, acelerador e travão, escusam de pensar demasiado noutros recursos que tudo vos está vedado…

Mas em Interlagos o controlo férreo que o muro das «boxes» exerce sobre o duelo Rosberg-Hamilton foi ao mais ínfimo detalhe! Primeira troca de pneus, o alemão pára quando tem cerca de 2 s de avanço para o britânico mas, quando vai a sair, entra o Ferrari de Vettel nas «boxes» e a equipa tem de o aguentar na posição para não haver uma saída perigosa que resultaria em penalização. Resultado: 4,4 s de paragem e o 1.º lugar em risco. Coincidência das coincidências… a paragem de Hamilton não foi das melhores e demorou 3,6 s, conseguindo Rosberg manter a liderança! Segunda troca de pneus, o alemão parou 2,7 s contra 2,4 s do britânico, desta vez nada correu mal aos mecânicos da Mercedes…

Como se vê, a liberdade que Rosberg e Hamilton têm para se bater um com o outro existe, é verdade, mas é muito… condicional. Podem lutar pela posição em pista dentro de condições muito estritas e, por vezes, até controladas pela equipa. E isto foi válido em duas épocas em que, basicamente, correram sozinhos… Veremos se, um dia que tenham concorrência à altura e os títulos estejam a ser disputados por outra equipa e outro piloto, as ordens de equipa não acabarão por surgir. O que, faça-se a devida ressalva, em certas circunstâncias é até algo de naturalíssimo!


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.