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Para quê complicar quando o «simples» funciona tão bem?...

Dois dias passados sobre o G.P. do Mónaco, e apesar das explicações avançadas, a pergunta continua no ar: mas que raio terá levado a Mercedes a chamar Hamilton às «boxes» quando o «safety car» entrou em pista, afastando-o de uma vitória há muito anunciada?!

Sim, houve um erro de cálculo relativamente à vantagem real do campeão do Mundo que falhou por 3,5 s, o suficiente para ser passado «in extremis» por Rosberg e Vettel. Provavelmente causado pelo facto de Hamilton ter chegado muito antes à traseira do «safety car», tendo de andar mais devagar enquanto os outros dois continuavam a fundo, ganhando-lhe muito tempo. Mas, que diabo, nada disto explica como uma equipa tão experiente e ganhadora como a Mercedes comete erro tão grosseiro…

A minha opinião é que… na Fórmula 1, por vezes, pensa-se demais! Há demasiados dados, cálculos em excesso, ideias peregrinas em catadupa, computadores «às paletes». E, com alguma frequência, os envolvidos nas decisões mais importantes acabam por se esquecer dos princípios mais básicos das corridas: a ideia primeira é largarem todos ao mesmo tempo e ver quem chega primeiro, só isto… Se, depois, para o conseguir, for preciso ser mais ou menos criativo na estratégia para compensar alguma fragilidade, isso é outra coisa que virá sempre a seguir ao raciocínio básico: partir e chegar à frente.

Ora dá ideia de que a Mercedes, naquelas fracções de segundo em que, segundo Niki Lauda, houve grande confusão de conversas, dando a entender o cruzamento de muitos «palpites», foram esquecidos dados básicos cruciais e para os quais não são precisos computadores nem sofisticado «software»:

1 – Este é o ponto La Palice: Hamilton estava na frente e assim continuaria após a saída do «safety car» da pista. Ou seja, a primeira posição em pista estava sempre assegurada.

2 – A Ferrari não dava qualquer sinal de preparar uma jogada de «boxes», confessando-se até muito surpreendida quando viu Hamilton parar. Claro, não passava pela cabeça de ninguém…

3 – O problema de ter os pneus muito frios quando a corrida recomeçasse era tão grave para Hamilton quanto para Rosberg e Vettel. Com a vantagem de, sem ninguém à frente e com a virtual impossibilidade de ser ultrapassado (corria-se no Mónaco, certo?), o britânico poder estabelecer o ritmo que mais lhe interessasse para aquecer rapidamente os pneus, tendo os outros de se limitar a segui-lo.

4 – Mesmo que a Ferrari decidisse montar pneus supermacios novos a Vettel, isso não o tornaria numa ameaça. Porque podia também perder posição em pista e, se tal não sucedesse, não teria forma de passar Rosberg, quanto mais Hamilton. Viu-se como o campeão do Mundo, com os tais pneus novos, foi totalmente impotente para passar Vettel com os pneus frios e velhos…

«It’s Monaco, stupid!», quase apetece gritar! Ao menos conheçam a história do desporto em que competem ao mais alto nível… Mónaco-92: Mansell com o Williams/Renault muitíssimo mais competitivo persegue Senna num McLaren/Honda, voltas e voltas com o bico do carro «enfiado» na caixa de velocidades do do brasileiro. Que, impávido, nunca deu qualquer hipótese ao britânico que cortou a meta, frustrado, a 0,2 s! Não é preciso o talento genial de Senna para defender uma posição no Mónaco e Hamilton não é propriamente desprovido de jeito…

Com tantos dados, tantos engenheiros, tantas mentes, a Mercedes complicou quando era facílimo ter deixado Hamilton ganhar a corrida que ele tanto mereceu vencer: bastava não fazer nada!

Querem ver uma corrida simples com fabuloso resultado? Olhem para Carlos Sainz, estreante a guiar um F1 no Mónaco e a ter de largar das «boxes» quando todo o pelotão já ia na subida para o Casino. Antes da partida ouviu-se o engenheiro dar a táctica ao espanhol: «Anda o mais depressa que puderes e tenta ganhar lugares». Dá vontade de rir, não dá? Que coisa mais óbvia, é para isso que ele lá está, são os fundamentos básicos de uma corrida!

Pois… A ordem risível resumia, afinal, os princípios de uma corrida muito simples, sem inventar, com a estratégia mais banal que imaginar se possa: andar o mais possível com os pneus macios, procurar não cometer erros e deixar os mais rápidos supermacios para o fim, quando o carro já está mais leve. Resultado: brilhante! O estreante Sainz saiu das «boxes» – ou seja, um 20.º… já atrasado – e acabou na 10.ª posição. Às vezes esquecemo-nos de como a Fórmula 1 pode ser tão simples…


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.